Combate à desigualdade social e preservação ambiental são chaves contra a pandemia

São muitos os desafios que a pandemia de Covid-19 impõe à sociedade e ao trabalho dos arquitetos e urbanistas. Porém, dois deles são cruciais para avançar contra o vírus: combate constante à desigualdade social e preservação ambiental. Esses foram os principais pontos destacados pelos participantes de live que integra a programação do 44º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (Ensa), na noite de terça-feira (01/12). A transmissão, realizada pelo Youtube, contou com a participação da ex-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) Valeska Peres Pinto, que lançou a dúvida aos cerca de 70 profissionais que acompanhavam o debate: “Como vamos resolver o problema de desigualdade se não colocarmos na nossa agenda as pessoas vulneráveis?”.

Valeska se mostrou preocupada com a ausência dos arquitetos e urbanistas nas comunidades e zonas vulneráveis pois, para ela, é necessário que a classe esteja onde o problema está. “Vamos ter que tirar o salto alto e calçar a sandália para trabalhar nas comunidades. Temos que ir às pessoas e nos somar. Porque é ali, no plano da comunidade, que vai acontecer a educação, que vai se descobrir os mecanismos de autodefesa e solidariedade”, alertou. Para ela, é preciso que o exercício da profissão mude, porque, só assim, se consegue mudar os seus paradigmas.

Nessa mesma lógica, o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, afirmou que a participação popular é essencial para combater essa e as próximas epidemias que estão por vir e defendeu vacinação para todas as pessoas da nação. “No âmbito federal, estadual e municipal, encontramos gestões que não gostam da participação popular”, denunciou. Expondo o descaso do Governo Federal, Pigatto fez menção aos testes de Covid-19 parados nos estoques, que estão com o prazo de validade vencendo e que somam, em número, mais do que os testes já realizados na população. “Como a gente sabe quem está adoecendo e morrendo? Temos que tratar da realidade para poder enfrentar a realidade”, conclamou.

Também destacando a importância da participação na população no processo de combate à pandemia, o arquiteto e urbanista Nilton Bahlis dos Santos e pesquisador na Fiocruz, se mostrou pessimista sobre o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 no curto prazo. “A vacina não vai funcionar porque temos um vírus mutante. Ou passamos a entender como se lida com essa e outras epidemias, ou a humanidade será destruída”, sentenciou. Para Santos, o caminho deve ser de educação e transformação na rotina da sociedade. “Temos que voltar à fase inicial do desenvolvimento da vacina: apostar na educação das pessoas e na capacidade de mudar o modo de vida”, afirmou, sobre as aglomerações e atividades sociais, que foram afetados por conta da possibilidade de contaminação.

Mediando o debate, o secretário da FNA Ormy Hütner Jr. destacou o fato de que, desde o século XIX, os urbanistas travam batalhas pelas questões de saúde, de readequação e melhoria das condições de vida no Brasil. Para o arquiteto e urbanista, a Covid-19 é só mais um entrave sanitário que a sociedade enfrenta em meio a outros tantos. “Se a gente imaginar que a crise da pandemia venha ser superada, a crise socioambiental vai continuar existindo. Dengue, tuberculose, poluição do ar estão aí. São questões que não chamam a atenção dos gestores públicos”, pontuou.

A live completa pode ser conferida no link https://www.youtube.com/watch?v=OGwPKg73TO8.  O Ensa é uma promoção da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas e conta apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). A programação segue até domingo (6/12).

 

No Chat

Confira aqui alguns comentários que chamaram atenção no chat da live:

Eleonora Mascia
‘Essa reação do movimento social, no qual estão incluídas as entidades de representação dos trabalhadores, é fundamental para defendermos políticas públicas de prevenção e combate à pandemia. As novas relações de trabalho terão que ser regulamentadas, considerando os novos desafios. Mudanças profundas e muito rápidas no modo de morar, se deslocar, trabalhar e conviver em comunidade.’

Sarah Rubia Nunes
“Vem surgindo diversos movimentos populares de enfrentamento à Covid, onde a comunidade se reorganiza de modo a sobreviverem, tanto com informações como acesso a cuidados preventivos de saúde coletiva. Os ricos são minoria, a grande massa está confinada nas favelas e periferias e é pobre. São os mais vulneráveis e são as catracas da economia.”

Ângelo Arruda
“O que temos pela frente é muito desconhecido e temos de ter muita paciência para elaborarmos processos e projetos para esse tal novo normal.”

Jéner Pontes de Oliveira
“O novo mundo é assustador… mas está aí e não é subjetivo, ou “você” se adapta ou morre. Respeitar o ideal deixou de ser opcional para ser sobrervivencial…”

Marineia Lazzari
“O clima está na pauta dos empreendedores e investidores (dos grandes). Esta pauta tem que entrar no campo das cidades”

Andréa dos Santos
“Precisamos estar nos espaços de construção das comunidades. desde a moradia, mas questões de saneamento e na construção colaborativa da melhor adequação dos espaços mais saudáveis.”

Eleonora Mascia
“O SUS foi conquista da Constituição de 88 e se manteve porque não conseguiram derrubar a lei. campanha em defesa do SUS e derrubada da PEC da Morte.”

Sinarq MG
“Viva a crítica. E a sua permanência…”

Sarah Rubia Nunes
“As doenças crônicas têm sido negligenciadas e isto está causando uma série de problemas ao SUS, porque superlota as emergências e as UTIs somando aos casos de Covid.”

Imagem: Reprodução Youtube

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