O 42ª edição do Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetura e Urbanismo (ENSA), realizado de 23 a 25 de novembro, em Brasília foi o primeiro realizado após as eleições de 2018. Prevendo tempos difíceis quanto à manutenção da democracia, dos direitos humanos e dos direitos das cidades, arquitetos, urbanistas e as principais entidades representativas do segmento uniram-se em coro em um manifesto informal pela liberdade de pensamento e pela educação com direito à formação política.
O ato ocorreu durante a abertura do evento, que contou, além dos anfitriões da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, com a presença das lideranças do CAU/BR, CAU/DF, IAB, ABEA e FeNEA. Um dos destaques o alinhamento de um plano de fomento para a Lei de Assistência Técnica de Habitação e Interesse Social (ATHIS). Outro destaque foi a palestra do diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Georg Hahn, que tratou sobre o novo cenário das cidades frente às modificações nas relações de trabalho e na execução das atividades laborais. “As cidades devem passar por grandes e profundas transformações em decorrência da execução do trabalho. As pessoas vão atuar de onde estiverem e haverá alteração até de carga horária”, exemplificou. Disse ainda que essa cultura ganha força por meio de novas tecnologias e que a a rotina dos arquitetos e urbanistas terá que se reinventar na forma de repensar a organização das cidades.
O sistema de Acreditação do Conselho de Arquitetos e Urbanistas (CAU/BR), que está em processo de implementação experimental, também esteve na pauta, assim como as mudanças no estatuto da FNA. Entre elas, a que visa à renovação nos quadros da entidade, como limitação em dois mandatos consecutivos para o mesmo cargo, tanto na diretoria como no Conselho Fiscal. A história recente do Brasil e a conjuntura política atual foram o pano de fundo para a análise do historiador Fernando Horta. Segundo ele, somente a força dos movimentos sociais e sindicais é capaz de conter o avanço do fascismo e suas práticas contra os direitos sociais e as políticas públicas.
Nesta edição do ENSA, foram entregues o Prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano e o Prêmio FNA 2018. Os três trabalhos contemplados resumem a essência da defesa do direito à moradia, que vão da ação dos arquitetos e urbanistas a iniciativas da sociedade em reconhecimento ao valor das cidades e da própria profissão. Na categoria Setor Privado, a arquiteta e urbanista Carina Guedes recebeu o mérito pelo trabalho Arquitetura na Periferia. O projeto, conta ela, nasceu do incômodo em ver que a profissão não ajudava a sociedade como deveria. No Setor Público, o destaque foi para a equipe do escritório Ah! Arquitetura Humana, pela Cartilha de ATHIS produzida para o CAU/SC. “É uma honra e uma responsabilidade receber um prêmio com essa envergadura, disse a arquiteta e urbanista Karla Moroso ao lado dos colegas Paola Maia, Taiane Beduschi e Franthesco Spautz. O Prêmio FNA 2018 foi para o filme “Era o Hotel Cambridge”, recebido pela líder do Movimento Sem Teto do Centro de São Paulo (MSTC) e da Frente de Luta pela Moradia e “atriz nas horas vagas”, Carmen Silva. “ Eu sou o resultado do trabalho dos arquitetos e urbanistas. Arquitetura é vida porque a cidade não é para ser formada de ruínas. A cidade é para a gente viver”.