Surgidos na década de 1990, os Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU) já são bastante difundidos nas universidades públicas, onde impera o tripé ensino, extensão e pesquisa. Trata-se de uma forma de extensão onde os estudantes realizam estudos e projetos de arquitetura e urbanismo para comunidades excluídas. Nos dias de hoje está sendo discutida a reforma curricular do curso, e o diretor-geral da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FeNEA), o estudante de arquitetura e urbanismo João Tegoni, acredita que o foco deve ser no aprimoramento das atividades de extensão. “Muito se tem falado em aumentar a carga horária do curso. Mas isso não é estruturante, ou seja, não vai capacitar melhor um profissional a lidar com os problemas que temos hoje para resolver. A Arquitetura é uma profissão que resolve problemas”, explica.
Os EMAUs são frutos da abertura política brasileira, no início da década de 1980. Nesse período, recomeçaram as discussões sobre Escritório Modelo e outros tipos de estágios oferecidos aos estudantes, que haviam sido interrompidas pelo regime militar. Os encontros regionais e nacionais de estudantes de arquitetura, EREAs e ENEAs, voltaram a acontecer e, dentro deles, as discussões sobre estágio e extensão universitária ganharam força.
A presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Andréa dos Santos considera os EMAUs uma oportunidade de colocar arquitetos e urbanistas em contato com pautas importantes para a categoria. “Nesse contexto de redemocratização da política nacional em que surgiram, os Escritórios Modelo apareceram como uma oportunidade de democratizar o acesso aos serviços de arquitetura e urbanismo, levando-os às pessoas e comunidades que mais necessitam da presença e do trabalho deles”, complementa a dirigente. A entidade inclusive realiza parcerias com a FeNEA, através de oficinas do Trabalhadores Articulados em Benefício da Arquitetura (T.A.B.A), como forma de ampliar a discussão sobre a inserção dos futuros arquitetos no mercado de trabalho.
O papel dos Escritórios Modelo na formação dos estudantes é o de proporcionar a vivência social e a experiência teórica e prática como um todo, além de conscientizá-los sobre a realidade social brasileira e a importância do compromisso com a transformação social do país. Tegoni afirma que o ensino de arquitetura e urbanismo é muito voltado para as partes técnicas do projeto e, por isso, falha em conscientizar os profissionais sobre suas responsabilidades no planejamento urbano. “Os principais instrumentos que temos para o ordenamento territorial estão na lei. O arquiteto precisa parar de ficar tanto tempo dentro de um escritório e ocupar os espaços de discussão. Isso tem que ser passado desde o primeiro momento em que o aluno entra na universidade ”, completa.
O Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Poema) é um documento que estabelece orientações para a formação, funcionamento e manutenção dos EMAU. Os princípios e diretrizes mencionados no documento foram elaborados a partir das discussões dos estudantes sobre a necessidade de uma Extensão Universitária nestes moldes. Os princípios são idéias fundamentais que norteiam a atuação dos EMAUs, como a busca pela melhoria da qualidade de vida das pessoas e a realização de projetos reais em benefício da comunidade. Já as diretrizes são orientações mais específicas, como a promoção da prática profissional simulada e a horizontalidade na organização e tomada de decisões. “Estas questões são importantes, porque orientam uma atuação que promove uma formação mais crítica e engajada socialmente dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo, além de contribuir para a melhoria das condições de vida das comunidades atendidas pelos projetos”, complementa Tegoni.
A presidente da FNA conclui que, em um cenário onde a evolução do ensino de arquitetura e urbanismo se torna fundamental para abordar os desafios complexos das cidades brasileiras, os Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU) emergem como um marco transformador. A visão da FeNEA, representada pelo diretor-geral João Tegoni, deixa claro que a ênfase deve recair sobre o aprimoramento da extensão. Enquanto as discussões curriculares evoluem, o legado dos EMAUs reafirma a vocação dos futuros profissionais para catalisar mudanças reais. “A sinergia entre a visão da FeNEA, a paixão dos estudantes e a estrutura orientadora do Poema cria um elo potente para uma nova era de profissionais de arquitetura e urbanismo, prontos para moldar um futuro mais consciente, sustentável e orientado pela assistência técnica em habitação social”, conclui Andréa.