Carta aos Candidatos: Participação popular nas cidades é destaque em ato público

A Carta dos Arquitetos e Urbanistas aos Candidatos das Eleições 2022 foi o tema de uma série de debates em ato público promovido pelo CAU Brasil e pelo Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas (CEAU) na cidade de São Paulo. O evento marcou a apresentação das 20 propostas de políticas públicas contidas no documento, que será distribuído às casas legislativas, aos governos estaduais e à Presidência da República.

“Não dá mais para os arquitetos e urbanistas estarem ausentes das políticas públicas e das necessidades da população brasileira. São 25 milhões de moradias precárias no país. E ainda temos 40 milhões de moradias a serem construídas nos próximos 30 anos”, afirmou a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh. “Temos que ajudar a eleger governantes que tragam a agenda da Arquitetura para o nosso país, nossa população.”

Nadia ainda destacou as ações do programa Mais Arquitetos, como o financiamento das ações de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS), como exemplos que podem ganhar escala nos órgãos públicos. “Temos um trabalho consolidado de anos, com ideias. Vamos começar a colocar essas ideias em prática. Podemos transformar esse país”, disse.

O conselheiro do CAU Brasil Ednezer Flores (RS), coordenador-adjunto da Comissão de Relações Institucionais (CRI), afirmou que a Carta aos Candidatos ajuda a qualificar o discurso de que os arquitetos e urbanistas querem levar à sociedade e aos gestores públicos. “Queremos Arquitetura e Urbanismo melhores. Precisamos consertar erros históricos em termos de planejamento urbano”, disse.

Participação Popular
A presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e coordenadora do CEAU, Eleonora Mascia, lembrou o trabalho conjunto das entidades na construção da Carta aos Candidatos. O documento destaca, entre outros, temas como a defesa da democracia, dos programas de governo e, principalmente, da participação popular ampla, com diálogo permanente entre as instituições públicas e os movimentos sociais organizados.

“Buscamos, ao longo do processo de redação, trazer os temas que tivessem significados muito importantes nesse momento que estamos vivendo no país”, afirmou Eleonora. “Nós temos um compromissos de voltar aos nossos estados, levar esse conteúdo e promover a Arquitetura e Urbanismo em todos os cantos do país”.

Arquitetura e Urbanismo na vida real
Debates sobre o conteúdo da Carta aos Candidatos começou com uma problematização feita pela jornalista Débora Freitas, apresentadora do CBN São Paulo, programa de rádio que trata das questões que envolvem a maior cidade do país. É especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo e cursa mestrado em Governança Global e Formulação de Políticas Internacionais na PUC/SP, com foco na internacionalização do papel das cidades.

Débora saudou o conteúdo da Carta aos Candidatos como um importante documento que ajuda a construir cidades mais justas. “Essa Carta marca posição, mas esse trabalho tem que continuar, para que isso faça parte dos programas de governo”, disse. “Depois, obviamente, temos que cobrar os eleitos. Esse trabalho também é da imprensa, mas é importante fazer isso com a ajuda dos arquitetos e urbanistas.”

Para a jornalista, é importante que os profissionais tragam questões práticas e palpáveis para a população. O que causa um determinado problema? Qual é a solução para um determinado problema? De quem a gente cobra a solução? Para exemplificar como os problemas da falta de planejamento urbano afetam a população, ela contou histórias que viveu em periferias de São Paulo. “Nessa minha trajetória de jornalismo, tenho observado a população se mobilizando para trazer melhorias para os territórios aonde elas vivem”, afirmou.

Como exemplo, Débora contou o caso dos moradores da Vila Prudente, que por conta própria consultaram especialistas para redigir um documento que apresentasse à Prefeitura os problemas urbanos vividos no local. “Esse é um exemplo importante de como é possível discutir o tema coletivamente”, disse. Em Paraisópolis, a jornalista ainda foi conhecer a realidade dos moradores e conversou com um morador muito orgulhoso de sua casa e de sua comunidade. Porém, ao falar sobre o falecimento de sua esposa, ele relembrou que o serviço funerário não pôde buscar o corpo, porque não havia viabilidade de chegar a sua casa de carro.

Débora também citou dados que mostram o descaso histórico do poder público com a qualidade das moradias. “Em Marituba, no Pará, 77% da população mora em favelas. Em Macapá, o índice de urbanização de vias públicas é de 8%. Em Santarém, 95% da população não tem acesso à coleta de esgoto. Mais de 2,5 milhões de mulheres do país não têm banheiro em casa.”

A importância das questões de raça e gênero no debate sobre as cidades também entrou em pauta. “Enquanto a sociedade e o poder público não entenderem que a raça é o principal marcador para combater a desigualdade social, a gente não vai conseguir diminuir este fosso”, afirmou a jornalista. “Não tem como deixar de lado também a questão de gênero. As mulheres negras são de longe as mais impactadas quando a gente fala da falta de planejamento urbano.”

Homenagem ao Arquiteto Campelo Costa
O evento contou também com uma homenagem à memória do arquiteto e urbanista Antonio Carlos Campelo Costa, que morreu no início do mês de maio, em Fortaleza. Pernambucano radicado no Ceará, Campelo Costa exerceu distintas funções nas três esferas do Poder Público. Foi presidente do IAB/DN em 1985/1986 e presidente e vice-presidente do IAB/CE. É autor e coautor de projetos e obras de arquitetura em Fortaleza, e outras regiões do país, e de Requalificação Urbana para sítios históricos tombados pelo IPHAN no Ceará. Recebeu diversos prêmios em concursos, exposições e recebeu distinções e homenagens outorgadas por diversas instituições.

Sua memória foi lembrada com um minuto de silêncio, pedido pela presidente do CAU Brasil. A presidente do IAB, Maria Elisa Baptista, fez um breve depoimento sobre a trajetória do colega. “A marca principal do Campelo era a união entre alegria e coragem, uma alegria corajosa. Ele sabia como ninguém dizer o que era o Brasil e como ele podia ser o Brasil”, lembrou. “Ele também sabia como o nosso ofício pode contribuir na construção desse país. Deixa uma saudade imensa e casos maravilhosos para contar.”

Nadia lembrou outras perdas da Arquitetura e Urbanismo ocorridas recentemente, como Flávio Villaça, Jaime Lerner, Paulo Mendes da Rocha e tantos outros. “Neste momento de celebração do nosso ofício, a realidade nos mostra nossas perdas e nos força a refletir sobre seu significado”, afirmou.

O Ato Público da Carta aos Candidatos seguiu com mais dois debates, focando nos sete eixos estruturantes do documento. É possível conferir a íntegra do evento no Canal do YouTube do CAU Brasil.

Fonte e Fotos: CAU Brasil

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