O uso de robôs na realização de projetos é uma realidade que promete agilizar o trabalho de arquitetos e urbanistas nas próximas décadas, mas que também pode se tornar um tanto ameaçador. O alerta foi feito pelo arquiteto e urbanista Alexander Justi, do Grupo AJ, de Brasília (DF), durante a live #5 da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) que tratou do tema “Arquitetura e Urbanismo no Mundo Digital”. Segundo o profissional, já existem sistemas onde o cliente pode adicionar seu plano de necessidades e o projeto é feito totalmente por inteligência artificial. “Isso tende a ser algo com que, logo em breve, teremos que trabalhar em conjunto. O que preocupa é se essa for uma solução voltada ao cliente final, o que representa a eliminação do arquiteto”, ressaltou.
Mediada pela ex-presidente e conselheira da FNA Valeska Peres Pinto, a live também contou com a participação do arquiteto e urbanista Fernando de Lacerda, do Arquea Arquitetos, de Curitiba (PR). O profissional falou sobre a mudança na formatação dos escritórios de arquitetura pós-pandemia, uma vez que acredita que o regime de home office se torne uma tendência. Em seu escritório, conta Lacerda, a ação já é muito digital. Situação também vivida por Justi que pensa até em reformular o espaço físico devido à nova realidade.
Lembrando da evolução pela qual a profissão passou nos últimos anos, Justi citou três fases bem evidentes quanto à tecnologia. O período analógico, com produções em prancheta; a fase do AutoCAD, com a automatização dos processos; e, atualmente, com o uso do BIM. A ferramenta, segundo ele, agiliza o trabalho do arquiteto e urbanista porque otimiza o tempo do projetar e delega ao software o primor no resultado gráfico. “A velocidade foi conquistada a partir do momento em que se passou a trabalhar com tecnologia da informática. E com a chegada do BIM isso se amplificou. Hoje conseguimos desenvolver projetos de larga escala com facilidade em função dos processos automatizados que o BIM oferece em seus softwares”.
Além de mais qualidade na computação gráfica, o BIM também reduz as chances de erro, uma vez que interliga diferentes etapas do projeto e promove ajustes automáticos. Apesar de todos os benefícios, Justi é categórico ao defender o uso de maquetes para permitir ao cliente visualizar o tridimensional. “Às vezes não adianta oferecermos a melhor tecnologia de computação gráfica 3D, realidade virtual aumentada, que a pessoa não vai entender. Sendo assim, por vezes, uma situação tradicional, como a maquete faz muita diferença. Poder pegar na mão, girar, tirar o telhado, visualizar o projeto”, exemplificou Justi.
O arquiteto e urbanista da Arquea acredita que “a tecnologia ajuda a oferecer um serviço de qualidade com tempo menor. E, com isso, se ganha tempo, que pode ser utilizado para melhorar o projeto. É possível diminuir o tempo de produção e ter um pouco mais para pensar”. Respondendo às dúvidas sobre a possibilidade de substituição de profissionais pelos novos sistemas rebateu: “O software processa, mas não pensa”.
Justi afirmou que a tendência é o trabalho integrado por diferentes áreas (arquitetura, engenharias, orçamento e cliente) de forma virtual e citou o uso de ferramentas de gestão de projetos e tarefas para garantir harmonia nessa relação. “O BIM antecipa os problemas, traz as equipes antes ao processo para trabalhar de forma colaborativa e multidisciplinar e não leva problemas para as obras”. Os ganhos que se vivenciará no setor corporativo também devem vir no setor público, incluindo aprovação de projetos de forma virtual, minimizando erros e reduzindo a burocracia. Justi lembrou que há uma Frente Parlamentar do BIM no Congresso Nacional que pretende incorporar a tecnologia como elemento obrigatório nos agentes públicos.
Na ocasião, Valeska desafiou os participantes a projetarem o que é o novo normal em arquitetura e urbanismo. Lacerda pontuou as adaptações que os projetos sofrerão por conta da tendência de home office. “O trabalho vai entrar nas casas e isso pode ocorrer sem grandes alterações”.
Confira a live completa clicando aqui.