A arquiteta e urbanista Iara Beatriz Falcade Pereira, é natural do Paraná. Apesar de sua família ser originalmente do interior, Iara cresceu na periferia de Almirante Tamandaré e na capital Curitiba, mas sempre com o desejo de voltar às suas raízes. Sua mãe e seu pai fizeram parte da fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região sudoeste do Paraná, e sua mãe, professora sindicalista, desde jovem, incentivou a filha a fazer parte da militância e da luta sindical.
Vinda de uma família camponesa de mulheres que batalharam por seus estudos e independência, desde o Ensino Médio, Iara participou de movimentos estudantis para garantir seus direitos. Realizou sua graduação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Arquitetura e Urbanismo, como integrante, em 2013, de uma das primeiras turmas ingressantes no ensino superior pela Lei de Cotas.
Na universidade, Iara Beatriz imediatamente foi atraída pelos projetos de extensão, e tentou conciliar seus estudos na arquitetura e no urbanismo com seu crescente interesse na estrutura fundiária, no planejamento regional e nas lutas pela terra. Dessa forma, durante a graduação, fez parte do Programa de Extensão Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, do Coletivo de Estudos sobre conflitos pelo território e pela terra do Laboratório ENCONTTRA da Geografia, e desde 2019 integra e contribuiu na criação do Coletivo PLANTEAR/UFPR – Coletivo de Projetos de Extensão e Pesquisa de Planejamento Territorial e Assessoria Popular. Ainda no Coletivo Plantear, Iara fez parte do projeto para planejar o território da Comunidade Agroecológica Maria Rosa do Contestado, primeiro assentamento de reforma agrária reconhecido neste terceiro mandato do governo Lula, que trabalha em conjunto com o coletivo na reivindicação da área frente ao agronegócio para as mais de 60 famílias camponesas que ali vivem.
Neste processo de planejamentos junto ao MST e o PLANTEAR, Iara decidiu realizar seu mestrado, buscando expandir seus conhecimentos na agroecologia, nas lutas de gênero e no planejamento territorial dos assentamentos de reforma agrária no Paraná. “A luta pela terra, os modos de vida com a terra e os sujeitos destes processos são o centro da questão que movimentaram meu percurso no mestrado e tem movimentado minha reflexão e prática como técnica-militante”, explica ela. A arquiteta ainda conta que a luta contra os preconceitos de gênero também faz parte da luta por terras da atualidade, “o mundo agrário é um território de conflitos”. Ela relata que a desigualdade de gênero está extremamente presente na área rural, e que para ela é primordial mudar esse cenário. Ainda no âmbito da quebra de paradigmas, a profissional busca e defende a agroecologia como prática, movimento, ciência e política pública, com uma perspectiva de gênero e da teoria do cuidado, na construção de uma conciliação da arquitetura rural com a arquitetura nas cidades.
Quando questionada sobre seus sonhos e desejos, Iara relata a presença das populações periféricas em todos os aspectos da sociedade, incluindo na área rural, a qual é essencial para ela. “Eu tenho o sonho de implementar uma reforma agrária popular e agroecológica de forma receptiva à todas as comunidades periféricas. Sonho com territórios diversos, mistos de campo-cidade, que as populações roubadas tenham direito de viver e construir uma outra história. Nisso tudo, a arquitetura como profissão me ensina a sonhar e planejar estas outras realidades na luta pela terra”, conta ela.
Atualmente, Iara é diretora-geral do Sindicatos dos Arquitetos e Urbanistas do Paraná, além de trabalhar, neste momento, na Escola latino-americana de Agroecologia, iniciativa da Via Campesina e localizada no Assentamento Contestado, comunidade do MST no município da Lapa (PR).