Tecendo Conhecimento: a jornada multidisciplinar de Rita Gnutzmann na arquitetura e além dela

Os anos 1990 foram duros para o Brasil. Crise política, desvalorização da moeda e recessão econômica. As incertezas vividas na época no mercado de trabalho criaram terreno fértil para uma das principais características de Rita Gnutzmann: a multidisciplinaridade. Arquitetura e Urbanismo, Educação Ambiental, Fotografia, Desenvolvimento de Software, Direito. A lista de formações de Rita  é extensa. “Enquanto ainda estudava, eram frequentes as matérias jornalísticas sobre profissionais de nível superior que precisavam ‘empreender’ em atividades como vender sanduíches na praia para sobreviver pela falta de oportunidades profissionais. Lembro claramente de um caso que me sensibilizou profundamente: a de um engenheiro que atuava nessas condições”, recorda Rita. O contexto da época a levou a desenvolver um currículo que permitisse ampliar as possibilidades profissionais através de estágios, cursos e especializações. Todavia, ela vê sua identidade fortemente vinculada à arquitetura e urbanismo, pois é nesta área onde encontrou sua verdadeira paixão e onde toda sua formação multidisciplinar converge.

Seu trabalho de conclusão de curso foi voltado à área da arquitetura hospitalar, quando ainda estudava na Universidade da Região da Campanha, em Bagé (RS), mas demoraria ainda para que a arquiteta pudesse trabalhar com esse setor que lhe interessava tanto. “O foco era me encaixar no mercado de trabalho e ganhar autonomia e independência, especialmente sendo mulher, sob alertas alarmantes de minha mãe”, explica a arquiteta. E foi assim que ela conseguiu seu primeiro emprego na Grande Porto Alegre, em uma empresa de softwares. A tecnologia CAD ainda era muito recente, e poucos escritórios utilizavam. Rita já conhecia os softwares, por ter feito um curso com a empresa que a contratou, e foi trabalhar com o desenvolvimento de um programa para arquitetura. Como o mercado estava instável, na primeira redução de pessoal a arquiteta perdeu o emprego e voltou para Bagé, onde abriu um pequeno escritório de reformas.

Em busca de melhores oportunidades para os filhos, sua família foi morar em Florianópolis (SC) e Rita arranjou um novo emprego na área da tecnologia. Nessa época, fez especialização em Marketing para Gestão empresarial, a fim de ter diferenciais no mercado de trabalho, mas nunca abandonou o sonho de trabalhar em projetos arquitetônicos, então seguiu na busca pela desejada vaga. Finalmente, a oportunidade surgiu quando ela se tornou sócia de um escritório de arquitetura que lhe permitiu ingressar no mercado de projetos de edificações em altura e prédios institucionais. Apesar do talento e dedicação, Rita enfrentou dificuldades para conquistar projetos de grandes construtoras devido às redes de influências e reservas de mercado existentes na época. De qualquer forma, ela seguiu ampliando clientes, fazendo projetos e aplicando tudo que tinha aprendido até aquele momento. 

Em certo momento, resolveu fazer um mestrado da área ambiental na instituição em que até hoje trabalha: a Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Após uma breve passagem pela fronteira, para onde seu marido foi transferido, ela conseguiu um contrato temporário na FURG para trabalhar como arquiteta, onde sua formação multidisciplinar e a capacidade de articular diferentes conhecimentos e habilidades foram fundamentais. Após muito estudo, Rita Gnutzmann foi aprovada em seu primeiro concurso para arquiteta na FURG, cargo em que atuou por cerca de 10 anos, inclusive se tornando diretora e conduzindo uma equipe de projetos em inúmeras obras, frutos dos investimentos federais na educação superior. Foi então que ela, finalmente, conseguiu se aproximar da arquitetura hospitalar. Ao perceber como o Direito Administrativo regia todos os aspectos do seu trabalho na faculdade, iniciou uma graduação na área. Ao final do curso, a arquiteta decidiu ingressar na docência, pois a viu como uma ótima possibilidade de alcançar o seu tão almejado objetivo de estabilidade. 

Rita acredita que a arquitetura e o urbanismo estão intrinsecamente relacionados a diversas outras áreas, como engenharia, meio ambiente, política e direito. “Se pensares em um empreendimento de algum porte, como um hospital ou um campus universitário, será imprescindível conseguir, no mínimo, compreender, debater e propor ideias que estarão relacionadas à engenharia, à responsabilidade socioambiental, à proteção do patrimônio cultural,  ao planejamento urbano e ao manejo da legislação aplicada a todas e a cada uma dessas áreas”. Além de sua carreira na universidade, Rita também se dedicou à fotografia como uma forma de expressão artística, paixão advinda de uma disciplina que teve quando cursava arquitetura. Ela desenvolve trabalhos relacionados à questão ambiental e vê na fotografia uma ferramenta poderosa para contar histórias e conscientizar sobre questões importantes.

Atualmente, Rita continua seu trabalho como docente na Universidade, coordenando um Programa de Extensão que trabalha com assistência técnica e pesquisas voltadas para o direito à habitação e ao urbanismo. Ela acredita que é fundamental buscar soluções para diminuir a desigualdade social e garantir o acesso à moradia para todos. Seu engajamento e sua visão ampla de diferentes áreas a tornam uma profissional completa e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. “Minha identidade é estreitamente vinculada ao prazer de aprender e não desistir de nada”, conclui Rita Gnutzmann.

Abaixo estão disponíveis algumas fotos. Para ter acesso ao portfólio completo, acesse o perfil do Instagram. O vídeo do projeto e fotografia artística Apokálypsis está disponível aqui.

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