FNA debate a presença dos arquitetos na saúde pública e o uso de softwares livres durante a Trienal de Arquitetura

Entender o arquiteto e urbanista enquanto um profissional essencial para o sistema de saúde brasileiro e debater a importância dos softwares livres pela liberdade de atuação profissional. Essas foram as tônicas trazidas pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) em suas falas durante a Trienal de Arquitetura de Porto Alegre (RS). As mesas de debate, organizadas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), contaram com a participação do presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann, da presidente da FNA, Eleonora Mascia, e do médico e epidemiologista Ion de Andrade, no debate sobre Casa Saudável; e do Secretário de Organização e Formação Sindical da FNA, Danilo Matoso, do presidente do CAU/RJ, Pablo Benetti, da conselheira do CAU/BR Ana Cristina Lima, das conselheiras do CAU/SP Ana Paula Rodrigues e Bárbara Kemp e do Chefe de Gabinete do CAU/RS, Paulo Soares, no debate de softwares livres. As mesas foram realizadas nesta quinta e sexta-feira (17 e 18/11), respectivamente, e é possível conferir as gravações no canal do YouTube do CAU/RS.

Casa Saudável e a presença do arquiteto enquanto agente de saúde pública
88% das mortes por diarréia no Brasil são causadas por falta de saneamento básico. O dado, de acordo com Holzamnn, já defasado, só mostra a importância de incluir os profissionais de arquitetura dentro do debate sobre saúde no país. O presidente do CAU/RS apresentou o projeto Casa Saudável na noite desta quinta-feira (17/11), que pretende incluir os arquitetos nas equipes multidisciplinares do Sistema Único de Saúde (SUS) e do programa Saúde da Família. “Só 30% dos problemas de moradia no país envolvem desenvolver novos projetos. 70% é, na verdade, sobre reformar locais já habitados há gerações pelas famílias. Precisamos lutar por políticas públicas que insiram o arquiteto nesse contexto, de reformar um banheiro, repensar a iluminação e ventilação das casas e trazer saúde à população”, destacou.

Andrade, natural do Rio Grande do Norte e com uma atuação profissional ligada à saúde urbana, trouxe como exemplo o projeto do bairro Mãe Luiza, em Natal (RN), iniciado ainda na década de 1980. O médico afirma que foi a reforma das casas locais e da melhoria das ruas a responsável pela redução da mortalidade infantil, asma e doenças como o bicho-de-pé. “A ATHIS [Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social] é igual uma clínica médica, afinal ela diagnostica a vulnerabilidade e propõe a cura do problema. A Saúde da Família trabalha com uma medicina preventiva e a presença dos arquitetos junto às equipes é a solução para deixar o ambiente e a população mais saudáveis”, explicou.

O que falta, entretanto, são programas de políticas públicas que possibilitem a entrada dos profissionais de arquitetura nos projetos de melhorias habitacionais. “Tivemos um apagão nos últimos anos no investimento para as faixas de menor renda, perdendo o PAC, FNHIS e programas como o Minha Casa Minha Vida Entidades. Precisamos resgatar o enfrentamento da inadequação habitacional, regularização fundiária e o acesso ao saneamento. Com a grave situação do corte de gastos, é necessário rever recursos e um plano nacional”, afirmou Eleonora. A presidente da FNA ainda destacou a aproximação com os profissionais e uma organização entre os arquitetos para que a atuação com ATHIS se torne uma realidade, proposta defendida pela Cartilha T.A.B.A., lançada pela Federação e pelo CAU Brasil. A mediação do debate foi realizada pelo jornalista da TV Globo Marcelo Canellas.

Foto: Lídia Rodrigues

Solare e o fomento dos softwares livres pela liberdade de atuação profissional
O uso dos softwares livres, principalmente na arquitetura e na engenharia, é uma maneira de viabilizar novos formatos de trabalho. “Quando um aluno sai da faculdade hoje, ou ele pirateia os programas de arquitetura, ou ele vai trabalhar com quem pode pagar. Isso, e pode não parecer à primeira vista, é uma maneira de impedir a expansão de cooperativas ou de organizações profissionais mais lineares”, salientou Matoso. Apresentando o projeto Softwares Livres para Arquitetura e Engenharia (Solare), o secretário da FNA defendeu os programas de código aberto como uma forma de liberdade de atuação e garantia de propriedade intelectual sob os projetos desenvolvidos. Atualmente, o Solare conta com seis cursos gratuitos dos programas de Gimp, Scribus, Inkscape, Blender, QCAD e FreeCAD. Além, também, das parcerias de fomento com o CAU/RS, CAU/RJ e a Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (FeNEA).

De acordo com Benetti, 51% dos arquitetos ganham apenas metade do Salário Mínimo Profissional e 72% não possuem pessoa jurídica e atuam como autônomos. “A maioria dos nossos colegas atua em condições precárias e envolver no orçamento desses profissionais com sistemas operacionais é algo que compromete a permanência no mercado de trabalho. Temos soluções para isso, só precisamos conscientizar a categoria”. Ana Cristina também destaco o trabalho do diálogo com os profissionais. “Nosso maior desafio é mostrar aos arquitetos e às arquitetas toda a gama de possibilidades que os softwares podem oferecer. Fechando parcerias com as empresas, mas também mostrando que nosso exercício tem alternativas e popularizando ideias como o Solare”.

Foto: Eleonora Mascia
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