No mês de maio, o estado do Rio Grande do Sul foi, mais uma vez, afetado por fortes chuvas que trazem consequências a longo prazo. O número de pessoas afetadas de alguma forma passou de 2 milhões, segundo dados da Defesa Civil do Estado. Foram 180 vidas perdidas, 730 mil desalojados, sendo que muitos precisaram buscar moradia em abrigos, muitas vezes, longe de suas famílias, lidando com a dor da perda de parentes, amigos e bens materiais construídos com muito esforço ao longo dos anos.
A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), ciente do seu papel como entidade que defende as cidades e a moradia digna como um direito de toda a população, precisa debater o seguinte assunto: depois que a água baixou, como vamos reconstruir cidades e, mais do que isso, vidas?
Infelizmente, as mudanças climáticas são uma realidade no Brasil e no mundo. Estas mudanças são efeito do aquecimento global, do desmatamento de áreas verdes, da urbanização desmedida e da exploração por parte do homem. Há décadas os malefícios destas atitudes negativas com o meio ambiente são debatidos, o que não impediu as grandes empresas de seguir com sua busca por mais dinheiro, mais produção, mas quem paga a conta? Como estamos vendo, os mais afetados sempre são a população que está na outra ponta, colhendo os frutos deste descaso com o planeta.
Como essa realidade não pode mais ser mudada, chegando em um ponto de irreversibilidade, é dever do poder público preparar a população, as cidades, os servidores públicos e as forças de segurança para lidar com esses eventos críticos. Atualmente, o estado gaúcho vive a fase de reconstruir tudo que foi perdido e, para isso, será necessário um trabalho conjunto, em uma equipe multidisciplinar, para tentar ao máximo alcançar um “novo normal”.
Profissionais de arquitetura, urbanismo e engenharia precisam compor o corpo técnico dos governos estaduais e municipais. São eles, junto a outras áreas de atuação, que estão habilitados e possuem conhecimento específico para planejar cidades mais fortes e preparadas. Portanto, é extremamente importante que o poder público trabalhe na abertura de concursos e chame os profissionais aprovados para atuar de forma efetiva e emergencial no extenso e difícil trabalho que será replanejar diversos municípios, criando planos não apenas para lidar com a crise pós chuvas, enchentes e deslizamentos, mas, sim, para impedir os grandes danos e transtornos.
A FNA e seus sindicatos filiados acreditam, também, que os governantes precisam levar em consideração o fato de que o mundo mudou, o planeta terra mudou, e que não podemos permitir que situações de imensa perda sejam recorrentes. “É necessário e, podemos dizer, urgente, que se construam cidades resilientes, preparadas para enfrentar estas intempéries com o mínimo de danos possíveis. Isso só será possível com a organização de trabalhos intensos que criem medidas de proteção e planos de contenção para defender as cidades e as pessoas que vivem nelas”, explica a presidente da FNA, arquiteta e urbanista Andréa dos Santos.
A presidente também reforça a necessidade de encaminhamento de investimentos nos estados. “Vamos precisar de recursos humanos, físicos e de equipamentos para poder atender estas situações que vão ocorrer, infelizmente, cada vez mais, já que trata-se de um problema global.”
Foto: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil