Negros nas Universidades: Ingresso x Formatura

A população negra e parda no Brasil atingiu o percentual de 56,1%, segundo dados do IBGE de 2022. Mesmo sendo a maioria no nosso país, essa grande parcela da população é minoria dentro das universidades. Ao todo, são 48,3% na soma entre instituições públicas e privadas.

Porém, analisando um cenário pós-formatura, estes dados se tornam ainda mais alarmantes. Apenas 4,33% dos profissionais de arquitetura e urbanismo brasileiros se autodeclaram negros, aponta pesquisa realizada pelo CAU/BR em 2020. Além disso, 27% dos arquitetos desempregados são mulheres negras. Ou seja, os negros são minoria, também, nas empresas. Além disso, mulheres negras sofrem 16 vezes mais assédio sexual no ambiente de trabalho.

Falando sobre remuneração da categoria, o rendimento médio de mulheres negras é de cerca de R$ 3.436,16, enquanto homens brancos recebem quase o dobro (R$ 6.565,21). Já os homens negros recebem, em média, R$ 5.682,63.

A vice-presidente do Sindicato dos Arquitetos do Estado no Rio Grande do Sul (Saergs), arquiteta e urbanista Deonice Romero, contou como foi o processo de formação, quando cursou a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a parcela de negros dentro do curso era mínima. “Casualmente, durante todo o curso, eu tive quatro colegas negros em turmas distintas. Eu me formei em 1985, e na minha formatura eram dois negros apenas.” A profissional também afirma que não vê muita diferença entre a época que se formou e os dias de hoje. “Embora em dados númericos os ingressantes possam ter aumentado, atualmente, quando vou em formaturas, continuo vendo um, dois, três negros no máximo dentro de turmas enormes. O perfil do aluno que chega à conclusão não mudou. Então, quando chegamos na formatura, ainda  estamos, praticamente, sozinhos.”

Outro ponto abordado por Deonice foi a dificuldade de conseguir se encaixar no mercado de trabalho. Para ela, a disparidade que se nota dentro dos cursos considerados mais elitizados é um vislumbre da situação enfrentada no momento de buscar por uma colocação. “Eu fui uma pessoa que tive dificuldade, inclusive, para conseguir um estágio. Naquela época, uma coisa que se pedia nos classificados era a necessidade de ter “boa aparência” e nós, negros, não eramos considerados de boa aparência”, explica.

Finalizando, Deonice afirma que para mudarmos a realidade da disparidade em cursos como a arquitetura é necessário investir em um apoio e estruturação que venha desde a base do conhecimento. “Precisamos, sim, defender as cotas. Elas são uma ferramenta que permite que minorias possam ocupar seus espaços. Porém, precisamos de um trabalho que comece desde a base, que fortaleça não apenas a área do conhecimento técnico, mas também dos direitos, com um olhar para os jovens, focado no desenvolvimento da autoestima. Conhecimento é a chave para a liberdade e o reconhecimento profissional começa muito antes da universidade. Precisamos nos enxergar como parte deste grupo e que  também possuímos os mesmos direitos.”


Foto: Freepik

Rolar para cima