A Tragédia climática no Rio Grande do Sul nos alerta para a necessidade de um Novo Paradigma

Por: Rodrigo Bertamé

No ano em que o Brasil se torna o palco da COP30, a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul serve como um alerta urgente: a inércia não é mais uma opção. Este desastre sublinha a necessidade de uma transformação incisiva no nosso modo de pensar e agir em relação ao ecossistema, sob o risco de enfrentarmos crises humanitárias e de saúde cada vez mais frequentes.

É essencial reconhecer que um mundo complexo exige soluções igualmente complexas. Mudar o paradigma requer coragem.  Alternativas promissoras estão surgindo e podem servir como modelos a serem seguidos.

No campo, os Sistemas Agroflorestais, oferecem caminhos sustentáveis. Asseguram a rotação de culturas, a biodiversidade e a recuperação de aquíferos. Esse modelo, alinhado à realidade dos biomas onde se inserem, também reduzem os custos de manutenção com o solo e a insegurança econômica graças à diversidade de produção. Além disso, garantem um manejo sustentável das terras, evita a desertificação, combate a migração do campo para as cidades e a falta de diversidade alimentar, mantendo ativo o ciclo produtivo rural. O modelo tem sido implementado em assentamentos do MST e na agricultura familiar, com bons resultados.

Na indústria, a simbiose industrial promove a partilha de recursos e a redução de extração e descarte de materiais através de um sistema de cooperação fabril. Esse modelo visa reduzir o impacto ambiental e economizar insumos, compartilhando conhecimento, apoio técnico e logístico, além de subprodutos: o resíduo de uma indústria pode servir como matéria-prima para outras indústrias. Um exemplo pioneiro é Kalundborg, na Dinamarca, começa a ser replicado por indústrias implantadas no Rio de Janeiro.

Modelos colaborativos, como os apresentados, geram benefícios econômicos, sociais e ambientais, devem estar no centro das políticas públicas. Devemos enxergar a Terra pelo que ela é: uma teia de ecossistemas que embora independentes estão interligados, fluem em redes de sinergia e sincronicidade. Os exemplos citados mostram que é possível repensar o planeta e construir um novo paradigma, rompendo com a lógica de competitividade de mercado, concentração de riquezas e desigualdade social que assola o país. É mister construir nosso novo mundo, com base no associativismo e na cooperação, organizando nossos sistemas produtivos e principalmente nossa capacidade de distribuição equânime da renda concentrada e da produção.

Precisamos despertar para a urgência do momento. É fundamental respeitar as interdependências naturais, adotar práticas que conservem a biodiversidade e reduzam a dependência de insumos e os processos de descartabilidade industrial. Devemos retribuir o amor que a Terra nos dá, integrando sabedorias ancestrais dos povos originários com os avanços científicos contemporâneos, assumindo um comportamento ético com o nosso planeta. A Terra, nosso único lar, não é um simples reservatório de recursos, mas um ser vivo, raro e belo, no vasto cosmos, do qual nós somos parte.

O tempo de agir é agora. Transformar nossa relação com o planeta é imperativo para garantir um futuro sustentável. A COP30 nos oferece uma oportunidade imprescindível para impulsionar essas mudanças.

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