CEAU acompanha os processos de restauração na Câmara dos Deputados

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil) e o Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU) acompanharam os processos de restauração e recuperação realizado pelo Departamento Técnico na Câmara dos Deputados na última sexta-feira (27/1). O prédio, junto ao Senado Federal, Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), sofreu brutais ataques fascistas no dia 8 de janeiro. A visita foi coordenada pelo analista legislativo da Câmara e suplente do Conselho Fiscal da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Danilo Matoso, como uma oportunidade de apresentar o trabalho de preservação material e imaterial das edificações. “Foi possível dar uma resposta rápida graças ao amplo quadro funcional da Casa. Atualmente, temos no Departamento Técnico arquitetos, engenheiros, marceneiros, pedreiros, serralheiros, marmoristas, estofadores, vidraçaria, etc. Além disso, em outros departamentos, contamos com o trabalho de restauradores e museólogos. Tudo isso nos permitiu desenvolver um trabalho sistemático de preservação de nosso Patrimônio Cultural”, explica.

A presidente da FNA, Andréa dos Santos, presente na visita, destaca que “olhando de perto as instalações, é indiscutível a importância de uma equipe técnica bem preparada para enfrentar situações lamentáveis como as que ocorreram no início do mês. Há toda uma preparação dos profissionais, que não surge do dia para a noite”. Ainda estiveram presentes na visita a vice-presidente do CAU Brasil, Daniela Sarmento, outros conselheiros e conselheiras federais, e os representantes do CEAU, a presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-DN), Maria Elisa Baptista, a presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), Ana Maria Goes, o presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea), Danilo Batista e a vice-presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), Doriane Azevedo.

Trabalho em equipe
A Coordenação de Projetos de Arquitetura (CPROJ) da Câmara dos Deputados responde permanentemente pelos serviços de arquitetura e urbanismo, móveis e ambientação, programação visual e paisagística, manutenção da documentação iconográfica edilícia, documentos técnicos e registros originais. Coube ao setor registrar e providenciar a recuperação das instalações, mobiliário e peças danificadas pelos invasores.

Na sala onde já trabalhou Oscar Niemeyer, Matoso apresentou ao grupo o programa que põe em ação junto com uma equipe formada por 17 arquitetos e urbanistas, 43 engenheiros e outros técnicos. Em menos de vinte dias, os profissionais produziram um levantamento detalhado dos prejuízos ao patrimônio. O relatório aponta um volume expressivo de vidros quebrados, avarias em portas e janelas arrombadas, danos em obras de arte e revestimentos. Dos 46 presentes protocolares  expostos no Salão Verde da Câmara, 15 foram danificados e dois furtados

Uma das obras atingidas foi o muro escultórico de Athos Bulcão, que faz parte do projeto de decoração do Salão Verde e Salão Nobre com a proposta de delimitar os espaços e valorizar os ambientes. A obra de 1976 mede 250 x 1035 x 40 cm. Esculpida em madeira laqueada verde, forma uma parede divisória no Salão Verde, por trás da qual fica a galeria de fotos dos ex-presidentes da Câmara dos Deputados. Além de ser exposta à umidade em razão da água jogada pelos invasores no carpete com as mangueiras de incêndio, a obra teve três peças perfuradas. Um painel de azulejos e o revestimento em mármore da plataforma de cobertura do edifício principal também foram atingidos.

A partir do levantamento, a equipe iniciou o trabalho de recuperação e restauro de peças, mobiliário e instalações. A expectativa é que parte significativa dos trabalhos seja concluída até o fim do recesso parlamentar, em 1º de fevereiro. “Para o início da próxima legislatura teremos recuperado praticamente a totalidade dos vidros perdidos, reparado o carpete do Salão Verde, portas e divisórias danificadas”, afirma Matoso. Para este prazo, também está prevista a reinstalação do muro escultórico de Athos Bulcão. O cronograma também prevê a recuperação do mármore da plataforma de cobertura do edifício principal nas próximas semanas. “O painel de azulejos ventania passará por uma atualização, a partir de um mapeamento de danos que já tínhamos pronto, e um novo projeto de intervenção que será executado ao longo deste ano”, explicou o arquiteto.

Além da Câmara, o Senado e o STF também mantêm equipes profissionais com a atribuição da preservação do patrimônio e das edificações. Já a Esplanada dos Ministérios, espaço paisagístico do Eixo Monumental que abriga as sedes ministeriais, não dispõe de corpo técnico constituído para esta finalidade. Segundo Matoso, após o ataque aos espaços, o Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) convocou uma reunião com representantes dos setores e o Governo do Distrito Federal para criar um grupo de trabalho focado na recuperação dos bens culturais do conjunto arquitetônico.

Desafios para a preservação
O trabalho dos arquitetos e urbanistas e demais profissionais do corpo técnico permitiu agilidade na restauração da edificação, mas os ataques do dia 8 de janeiro impõem ainda outros desafios para a arquitetura e o patrimônio, na opinião de Matoso. “Acho que o maior desafio ainda está por vir. É restaurar a transparência, a abertura, a permeabilidade, que são características originais dos edifícios como construções democráticas que são. Evitar o enclausuramento, o fechamento, o cerceamento. É uma batalha arquitetônica e também política pela preservação”, afirmou.

Diante do impacto das imagens de depredação às edificações que abrigam as principais estruturas democráticas do país, o arquiteto também se declarou consternado como profissional, funcionário público e cidadão. “O sentimento é de profunda tristeza pela incompreensão, pela incapacidade de diálogo político daqueles que atacaram os edifícios como quem ataca a democracia, que custou tantas lutas de nosso povo para ser conquistada”, disse.

Com informações do CAU Brasil.
Fotos: Thiago Sousa

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