Fab Social: metodologias de projeto e de fabricação digital para jovens em Guarulhos

Movido pelo desafio de abrir janelas de possibilidades de ensino e de aprendizagem, o professor e arquiteto e urbanista Alex Garcia levou para a rede pública de educação da cidade de Guarulhos (SP) oficinas gratuitas de fomento à pesquisa científica e tecnológica. Através do projeto Fab Social, que se iniciou em 2013 Garcia movimentou os Centros de Educação Unificada (CEUs) com vivências mediadas por conceitos de projeto e de fabricação digital, inerentes à arquitetura e ao urbanismo, possibilitando novas experiências para mais de mil jovens, entre oito e 12 anos, através de oficinas que foram ministradas ao longo de três anos aos estudantes das escolas públicas. 

Reforçando a ideia do faça você mesmo, entre computadores, materiais reciclados e fios condutores, o professor fez a garotada trabalhar ideias básicas das áreas do design, mecânica, história da ciência, eletrônica e da fabricação digital, exercitando com isso uma métrica para o tempo de produção das coisas. “Como horizonte metodológico, o Fab Social orientou-se por vivências lúdicas e criativas com a arte de projetar. Ou seja, tivemos como objetivo promover com os jovens uma reflexão pela projetualidade de objetos do mundo mediada pelo olhar do designer”, explica Garcia. 

Ao longo do processo, os jovens colocaram a mão na massa e vivenciaram um ambiente coletivo de aprendizagem envoltos por equipamentos como computadores, cortadora de vinil, fresadora CNC e impressora 3D. “É exatamente nesta zona de interação entre ciência e tecnologia que quisemos contribuir no desenvolvimento do raciocínio e da imaginação pela ação de projetar:  uma atividade própria do arquiteto”, recorda Garcia. 

Como resultados dessas vivências, Garcia constatou nos participantes,  indícios de uma maior percepção sobre o desenho em perspectiva e de outras habilidades como a da funcionalidade e a composição dos objetos. “Os jovens iniciavam com expressões gráficas de suas ideias de forma bem simples, e após a oficina, os desenhos demonstraram uma riqueza maior de detalhes e de significados. Alguns, inclusive, com uma busca pela perspectiva no próprio desenho para uma melhor compreensão do seu objeto projetado pela sua forma e função”.  E acrescenta: “entendo que durante a atividade, o desenho ia sendo ressignificado pelos educandos como uma ferramenta de investigação do mundo com os seus objetos”. 

 O professor também lembra que a opção pelo trabalho junto aos jovens acompanha o preceito de que, “diante de uma revolução social e tecnológica, as habilidades mentais que poderão atuar no futuro para a construção de todo o nosso meio ambiente, como preconiza a UIA [União Internacional de Arquitetos], serão determinadas pelas crianças de hoje, por meio da educação”. 

Garcia avalia que a atividade de projeto pode auxiliar no desenvolvimento de certas habilidades além do enriquecimento de repertório dos educandos pela reflexão sobre a sua cultura material em que vive. “O objetivo não estaria no produto final ou na formação vocacional, mas sim no desenvolvimento de habilidades e processos de pensamento para o enfrentamento de problemas da sociedade que estão cada vez mais complexos e necessitando de um pensamento projetual”.

O projeto Fab Social encerrou em 2016. Chegou a participar da Semana da Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento de Guarulhos (Semcitec) e da Feira de Ciências e Engenharia de Guarulhos. A iniciativa também contou com a participação de diversos parceiros, entre eles o engenheiro Alessandro Melo e a educadora Cintia Matos, que é deficiente auditiva e foi a responsável pela inclusão de crianças com necessidades especiais  no programa. Atualmente, Garcia segue atuando em redes mundiais de aprendizado colaborativo, como o Fab Lat Kids, iniciativa a qual o Fab Social esteve associada e foi inspirada.

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