Nova sede do NEOJIBA é exemplo de conversão de espaços tombados

Em julho deste ano, a cidade de Salvador (BA) ganhou a primeira sede própria dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA), considerado um dos melhores espaços de formação musical do país. No bairro da Liberdade, edificações do século XIX que antigamente abrigavam máquinas a vapor de bombeamento de água hoje estão transformadas em um centro de formação musical de padrão internacional e foco local. Lá, são desenvolvidas atividades de um programa de responsabilidade social que atende a milhares de crianças e jovens de todo o estado da Bahia.

Por trás dessa nova realidade do NEOJIBA, está um time de profissionais e gestores que deram o passo inicial para concretizar a nova sede localizada no Parque do Queimado. O desafio foi lançado pelo diretor-geral e fundador do NEOJIBA, o maestro e pianista Ricardo Castro. Ocupar e transformar as edificações tombadas pelo IPHAN no Parque do Queimado em locais adaptados a salas de música e concertos com padrão internacional foi o que instigou os arquitetos e urbanistas Olívia de Oliveira e Sergio Ekerman – profissionais que integraram uma rede internacional de colaboração e atuaram na conversão de uso e nas intervenções necessárias para a transformação do espaço. Pelo trabalho realizado na sede da Orquestra NEOJIBA, a dupla foi indicada neste ano para receber o 14º Prêmio Arquitetos e Urbanista do Ano – Categoria Setor Privado, homenagem que será concedida pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), no próximo dia 30 de novembro, durante o 43º Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (43º Ensa), em Salvador/BA.

A tarefa de preservar a arquitetura neoclássica brasileira dos prédios, estilo arquitetônico dominante entre os séculos XVIII e XIX, foi executada pelo escritório de arquitetura Butikofer de Oliveira Vernay Sàrl, vencedor de diversos prêmios internacionais e sediado em Lausanne, na Suíça. Segundo a arquiteta Olivia de Oliveira, sócia do Butikofer, o maior desafio foi integrar as exigências acústicas do programa NEOJIBA a um edifício patrimonial que apresentava muitos limites e restrições, tanto em aspectos formais e estéticos como construtivos. “O novo projeto deveria responder a estas diversas condições dadas, garantir o isolamento do ruído exterior, fundamental num contexto urbano, e ao mesmo tempo, proporcionar o uso ideal dos espaços destinados à prática musical”, afirma Olívia.

Olívia de Oliveira. Foto de Alain Kissling
Olívia de Oliveira. Foto de Alain Kissling

A arquiteta e urbanista cita como exemplo a estrutura de concreto plissado que cobre a nova sala de concertos. Ela foi concebida e desenhada tomando em conta todos estes parâmetros e a partir dos dados técnicos estipulados pela Nagata Acoustics, empresa japonesa com sede em Los Angeles e responsável por algumas das melhores salas de concerto do mundo, a exemplo da nova Philarmonie, de Paris, e do Disney Hall, em Los Angeles. “Uma vez desenhada, submetemos a forma aos engenheiros da Nagata, que através de cálculos puderam confirmar a qualidade de escuta esperada para todos os espectadores da sala. A forma da cobertura ia para além das exigências acústicas esperadas”, conta Olívia.

Sergio Ekerman. Foto de Renata Berenstein

 

Embora a grande maioria dos desenhos e detalhes tenha sido executada pelo escritório Butikofer de Oliveira Vernay Sàrl, o projeto da nova sede NEOJIBA contou com a coordenação local e co-autoria do arquiteto e urbanista Sergio Ekerman. “Foi um trabalho desafiante e cativante pelos requisitos impostos”, considera Ekerman, que acabou unindo o gosto pela música com a proposta de conservação e restauração de um equipamento histórico. “Me vi constantemente motivado para o cumprimento de todas as etapas do processo, sobretudo ao longo da obra. A adaptação dos espaços foi difícil, mas no final, o ganho urbanístico e arquitetônico foi grande para Salvador e o Parque do Queimado”, considera Ekerman. Segundo ele, o grande desafio de preservação desses monumentos é justamente entender como eles sobrevivem e como podem ganhar nova vida na contemporaneidade. “Conversão do uso e intervenções que respeitem as camadas históricas do prédio e ao mesmo tempo trazem elementos novos são possíveis e o NEOJIBA é um exemplo disso”, destaca o arquiteto e urbanista.

 

Salas de concerto e de ensaios dividem ambientes no Parque do Queimado. Foto de Leonardo Finotti

 

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