A participação feminina na construção civil tem aumentado de forma significativa nos últimos anos. Com a necessidade de profissionais especializados, novas oportunidades surgem para mulheres no setor. Entretanto, ainda são minorias e enfrentar diariamente o sexismo ainda faz parte da rotina de trabalho de muitas delas.
Representando menos de 20% do total dos especialistas, ou seja, dos trabalhadores na construção civil, pesquisas recentes mostram que esses números estão sendo revertidos. Conforme dados do Painel da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), realizado pelo Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) no ano de 2020, houve um aumento de 5,5% de efetivações. Ou seja, foram ocupados por mulheres um total de 216.330 cargos com carteira assinada.
Seja nos canteiros de obras ou nos escritórios de arquitetura, o crescimento delas na construção civil também acompanha o crescimento do setor no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil obteve crescimento de 9,7%, sendo o melhor resultado desde 2010.
Apesar dos avanços, há muito o que caminhar para se estar em definitiva igualdade. Entre os principais desafios, a disparidade salarial entre gêneros ainda é estrutural. De acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em 2023, as mulheres são maioria entre os que recebem pisos salariais, enquanto os homens têm acesso a salários mais altos. Cerca de 43% das mulheres recebem salário mínimo, enquanto o percentual de homens com essa remuneração é de 32%.
Quanto às arquitetas, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) combina dados do II Censo das Arquitetas e Arquitetos e Urbanistas do Brasil, realizado em 2021 e do primeiro diagnóstico chamado “Gênero na Arquitetura e Urbanismo”, de 2019, trazendo um recorte preciso de renda, gênero e raça: a média salarial dos homens brancos (R$ 5.590,00) é quase o dobro das mulheres pretas (R$ 2.888,00).
Dentre as ações para mudar este cenário e tornar a construção civil mais inclusiva e justa, está a divulgação do trabalho com participação feminina, sobretudo com programas de incentivo. A arquiteta rio-grandina Nadiane Fontes Castro, atualmente coordena trabalhos de capacitação de mulheres na construção civil voltados à obra e à vida.
“Diria que o fato de termos mais mulheres no ramo tem muito a ver com o processo de empoderamento feminino que tem ocorrido agora nos últimos tempos. Hoje, podemos vê-las trabalhando na área [da construção civil com trabalhos excelentes, e isso tem sido importante tanto para o mercado quanto para as próprias mulheres com oportunidade de emprego dentro desse mercado”, enfatiza Nadiane.
O incentivo para seguir quebrando paradigmas surge quando, como aponta a profissional, também criadora da Tekôa Arquitetura Popular, “a gente está falando de mulheres que, às vezes, só não instalam o móvel ou só não adaptam alguma coisa muito pelo tabu das mulheres em relação ao uso das ferramentas, em relação a práticas de marcenaria, enfim, da construção civil. Por isso é essencial esse encorajamento a quem tem interesse, a quem queira pôr a mão na massa”.
Capazes de se desprender da construção institucional do que a mulher pode ou não fazer, elas se permitem experimentar, utilizando ferramentas para melhorarem suas condições de trabalho e restaurar, para transformar, um espaço que sempre foi delas, bem como um móvel ou uma pintura. É sobre aprender com a experiência para empoderar.
A organização Mulheres em Construção, criada na cidade gaúcha de Canoas no ano de 2006 e o Projeto Capacete Rosa, existente na cidade de Lajeado desde 2023, qualificam e certificam mulheres para o mercado da construção civil. O treinamento lajeadense focou em várias áreas da construção civil, como servente de pedreiro, encanadora, eletricista e colocação de piso. A primeira turma de formandas no ano de 2022 apenas reforça a inserção de mulheres no mercado de trabalho e melhores condições financeiras para que mais profissionais sigam transformando o ramo.
Em suma, criar espaços que sejam abertos à capacitação feminina e grupos de trabalho que se comprometam em trabalhar a equidade de gênero ano após ano são soluções permanentes para uma maior empregabilidade de mulheres na construção civil, na arquitetura, no urbanismo e em muitas outras áreas que encaram e ainda irão encarar desigualdade de gênero.
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