Técnicos do IBGE começaram a fazer o levantamento da infraestrutura urbana de 21 municípios, onde será realizada a segunda prova piloto do Censo Demográfico 2020, prevista para acontecer em março. As equipes vão verificar, por exemplo, a existência de calçamento nas ruas, de pontos de ônibus, de ciclovias, de arborização, além de pesquisar quesitos de acessibilidade, como a presença de piso tátil e de rampas para pessoas com deficiência. A operação serve como teste para a Pesquisa Territorial do Entorno Urbanístico dos Domicílios, que acontecerá em todos os municípios do país dois meses antes do início da coleta do próximo Censo, em agosto de 2020.
No Censo 2010, esse levantamento mostrou que, entre as cidades brasileiras com mais de um milhão de habitantes, Goiânia tinha o maior percentual de domicílios em áreas arborizadas, enquanto Belém tinha a maior proporção de residências em áreas com esgoto a céu aberto.
Além de contribuir para o planejamento de políticas públicas, a pesquisa facilita o deslocamento do recenseador. Ela investiga, por exemplo, se há alguma localidade não mapeada, para garantir que as ruas estejam representadas no mapa que servirá como guia do recenseador.
O supervisor de Pesquisas Territoriais do IBGE, Maikon Novaes, explica que, durante esse teste, o técnico em campo vai verificar a existência da estrutura, e, para alguns casos, vai levar em conta apenas o critério máximo, como na pavimentação, que só será considerada se toda a calçada estiver pavimentada.
O levantamento é um processo rápido, que contará com aproximadamente 37 técnicos nesta fase de teste, número que deve saltar para 27 mil pessoas que serão contratadas temporariamente no ano que vem, para o Censo 2020. “Em um bairro de densidade populacional média, com cerca de 350 domicílios, nossas equipes conseguem cobrir de oito a doze quadras por dia”, diz Maikon.
Tanto no teste quanto no levantamento oficial de 2020 serão contempladas localidades com infraestrutura mais precárias, como as favelas, categorizadas pelo IBGE como aglomerados subnormais. Serão visitados nove locais com essas características na etapa que começa amanhã.
Essas regiões foram contempladas no último Censo, mas agora serão incluídos trechos com mais restrições: “estamos testando uma metodologia diferente, que permite coletar as informações de aglomerados subnormais que não têm arruamento regular. Teremos uma nuvem de pontos que vai dar a característica média daquele setor”, explica Maikon.
Nota conjunta em defesa do Censo Demográfico 2020
As associações nacionais que reúnem pesquisadoras/es, docentes, estudantes e profissionais das áreas de Ciências Sociais (ANPOCS, ABA, ABCP, SBS) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública manifestam sua preocupação com a proposta do ministro Paulo Guedes, em declarações feitas no dia 22 de fevereiro de 2019, de redução das informações coletadas pelo Censo Demográfico 2020, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Censo é fundamental para que seja possível conhecer a realidade do país e promover políticas públicas eficazes. A exclusão de informações do Censo Demográfico 2020 comprometeria as séries históricas de dados que permitem analisar, com base em evidências, mudanças no perfil populacional e padrões de desenvolvimento nacional e regionais.
Trata-se de um país de proporções continentais, diverso e que apresenta uma série de desafios para que os recursos públicos possam ser geridos com eficácia e dirigidos para as necessidades reais da população.
Ao longo dos anos, o IBGE tem demonstrado seriedade e competência na produção de bases de dados e, especificamente, do Censo. Na área de Ciências Sociais, acompanhamos esse trabalho e nos fundamentamos nos dados apresentados para análises e para a apresentação de alternativas diante dos desafios que esses dados evidenciam.
Restringir o censo vai contra o interesse público, na medida em que, com menos informações, a formulação de políticas fica comprometida, assim como a possibilidade de construção de um país mais justo. Não há desenvolvimento e justiça social sem conhecimento. Não há políticas públicas eficazes sem pesquisa que informe seus formuladores. A quem, afinal, interessa o desconhecimento?”