Junção chega na reta final e marca força democrática da habitação popular
Um dos símbolos das lutas de resistência e democratização da habitação no Brasil promete ser concluído no segundo semestre de 2024. Premiado internacionalmente por sua função social e sustentabilidade, o projeto Junção, edificado no município de Rio Grande, região Sul do Rio Grande do Sul, está em fase de finalização e deverá ser ocupado por 1.120 famílias. Entre os diferenciais do projeto, iniciado em novembro de 2016 com previsão inicial de entrega em 2019, está o fato de ser um condomínio aberto, edificado em área privilegiada e de fácil acesso e que conta com estrutura construtiva que prima por espaços amplos entre os 70 prédios distribuídos em 4 quadras. Outros ganhos em relação a construções similares são as áreas de convivência tanto externas quanto internas e a presença de estacionamento. Os apartamentos do projeto Junção têm sacada, churrasqueira e devem beneficiar perto de 6 mil pessoas. “É um projeto único, focado no bem-estar e convívio social”, salientou o encarregado das equipes do Junção, Joaquim Goulart. Os diferenciais lhe renderam reconhecimento internacional. Em 2018, recebeu o prêmio concedido pela WRI em Nova Iorque entre os 50 melhores projetos sociais do mundo em habitação social ao avaliar-se espaços, territórios, localização e integração social.
O Projeto Junção é financiado pelo Minha Casa Minha Vida Entidades com recursos do governo federal, tem a Caixa Econômica Federal como agente financeiro e executado por meio de quatro cooperativas: Cooperlar, Cooperarroio, Coopernova e Uniperfil. É uma ação de luta por moradia que se consolidou na parceria de diversos agentes – Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM, Secretaria do Patrimônio da União – SPU, Prefeitura Municipal do Rio Grande, Ministério das Cidades e CAIXA. As famílias foram escolhidas dentre a demanda de famílias cadastradas pelo município, as quais acompanham o andamento das obras desde o início e cumprem as etapas do projeto social, além da participação das assembleias que são o principal momento de diálogo e devolutiva de informações. Com a obra na reta final, os beneficiados devem começar a ser chamados para verificação de interesse e, em abrindo vagas, novas famílias serão selecionadas.
Ao longo dos quase oito anos de obra, o Junção passou por momentos de trabalhos intensos e outros onde a falta de recursos diminuiu sua velocidade. O novo condomínio deve se integrar a um conjunto de 156 casas executadas por meio da Cootrahab, o que ajudará a compor um bairro plural onde prédio e residências convivem em harmonia. Goulart explica que as cooperativas responsáveis pela obra planejam trabalho integrado com as famílias para organizar o gerenciamento das habitações pós entrega, com eleição de síndicos e líderes capazes de coordenar o futuro do Junção, que ainda contará com centros comerciais, academia, quiosques, chimarródromos e áreas de convivência. Outra inovação é a adoção de registros de água com medição e conta individualizados, algo pioneiro em projetos do gênero no Rio Grande do Sul.
Foto: Roberto Dias
No início deste ano, a presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, Andréa dos Santos, visitou o canteiro de obras do Junção. Segundo ela, iniciativas como esta permitem ressignificar as cidades e podem, sim, transformar a cara de Rio Grande. “São mais de mil famílias que terão um lar digno em uma região de fácil acesso e com qualidade urbanistica”, ponderou, lembrando que o Junção tende a atender importante parte das famílias que atualmente compõem o déficit habitacional do município de Rio Grande. “É uma solução efetiva e que, certamente, terá impacto econômico e social na comunidade”, completou a dirigente da federação, cuja luta histórica está atrelada à habitação de interesse social.
As famílias que receberão os apartamentos do Junção pagarão 60 parcelas equivalentes a até 5% do valor do imóvel, algo que oscila entre R$ 80 e R$ 170 mensais. “Os projetos como este, realizados através do Minha Casa Minha Vida Entidades, ainda são uma minoria quando comparado ao mercado e passaram muitas dificuldades no governo anterior por conta da falta de política habitacional e a liberação de recursos, ocasionando um importante estrangulamento nas obras. Temos hoje um novo momento e um novo futuro a serem construídos”, frisou Andréa dos Santos.
Em 10 de maio, Andréa participou do evento de lançamento de 112,5 mil moradias selecionadas no MCMV nas modalidades Entidades e Rural. A nova fase do programa busca beneficiar mais de 440 mil pessoas em áreas rurais e urbanas, de comunidades tradicionais como quilombolas e povos indígenas, famílias organizadas pelos movimentos de luta por moradia, com prioridade para grupos mais vulneráveis como mulheres chefes de família, famílias de áreas de risco, entre outros. A meta do Ministério é contratar 2 milhões de novas moradias até 2026. “Isso mostra como o governo vem prestando atenção à habitação de interesse social no Brasil, beneficiando diversas famílias que poderão conquistar o sonho de ter um lar”, conclui.
Foto de Capa: Carolina Jardine