Mostra Sérgio Péo: cinema como resistência urbana

Desde o início de sua carreira, nos anos 1970, o arquiteto e urbanista e cineasta Sérgio Péo decidiu usar o cinema como ferramenta de resistência na luta pelo direito à cidade. Na época, o Brasil ainda enfrentava a ditadura militar e o medo de comunicar e mostrar a realidade precária do país estava enraizado. “Apesar de toda a censura da época, nós, estudantes, jovens e corajosos, queríamos ir às ruas como uma forma de provocar e resistir. As gravações tinham como objetivo mostrar a intensidade da violência que vivíamos e as consequências que o regime trouxe para às cidades”, explica Péo durante a sessão Cinema Urbana no 46º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (ENSA), último debate do Colóquio “Projetar, Construir, Morar: Arquitetura e Políticas de Habitação”.

Com a curadoria e a presença da arquiteta e urbanista Liz Sandoval – responsável pelo projeto Cinema Urbana –, a sessão foi uma homenagem ao cinquentenário da carreira de Péo. Foram exibidos os filmes Pira (1972), abordando cenas do cotidiano na cidade do Rio de Janeiro; Associação dos Moradores de Guararapes (1979), com o depoimento do presidente da Associação, Cláudio de Moraes, a respeito do espaço conquistado pela comunidade no bairro Cosme Velho, também no Rio; e Rocinha Brasil 77 (1977), retratando o dia a dia de uma das maiores favelas do Brasil.

Iniciativas como essa, apesar das décadas que separam da atual realidade, seguem sendo potencialmente férteis para levar arquitetos e urbanistas a travar contato direto com a realidade social da maior parte da população brasileira. “Precisamos incentivar os estudantes de arquitetura a irem até as comunidades, ver como o povo está vivendo. Isso é uma forma de adquirir conhecimento, identidade, cidadania. O corpo a corpo é essencial para a nossa profissão e para que a gente faça uma arquitetura de qualidade”, concluiu Péo em seu depoimento.

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