Reutilização de espaços urbanos abandonados pode ser ferramenta para reduzir desigualdade socioespacial

Com as mudanças econômicas e sociais cada vez mais rápidas na sociedade, a crescente urbanização, a globalização e a desindustrialização, as desigualdades socioespaciais e a valorização de áreas específicas em detrimento de outras estão mais evidentes, o que levou espaços que antes funcionavam para habitação, comércio ou indústria, ao abandono e à subutilização. Estes lugares têm grande potencial para serem redirecionados e ganharem novas funções que beneficiem a comunidade, entretanto, a desarticulação entre poder público e planejamento urbano tem dificultado esse processo.

Os bairros periféricos e as comunidades vulneráveis de baixa renda são os grupos que mais têm o seu direito à cidade e moradia comprometidos, e que, portanto, poderiam ser beneficiados por projetos de redirecionamento de imóveis subutilizados para função social, buscando garantir não somente moradia digna, como também lazer, práticas esportivas, espaços de cultura e interação social.

O arquiteto e urbanista Kazuo Nakano explica que no Brasil há diversos fatores que levam à subutilização e ociosidade de espaços nas cidades. Entre eles estão a retenção especulativa de terras, edificações e localizações urbanas, que aguardam uma exploração e valorização econômica, assim como a deterioração e a degradação de áreas mais antigas e localizações que se encontram em trâmites judiciais que ficam impedidos de serem utilizados.

O profissional também ressalta que promover nova destinação para esses espaços é muito positivo para toda a cidade, “Evita desperdícios e um espraiamento horizontal periférico das cidades, o que, geralmente, leva a processos de segregação, gentrificação, distanciamento e encarecimento da implementação. Quando a cidade é muito fragmentada, os sistemas de serviços, equipamentos e infraestruturas ficam mais caros, atendendo menos pessoas”, explica o arquiteto.

Por fim, Kazuo alerta que o aproveitamento e utilização dessas áreas não seja realizado para atender somente aqueles com maior poder aquisitivo. “É importante que a gente tenha no plano de aproveitamento de áreas ociosas subutilizadas mecanismos de inclusão socio-territorial de populações vulneráveis e de baixa renda, por meio de mecanismos de inclusão, provisão habitacional, interesse social  e provisão de serviços, de modo a promover justiça social e espacial”, destaca ele.

Portanto, a profissão da arquitetura e urbanismo, quando voltada ao cuidado com as cidades e com a população, pode ser uma ferramenta transformadora de realidades, promovendo espaços justos, acessíveis e igualitários para toda a sociedade. Desta forma, também, cria-se um senso de pertencimento, propiciando o desenvolvimento de uma futura população preocupada com os espaços que habitam e consciente dos seus direitos nos bairros e municípios que vivem.

Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

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