Assumir o impacto ambiental da arquitetura e repensar os territórios coletivamente

“Os países colonizadores precisam pagar a conta pela desigualdade social gerada pela exploração territorial. Até o final do século passado, nós tínhamos inúmeros países colônias espalhados por todo mundo e esse ‘proveito’ tem seu preço ambiental e econômico”. A frase do arquiteto e urbanista Cid Blanco é o início da agenda brasileira que deve chegar nas terras dinamarquesas em 2023 para o Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA). O documento, que deve ter como tema central o impacto da arquitetura e a necessidade de se repensar os territórios coletivamente, é o resultado do seminário “Futuros Sustentáveis – Não deixe ninguém para trás”, promovido pelo Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU) nesta terça-feira (13/12), na sede do CAU/RJ. A primeira mesa, mediada pelo diretor da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (AsBEA) Carlos Eduardo Nunes Ferreira, ainda contou com a participação da professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Ana Claudia Duarte Cardoso e do Conselheiro Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Nivaldo Vieira de Andrade Júnior.

O debate, que procurou mensurar os impactos causados pela arquitetura nas últimas décadas, ainda buscou encontrar possíveis soluções dentro dos territórios. Andrade Júnior, que tem uma atuação ligada ao patrimônio histórico, deu como exemplo a importância de se incluir a população e as comunidades locais quando o assunto é a preservação. “Todo o debate que envolve o patrimônio, seja histórico ou cultural, é muito segregacionista. Toda construção, mesmo aquela tombada, precisa cumprir com sua função social, isso é, precisamos falar da reocupação dos centros históricos. O Minha Casa Minha Vida acabou gerando periferias isoladas e criando entraves para uma população que tem sua sobrevivência ligada aos centros urbanos. A gente precisa levar essa gente de volta, isso facilita a vida do cidadão e dá sentido às nossas cidades”, explica. O profissional ainda destacou que o patrimônio precisa ser discutido além do nível artístico e que a presença dos grupos e comunidades locais é uma maneira de preservar o valor afetivo, a memória e o pertencimento do povo e dos municípios.

Pensando na presença da população em espaços de convívio, Ana Claudia afirma que é necessário repensar os planos diretores integrando e mantendo as áreas rurais dos estados. “Quando modificamos a flora nativa, tiramos uma comunidade que há anos fazia uso da terra e colocamos ela nas encostas das cidades. Isso afeta todo o ciclo de vida, a alimentação e tira o direito ao verde e ao sustento de inúmeras famílias”, afirma. De acordo com ela, o debate dos direitos da natureza deve estar em pauta na agenda de preservação, para que seja possível desenvolver soluções a partir de uma vivência local. “A urbanização não é a única coisa que gera crescimento. As áreas de floresta e plantação, principalmente no norte do Brasil, são economia e é pertencimento”.

A abertura do evento contou ainda com a presença da presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e atual coordenadora do CEAU, Eleonora Mascia, a presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, que destacou a importância da presença brasileira e a vivência latino-americana em um Congresso mais eurocêntrico como o da UIA 2023 e da presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil), Nadia Somekh.

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