A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lançou nesta semana, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III), que ocorre em Quito, no Equador, até a próxima quinta-feira (20/10), a versão em espanhol da publicação “Desenvolvimento social de base em favelas do Rio de Janeiro: um guia prático”. Trata-se de um manual com ferramentas, informações e conceitos sobre o modelo de desenvolvimento social encontrado em organizações de base. O documento é voltado para formadores de opinião, ativistas, especialistas, líderes comunitários, professores, jovens mobilizadores, formuladores de políticas públicas, entre outros.
Segundo a UNESCO, o documento será fundamental para as discussões que ocorrem na Habitat III e que produzirão uma Nova Agenda Urbana para os próximos 20 anos. O conteúdo também contribui para um modelo global de desenvolvimento social de base, demonstrando como experiências inovadoras de organizações nas favelas, com subsídios e conhecimento das próprias pessoas da comunidade, podem ajudar na promoção de mudanças sociais.
A publicação surgiu a partir da pesquisa “Sociabilidades Subterrâneas”, uma parceria internacional que estudou a identidade, a cultura e a resiliência das comunidades de favelas do Rio de Janeiro (RJ), a partir das Organizações Não Governamentais (ONG) AfroReggae e Central Única das Favelas (CUFA).
Desde a realização da pesquisa, a partir de 2009, a London School of Economics (LSE) e a UNESCO no Brasil têm conduzido uma série de eventos internacionais sobre o poder criativo do diálogo entre governo, formuladores de políticas públicas, ativistas, ONGs, pesquisadores e cidadãos marginalizados.
Sociabilidades Subterrâneas
A pesquisa “Sociabilidades Subterrâneas: identidade, cultura e resistência em favelas do Rio” reuniu entrevistas com 204 moradores das comunidades do Cantagalo, Cidade de Deus, Madureira e Vigário Geral, a partir das metodologias das organizações AfroReggae e CUFA. Foram feitas análises de 130 projetos de desenvolvimento social e entrevistas com suas lideranças, além de uma avaliação com especialistas, observadores e parceiros das duas entidades no Rio de Janeiro, entre eles, a polícia.
O trabalho, coordenado por Sandra Jovchelovitch, da LSE, e com coautoria da pesquisadora Jaqueline Priego Hernandez (à época também da LSE), revelou as formas de vida social que fazem parte do cotidiano da sociedade brasileira, mas permanecem invisíveis devido a barreiras geográficas, econômicas, simbólicas, comportamentais e culturais.
Para a UNESCO, é a partir dessas formas alternativas de integração, socialização e regeneração social, capazes de romper as barreiras da exclusão e da marginalização encontradas pelas comunidades de favelas, que se abrem as possibilidades para a construção de diferentes soluções para problemas sociais encontrados nessas comunidades.