Patrimônio cultural: carreira em prol da preservação

Atuando há 15 anos com obras de restauro e preservação do patrimônio, a arquiteta e urbanista Sandra Rafaela Magalhães Corrêa encontrou na área uma oportunidade de realização profissional e pessoal. Começou no setor privado e hoje é coordenadora do Departamento de Patrimônio Material do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Brasília. Natural de Curitiba, no Paraná, Sandra é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná. Em 2004, ano seguinte à formatura, foi para a Bahia fazer especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (Cecre) pela Universidade Federal da Bahia. Na época, retornou para sua cidade natal e seguiu atuando em escritório especializado em projetos de restauração, onde deu seus primeiros passos na área de patrimônio. Ingressou na empresa como estagiária em 2001 e permaneceu até 2006, quando ingressou por meio de concurso no quadro técnico do IPHAN.

 

O primeiro desafio enquanto servidora pública foi a mudança para Sergipe, onde passou a integrar a divisão técnica da Superintendência do IPHAN no Estado. Começou acompanhando todas as atividades relacionadas à cidade histórica de Laranjeiras, que possui conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico tombado desde 1996. Era de sua responsabilidade elaborar projetos de restauração e fiscalizar a execução das obras, além de acompanhar tecnicamente o trabalho da Oficina Escola. O projeto, realizado em parceria com o município, tem como objetivo incluir alunos no processo de revitalização do patrimônio e monumentos da cidade.

 

Sandra também realizou um importante trabalho relacionado ao conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de São Cristóvão, que concentra o maior número de ações do IPHAN em Sergipe. Os primeiros tombamentos ocorreram na década de 1940 e o conjunto foi tombado em 1967. “Quando foi tombada, era uma cidade muito íntegra na sua preservação arquitetônica. Ao mesmo tempo, eram processos muito sumários”, recorda a arquiteta e urbanista. Foi neste contexto que ela atuou na rerratificação do tombamento da cidade de São Cristóvão, juntamente com Hilário Figueiredo, historiador, e Joseane Brandão, antropóloga. Na ocasião, foi delimitada a área de tombamento, informação esta que, antes, não constava no processo.

 

Em 2009, Sandra mudou-se para Brasília onde passou a desenvolver trabalho em âmbito nacional, coordenando um grupo com representantes de várias superintendências do IPHAN. Desta vez, o desafio foi a padronização dos procedimentos de fiscalização do IPHAN. No ano seguinte, veio o resultado com a publicação de duas portarias: a 187/2010, que prevê a aplicação de multas para atividades que lesam ao patrimônio cultural edificado; e a 420/2010, que estabelece fluxos, prevê procedimentos para aprovação de projetos e faz a classificação dos tipos de obras que podem ser realizadas em centros históricos. Foi nesse período que assumiu a Coordenação de Fomento e Fiscalização, na Coordenação-Geral de Bens Imóveis do IPHAN.

 

Desde 2013, é coordenadora no Departamento de Patrimônio Material (DEPAM) do IPHAN, setor que zela pela preservação do patrimônio cultural brasileiro de natureza material. Sandra é coordenadora da ação de financiamento de obras que visam a recuperação de imóveis privados. Atualmente, o programa está sendo executado em oito cidades: Marechal Deodoro (AL); Aracati, Fortaleza, Sobral e Viçosa do Ceará (CE); João Pessoa (PB); Olinda (PE); e Parnaíba (PI). Com esta iniciativa, o objetivo do IPHAN é contribuir para a requalificação urbana das áreas protegidas pelo governo federal como patrimônio cultural brasileiro.

 

O mercado de preservação do patrimônio arquitetônico

 

A importância de projeto que detalhe as intervenções que serão feitas em uma obra de preservação do patrimônio fica evidente na rotina de Sandra. “É importante que a sociedade perceba a relevância de ter um profissional habilitado para elaborar a documentação necessária”, destaca a arquiteta e urbanista. O IPHAN não exige que o profissional responsável por elaboração de projetos e execução de obras tenha especialização em patrimônio, porém é comum que muitas propostas cheguem sem o embasamento necessário para que as intervenções sejam aprovadas.

 

Tal realidade faz com que a instituição tenha maior preocupação com a qualidade dos projetos. “Percebemos uma qualificação cada vez mais deficitária dos profissionais e empresas”, alerta Sandra. Na avaliação da especialista, este é um problema que tem origem no currículo das universidades brasileiras. “Um profissional com formação básica qualificada, com elementos básicos de patrimônio, poderia ter condições de elaborar bons projetos”, avalia. Lembra, no entanto, que, em determinados casos, é necessário ter conhecimento específico da área, em especial para monumentos mais complexos e com problemas de conservação que não se relacionam apenas a questões de manutenção. Outro agravante é a falta de profissionais habilitados atuando em municípios pequenos.

 

Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília desde 2012, Sandra é uma das autoras dos livros Igrejas ucranianas: arquitetura da imigração do Paraná e Igreja de São Miguel Arcanjo: restauração arquitetônica.

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