Um apaixonado pela cidade do Mar

Nascido e criado em Santos, no litoral de São Paulo, Rafael Paulo Ambrosio carrega em si um amor pela cidade. “Sou santista de coração”, afirma. Para ele, a cidade “é linda, de belezas naturais e espaços urbanos ricos”. Na mesma proporção em que é bonita, se mostra injusta. “Possui riquezas e uma pobreza que é uma verdadeira chaga”. Formado há 20 anos pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Bauru, o arquiteto e urbanista diz que optou pelo curso por sempre ter gostado de artes. Ele ressalta que só saiu do município para estudar na cidade vizinha, mas que nunca esqueceu de Santos. Na visão dele, a arquitetura foi o modo que encontrou de transformar a vida das pessoas “Realizar sonhos, enfrentar problemas e dar soluções fazem parte da atuação profissional do arquiteto urbanista”, pontua. Pai de dois filhos, Bernardo e Joana, Ambrosio é casado com a também arquiteta Maíra Castelo Branco. Além de dividir a casa, ele e Maíra são sócios desde 2017 da empresa Casa da Árvore Consultoria, que presta serviços com a intenção de qualificar espaços urbanos e de melhorar as condições de segurança e saúde das edificações, para que se tornem, de acordo com Rafael, “ambientalmente saudáveis”.

Por ter nutrido um amor pela cidade em que nasceu, Ambrosio sentiu que precisava demonstrar ao público o quanto o patrimônio histórico santista é rico e pertencente a todos e todas. Ao lado do cineasta Dino Menezes, Ambrosio mergulhou na história desse, que é um dos municípios mais antigos do Brasil, e participou da criação do documentário ‘Cidade do Mar’. Ele lembra que o principal objetivo do documentário foi trazer à luz a discussão sobre a relação de patrimônio e a criação de um imaginário social da população sobre o local em que vivem. “E sobre como isso tudo reflete na forma como reconhecemos as nossas origens, tradições e raízes. Conhecer o patrimônio de Santos é fundamental para que todos possam defendê-lo”, argumenta.

O arquiteto se considera uma pessoa metódica. No entanto, isso não impede a criação de novas amizades com facilidade. Uma das qualidades citadas por ele é a de ser um “ótimo fazedor” de amigos. Pela natureza agitada e inquieta, Ambrosio quis ampliar os horizontes; ele tem título de mestre em Habitat pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAU-USP) e é doutor em Direito Ambiental Internacional pela UNISANTOS, na área de Direito Ambiental das Cidades. E não parou: fez pós-graduação em gestão do terceiro setor e gestão da terra e regularização de assentamentos informais. Estratégias para o patrimônio urbano foi a última pós-graduação que fez, em 2019, pelo Institute for Housing and Urban Development Studies-IHS/Erasmus University/HOL. Para passar os conhecimentos adquiridos em 20 anos de formação e atuação no mercado de trabalho, o profissional escolheu ajudar no desenvolvimento de Santos através da docência. Desde 2015 ele dá aulas na Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), com a disciplina de projeto em urbanismo. Hoje, o arquiteto também se dedica ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP). Atualmente ocupa a Gerência dos Escritórios Descentralizados do CAU, coordenando o trabalho de dez escritórios que o conselho possui no estado.

Com passagens pelo setor público e privado, Ambrosio não hesita em dizer que, hoje, o maior desafio é desmistificar o estigma de que a prática da arquitetura é para apenas uma classe social, enquanto que a do urbanismo fica, na maioria das vezes, restrita aos órgãos públicos. “Já atuei com análise de legislação, elaboração e revisão de planos diretores, projetos de regularização fundiária e de interesse social”, lembra. Somado ao desafio citado acima, o profissional crê que é fundamental “democratizar o acesso à arquitetura e ao urbanismo”. Mais próximo da área de desenvolvimento urbano, que acredita ser a sua vocação, ele entende que o papel da arquitetura na sociedade pode – e deve – ser de discussão ativa das cidades, “ainda mais no Brasil, onde as periferias urbanas precisam do básico de infraestrutura e do acesso a equipamentos públicos”, diz.

Na arquitetura, o maior desafio de Ambrosio foi no começo na profissão. Mesmo passados 20 anos da formação, ele indica que o constante aprendizado e o aprimoramento profissional ainda o instigam. “São desafios diários que perduram até hoje”. Mais do que apenas estar atento às transformações e conseguir, a cada instante, se atualizar diante de novas tecnologias, é necessário que os novos arquitetos amem a profissão. Se pudesse através desse texto dar uma dica aos estudantes e recém formados, ele diria que é preciso “capacitar-se sempre e buscar novos desafios”.

O arquiteto afirma que profissão que escolheu deve ser sempre um instrumento para servir à comunidade. Se caso os filhos dele, Bernardo e Joana, desejarem trilhar o mesmo caminho profissional, ele ficaria muito feliz. “É uma das profissões mais generosas que existem. Uma boa arquitetura é aquela que faz bem às pessoas”.

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