A bioconstrução é alternativa às construções convencionais de alvenaria que se utilizam de materiais muitas vezes poluentes ao meio ambiente. Vertente da arquitetura sustentável, as casas construídas com terra criam ambientes saudáveis, sendo opção para conforto térmico pelo uso de argila e madeira reciclada, enquanto prática antiga que prova sua relevância nos tempos atuais dentro da arquitetura sustentável, sobretudo nos debates sobre impacto ambiental.
A técnica conhecida como COB trata-se de aproveitar a terra nas construções, seja no acabamento ou para erguer paredes. Seu diferencial reside na sua maleabilidade, permitindo a criação de formas orgânicas, circulares e irregulares, conferindo um aspecto único à construção e compondo, além da argila e da areia – materiais mais utilizados – cujos elementos dão mais estruturas à composição e impedindo que as paredes se desfaçam.
Esse tipo de construção, do ponto de vista social, promove o desenvolvimento local, pois utiliza materiais e mão de obra da região. Isso gera empregos e renda para as comunidades, impulsionando a economia local e fortalecendo a cultura regional. A ampla gama de possibilidades arquitetônicas permite a criação de designs únicos representando uma alternativa sustentável e eficiente para a arquitetura contemporânea, que contribui de forma significativa para a preservação do meio ambiente.
Medida aplicável à construção civil, o COB pode ser indicado em várias situações. Os projetos arquitetônicos e complementares devem considerar as características específicas da técnica, apropriada para contextos onde a sustentabilidade, a simplicidade e a adaptabilidade são prioridades.
Para a arquiteta urbanista e mestre em Desenvolvimento Rural Vika Martins, o COB é indicado para regiões onde há disponibilidade abundante de terra, em que pode ser uma opção mais econômica e sustentável, aproveitando os recursos locais de maneira eficiente.
“A técnica pode ser uma excelente opção para construções comunitárias, como centros culturais e espaços de convivência, onde a participação da comunidade no processo construtivo é incentivada e valorizada”, afirma Vika. O COB também pode ser utilizado nas construções residenciais, onde a busca por soluções saudáveis e de baixo impacto ambiental é valorizada.
O cenário brasileiro atual na construção natural (popularmente conhecida por bioconstrução) revela um crescente interesse na arquitetura e construção com terra, tornando-se uma das principais expressões. Além da terra, a bioconstrução engloba o uso de outros materiais orgânicos, como bambu, madeira, fibras vegetais e pedras. Ao englobar profissionais de vários ramos de atuação, fortalece a temática com o auxílio de equipes multidisciplinares, como arquitetos, engenheiros e bioconstrutores, cuja mão de obra especializada é capacitada para executar obras de construção com terra.
Apesar das vantagens comprovadas das construções com terra, incluindo o COB, ainda persistem preconceitos. Muitas vezes, isso está associado a estereótipos sobre durabilidade, acabamento e resistência estrutural. “A educação e a conscientização sobre as características e benefícios dessas construções são fundamentais para combater esses preconceitos e promover sua aceitação e adoção como verdadeiras soluções de sustentabilidade”, adiciona a arquiteta que está finalizando a Casa Flor de Lis, localizada no Morro da Borússia, Rio Grande do Sul.
De acordo a presidente da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA), Andréa dos Santos, as casas construídas com terra, assim como o COB, demonstram que a arquitetura sustentável não se preocupa apenas com o meio ambiente, mas também “se dedica ao bem-estar das comunidades, criando espaços saudáveis e confortáveis que promovem a qualidade de vida”.
“Na construção de um futuro mais verde e próspero, este tipo de arquitetura faz que nós profissionais repensemos nossa relação com o planeta, a fim de que seja mais realista com as condições enfrentadas atualmente”, conclui Andréa.
Fotos: Paulina Engler
Projeto: Casa Flor de Lis, arquiteta Vika Martins