Verticalização verde: impactos no nível do solo e na paisagem urbana

Com o adensamento das cidades e redução da disponibilidade de solo, o fenômeno da verticalização tem se intensificado nas cidades de todo o mundo. Assim como a verticalização de edifícios — que costuma dividir opiniões de arquitetos e urbanistas — muitas iniciativas têm buscado na dimensão vertical uma possibilidade para promover a presença do verde nos centros urbanos. Jardins, fazendas ou florestas verticais, hortas em coberturas e estruturas suspensas para agricultura urbana são algumas das possibilidades de verticalização do cultivo de espécies vegetais, cada uma com suas especificidades e impactos específicos para as cidades e seus habitantes.

Mas seria a verticalização a solução ideal para tornar as cidades mais verdes? E quais são os impactos dessa ação nos centros urbanos? Ou ainda, quais os benefícios da vegetação que são perdidos ao adotar soluções em altura, ao invés de promover seu cultivo diretamente no solo?

Em cidades com pouca disponibilidade de terrenos livres, como Tóquio e Nova York, fazendas verticais e coberturas verdes têm se multiplicado com o intuito de aproveitar espaços subutilizados para a produção de alimentos e promoção da segurança alimentar. Em Nova York, a cada ano, mais de 36 toneladas de vegetais orgânicos são cultivados no topo de edifícios, em um sistema que além de produzir alimentos contribui para que muitos poluentes não cheguem aos rios da cidade. Enquanto isso, na capital do Japão o projeto Sodaro Farms construiu pomares nas coberturas de estações de trem com livre acesso para a população e um edifício de escritórios transformou sua fachada em uma fazenda vertical.

Projetos como estes são exemplos de como o cultivo de diferentes espécies vegetais — voltadas para o consumo humano ou não — pode ser introduzido de maneira alternativa àquele feito diretamente no solo. Ainda que a “verticalização” possa assumir diferentes configurações a depender da estrutura utilizada, das espécies cultivadas e do contexto em que é inserida, estas soluções têm em comum a otimização dos espaços para a promoção de áreas verdes — mesmo que sua ocupação horizontal seja a mínima possível. Nesse sentido, os impactos da vegetação para as cidades, já muito conhecidos, adquirem uma nova dimensão a partir da verticalidade. Redução das ilhas de calor, aumento da biodiversidade, promoção da segurança alimentar, melhora da qualidade do ar, redução nas emissões de CO2 e outros impactos positivos do verde nas cidades são potencializados a partir destes modos alternativos de cultivo.

As “florestas verticais”, como são chamados os edifícios que nos últimos anos têm incorporado espécies arbóreas ao longo de toda sua altura, são mais um exemplo de verticalização de áreas verdes, e têm ganhado cada vez mais fama e prestígio, atingindo selos de sustentabilidade e inovação a nível internacional. O Bosco Verticale (2014), considerado o primeiro projeto de floresta vertical construído no mundo, projeto do escritório italiano Boeri Studio em Milão, já foi premiado internacionalmente pelo Deutschen Architekturmuseums com o International Highrise Award (2014) e pelo Council for Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) como melhor edifício em altura do mundo (2015).

Além dos benefícios das espécies vegetais para os espaços internos do edifício e para a cidade em geral, o Bosco Verticale se destaca também pela variação das folhagens ao longo do ano, produzindo um efeito estético único para o edifício.

Mas, apesar de todas as vantagens da verticalização de espécies vegetais, alguns dos principais benefícios que as áreas verdes podem trazer para as cidades — como a drenagem dos solos, redução de riscos de deslizamentos de terra e promoção de áreas sombreadas — são perdidos com a sua elevação do solo. Isso não quer dizer, no entanto, que a verticalização do verde não deva ser praticada ou incentivada, mas sim que, por si só, não é suficiente para promover mais benefícios a nível do solo e tornar as cidades mais “verdes” no sentido mais amplo do termo.

O arquiteto Lloyd Alter pondera que esse modelo de “esverdeamento” pode trazer condições ruins para as árvores pelas condições atmosféricas a grandes alturas e pela eventual falta de espaço para crescimento das raízes. Por esses motivos, a prática deve ser bem estudada em diversos sentidos, com estruturas apropriadas para suportar o peso e prever o crescimento das espécies — o que, desconfia Alter, pode levar a uma situação em que o CO2 liberado na produção do concreto para as jardineiras nunca consiga ser totalmente absorvido pelas árvores que suportam.

Como responsáveis por três quartos das emissões globais de gás carbônico no mundo, os espaços urbanos certamente devem ter um papel central na redução dos impactos ambientais no planeta. Enquanto alternativa para promover mais espaços verdes nas cidades e trazer impactos positivos para seus habitantes, a verticalização tem atraído olhares de muitos arquitetos e urbanistas para propor soluções inovadoras em cidades cada vez mais densas e com menos espaços disponíveis. Nesse sentido, a verticalização pode ser uma boa alternativa para esverdear espaços já construídos e otimizar a produção de espécies vegetais, mas não substitui a importância e os benefícios da ocupação das áreas verdes no solo.

Fonte: Archdaily 

Foto: Paolo Rosselli

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