Transformar as comunidades locais em agentes de preservação

Discutir as paisagens das cidades com um viés político e inserir as comunidades locais como agentes de preservação foram as ideias trazidas pela segunda mesa do Seminário “Futuros Sustentáveis – Não deixe ninguém pra trás”. “Temos que inserir os quilombos, as favelas e toda essa comunidade periférica na agenda climática. Esses territórios podem ser um ativo de neutralização, o início do repensar as formas de ocupar. Mas para isso, precisamos admitir que o Brasil não tem os mesmos recursos financeiros dos países do norte, por exemplo, e que é necessário inserir dinheiro no fundo climático e criar uma agenda internacional coletiva”, afirma a vereadora do Rio de Janeiro (RJ), Tainá de Paula. A mesa ainda contou com a participação da professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP) Luciana Schenk, do arquiteto e urbanista Carlos Fernando Leão Andrade e da professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (PPG-FAU/UnB) Liza Andrade, que destacou a importância de uma Assistência Técnica descentralizada e a presença do arquiteto em diferentes campos.

Compreender que a arquitetura de paisagem também precisa fazer parte das soluções urbanas foi a pauta trazida por Luciana. Por conta do crescimento das cidades e do concreto como forma de progresso, inúmeros são os municípios que precisam ser repensados. “É hora de, enquanto profissionais, reformular os planos e traçar projetos dos espaços livres, não só para democratizar os espaços, mas como forma de combate aos desastres climáticos. Desenvolver parques urbanos, esverdear as ruas e dialogar com quem habita os lugares”, salienta. A profissional apresentou um projeto de planejamento na cidade de São Carlos, em São Paulo, que sofre anualmente com as chuvas. O município, que foi construído com uma canalização de córregos no ponto mais baixo do território, precisa passar por um “reflorestamento” para solucionar os problemas hídricos e a retenção de água.

Com a ideia de que faltam recursos para a luta climática, Andrade destacou que a preservação não é consensual nas cidades e que é preciso debater quais valores devem ser conservados. “O Estatuto da Cidade, por exemplo, é mais fácil de aplicar quando o capital imobiliário é dinâmico e quando o município tem recursos. Algumas soluções só são possíveis de debater se há capital. Até porque, além do debate econômico, também há o tombamento do imaterial, do pertencimento, da história das comunidades e dos locais”, destaca.

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