Cidades-esponja: como minimizar o impacto das chuvas nas metrópoles

As inundações no estado do Rio Grande do Sul ressaltaram a preocupação crescente com a maneira que as cidades vêm lidando com as mudanças climáticas nos últimos anos. Os desafios trazidos com a urbanização acelerada pedem por medidas que possam enfrentar a realidade de cada espaço, por meio da implementação de estratégias voltadas para a natureza, não em sua exploração. Desta maneira, a criação de cidades-esponja na arquitetura e urbanismo se propõe a utilizar o ciclo natural das águas a fim de minimizar os danos futuros causados pelo escoamento superficial e as inundações.

As cidades-esponja são infraestruturas verdes criadas a partir de soluções baseadas na natureza com o propósito de garantir a drenagem da água. Invés do modo habitual de coletar a água das chuvas e levá-la o mais rápido possível nos rios, essas cidades usam recursos para assegurar sua completa absorção pelo solo. O conjunto de medidas inclui a construção de telhados verdes, parques alagáveis, calçamentos permeáveis e praças-piscina.

Modalidade mais conhecida desta infraestrutura, os tetos ou telhados verdes são vegetações na área superior dos imóveis em formato de vaso ou jardins. Já os parques alagáveis tratam-se de construções localizadas nas beiras de rios e/ou depressões para armazenamento de água, cujo sistema de passarela permite o tráfego de pessoas mesmo em dias de cheia. Os calçamentos permeáveis são coberturas de solo porosa que permitem que a água penetre no solo, sem necessidade de encanamento. E por último, as praças-piscina são áreas de lazer que se tornam reservatórios quando chove e, após isso, a água retida é distribuída no solo no subsolo via encanamentos.

Entre os diversos benefícios estão a redução do risco de inundações, a melhora da qualidade da água, a recarga dos lençóis freáticos, a mitigação do efeito da ilha de calor urbana, e a criação de mais espaços verdes para os habitantes.

Conceito inicialmente aplicado na China, as cidades-esponja têm sido aplicadas em diversas cidades ao redor do mundo, como nos Estados Unidos e na Alemanha. Contudo no Brasil, ainda são poucas as iniciativas nesse sentido, porém o potencial para adaptação e implementação é significativo, especialmente em cidades as quais experienciaram inundações e crises hídricas.

As cidades brasileiras têm enfrentado diversos desafios relacionados à gestão da água urbana. Além dos exemplos citados acima, secas, escassez de água potável e poluição dos recursos hídricos são apenas alguns dos problemas que exigem soluções sustentáveis. Dentro deste contexto, a realização de um planejamento urbano voltado para a proposta de cidades-esponja pode transformar os centros urbanos em ambientes mais resilientes à água e com melhor qualidade de vida, cuja aplicação requer um plano abrangente e contextualizado, considerando as características e desafios específicos de cada cidade.

No Rio Grande do Sul, surge a reflexão quanto à vulnerabilidade do bioma Pampa por conta das chuvas. Tal perda de vegetação nativa é apontada como fator para diminuição de sua resiliência, o que reforça a importância de recriar as florestas e as matas ciliares (cuja vegetação circunda os cursos de água como rios, lagos, riachos, córregos e outros) de forma emergencial a fim de qualificar e atender o ambiente natural das cidades. 

A degradação das matas ciliares, intensificada pelo desmatamento, contribui para o aumento da suscetibilidade do Pampa a eventos climáticos extremos, como as chuvas intensas que causaram inundações e deslizamentos de terra. Restaurar as vegetações é uma responsabilidade coletiva.

Mesmo havendo a participação de todos os setores da sociedade e a inclusão da população que vivencia essas condições climáticas, pouco há educação ambiental e real preparo quanto aos impactos das mudanças climáticas, como destaca a presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, Andréa dos Santos:

“A falta de conscientização que nós, enquanto sociedade, temos sobre as mudanças climáticas apenas mostra o quão necessário é promover a educação ambiental para que a população compreenda a importância de tragédias como a do estado gaúcho, meu estado, para cuidarmos melhor de nossas cidades e evitar que acontecimentos se repitam num futuro próximo.”

Desta maneira, esta modalidade de planejamento urbano representa um passo crucial na criação de um futuro mais resiliente, sustentável e habitável. Ao integrar soluções possíveis à gestão da água, as cidades-esponja podem vir a garantir um meio de transformar os centros urbanos em ambientes mais preparados para os desafios contemporâneos. 

Foto: Ricardo Sutckert/Governo Federal

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