Mário Mendonça de Oliveira: Uma vida dedicada à sala de aula e ao restauro de monumentos

“Ser professor é minha religião”. A frase foi repetida por diversas vezes ao longo da entrevista com Mário Mendonça de Oliveira, arquiteto e urbanista e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (FAUUFBA). Aos 83 anos e aposentado desde 1992, comparece todas as manhãs ao laboratório de Ciência da Conservação, que criou na UFBA, e coordena (NTPR), dedicando dois dias à sala de aula para ministrar três disciplinas da pós-graduação da FAU. “Acordo todos os dias as 5 horas da manhã, trabalho por amor, e agora deixei meus alunos em aula para contar um pouco minha história a seu pedido”, diz o animado professor.

Por trás de tanta dedicação ao ensino existe uma trajetória profissional que inclui projetos, construção e gestão pública, que culminou em um dos mais respeitados profissionais de sua área no Brasil. Pela sua atuação, Mário Mendonça de Oliveira foi o vencedor do 14º Prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano na Categoria Setor Público, homenagem que será concedida pela Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) no dia 30/11, no 43º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (ENSA), em Salvador/BA. A indicação de seu nome foi feita pelo Arquiteto DF.

Formado em 1961, também na UFBA, começou a lecionar um ano depois, quando assumiu como concursado a disciplina de História da Arquitetura. “Em um determinado momento percebi que não poderia ser um arquiteto apenas teórico. Achava que o arquiteto tinha que saber projetar e saber realizar, como os do passado. Embora sempre voltado primeiramente à universidade, não rendia o suficiente, então fui fazer meus projetos”, relata. “Fui para a construção civil, construí para amigos, diversas pessoas da alta sociedade, porque a história da arquitetura me mostrava que um arquiteto não pode simplesmente projetar e desenhar, é preciso executar”, pontua.

Professor Mário Mendonça comparece todos os dias na universidade, tarefa que para ele é uma ‘religião’

 

Mário Mendonça de Oliveira nunca abriu escritório próprio. “A universidade não me deixou fazer isso”, brinca. No entanto, sua marca foi impressa em cerca de 40 imóveis em Salvador, incluindo a casa do filho do meu amigo Jorge Amado, na rua Alagoinhas, número 33.  “Construir para os outros é um negócio um pouco desgastante. Foi quando me veio a grande paixão da minha vida: unir o meu lado de professor de história da arquitetura com a profissão de arquiteto, atuando na restauração de monumentos. Essa paixão começou em 1970, quando assumiu como diretor da FAU, com seus trinta e poucos anos. “Em 1974, quando saí da direção da FAUFBA, antes de me envolver em qualquer outra atividade, resolvi que queria fazer o que realmente gostava, o restauro de monumentos. Fui para Florença fazer um curso”, relata, referindo-se à Università degli Studi di Firenze, onde se destacou como pesquisador por seu denso trabalho e onde se especializou em Restauração de Monumentos e Centros Antigos. Quando retornou, depois de um ano, deixou de lado a construção civil e focou sua carreira no restauro de monumentos. “E nunca mais parei.” Entre os inúmeros monumentos históricos que tiveram a sua intervenção estão a fortaleza no Morro de São Paulo, a azulejaria na igreja do Rosário de Cachoeira, Teatro Municipal de São Paulo, a igreja do Monte Recôncavo,  o Convento de Cairu, Forte do Barbalho, Convento de São Francisco, Castelo do Santo Cristo, no Pará, Igreja do Bomfim, e mais de uma centena de outros projetos ou consultorias sobre monumentos.

Na esteira do curso na Itália, o professor Mário de Oliveira não teve como negar-se ao exercício do cargo de diretor da Fundação Pelourinho, um convite feito diretamente pelo governador na época, professor Roberto Santos. A própria sede da Fundação sofreu intervenções comandadas por ele “Não queria me comprometer com cargo público, mas fui coagido”, brinca o arquiteto e urbanista, que permaneceu no cargo durante toda a gestão de governo, de 1975 a 1979. “Introduzi coisas novas no processo de restauro, como fundamentos tecnológico e científico. Mas sempre sem deixar de dar aula. Eu, como sacerdote dessa religião, não posso deixar de ensinar.”

A paixão por ensinar o levou a participar ativamente da criação do CECRE – Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios Históricos – hoje Mestrado Profissional da FAUUFBA. Em 1981, também idealizou o Núcleo de Tecnologia da preservação e da Restauração, laboratório de pesquisa instalado na Escola Politécnica da UFBA, que até hoje coordena, que lhe valeu o diploma do ICOMOS, de Pioneiro da Ciência da Conservação.  À tudo isso, soma-se ainda uma infinidade de trabalhos e livros publicados, todos escritos a partir de sua visão, vivência (e paixão) pela restauro de monumentos.

 

Foto: Betina Kelly, Elias Machado, Francisco Santana e Eliana Mello

 

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