Raul Gradim: dedicação ao serviço público e um olhar permanente na realidade

Diversos projetos que culminaram na construção de agências bancárias do Banco do Brasil em pequenos e grandes municípios do Centro-Oeste e do Nordeste brasileiro levam a assinatura da equipe do arquiteto e urbanista Raul Gradim. Por 30 anos, ele se dedicou ao serviço público na área de Engenharia do BB – setor responsável pela construção de agências bancárias em cidades com distintos perfis de população e desenvolvimento urbano. Como gestor da área do banco baseado entre Brasília (DF) e Recife (PE), desenvolveu projetos e fiscalizou obras que resultaram em empreendimentos que levaram o sistema financeiro a muitas cidades que não contavam com o serviço.

Uma trajetória profissional intensa no serviço público nunca o afastou das especificidades da profissão de arquiteto e urbanista. Manteve o olhar sobre as dificuldades de infraestrutura urbana do país – algo que se refletia também junto à sua equipe do banco: sempre estiveram muito ligados ao que acontecia fora do ambiente corporativo, o que incluía uma preocupação constante com acessibilidade, inovação e design nas agências bancárias. Além da atuação na estatal federal, Gradim sempre manteve o seu próprio escritório, participando de muitos projetos em parcerias com amigos.

Hoje, aos 65 anos e aposentado do BB, o arquiteto e urbanista natural de Marília (SP) e formado pela Universidade de Brasília (UnB) na turma de 1980, carrega em seu currículo vivência e conhecimento da realidade brasileira quando o assunto é a crise habitacional instalada no país. Entre 2016 e 2018, convidado pelo Secretário Thiago de Andrade, foi assessor especial na Secretaria de Gestão do Território e Habitação do Governo do Distrito Federal, onde chefiou o Escritório de Projetos e coordenou o Grupo Técnico Executivo para a implantação do Programa Habita Brasília, cujo propósito era proporcionar moradia digna aos cidadãos, considerando o planejamento das cidades, a regularização fundiária e o combate à grilagem. O trabalho foi realizado próximo da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB).

O programa criado no governo de Rodrigo Rollemberg era fundamentado em cinco eixos – Lote Legal, Projeto na Medida, Morar Bem, Aluguel Legal e Portas Abertas – atendendo às famílias inscritas nas listas da CODHAB. “Foi um trabalho feito lado a lado com a companhia, que na época era chefiada pelo Gilson Paranhos, trabalhamos juntos neste suporte. Lembro que corria muito para viabilizar todas as questões que envolviam licenciamento e articulação junto às secretarias de governo para garantir toda a infraestrutura necessária às moradias e áreas contempladas no programa”, afirma.

Fazer ‘acontecer’ o programa habitacional em Brasília exigia um esforço intensivo junto aos diversos órgãos do governo, pois os projetos precisavam ser aprovados em todas as esferas, inclusive a ambiental. “Deixamos vários projetos prontos para serem implantados, mas, como o programa foi lançado na segunda metade do governo Rollemberg, parte da implantação, na prática, acabou ficando para a próxima gestão.” Para Gradim, foi um trabalho intenso e gratificante direcionado à população de baixa renda na faixa de um a três salários mínimos. No entanto, pela dimensão dos projetos não era possível concluí-los em apenas um governo. “São ações que precisam de mais de uma gestão para serem totalmente implantadas. O programa continua no atual governo, mas como não estou mais lá, não posso afirmar o viés que vem sendo desenvolvido”, afirma.

Para o arquiteto e urbanista, iniciativas como o Habita Brasília, assim como outras no modelo de assistência técnica em habitação, têm como ponto central do trabalho a realidade imposta nas comunidades. “Têm coisas que não adianta. Se o arquiteto não estiver lá, se não pisar na terra e não sentir o cheiro do local, a chance de errar no projeto é muito grande. É preciso fazer parte da comunidade onde se vai atuar, se envolver com seus líderes para, de fato, identificar a verdadeira liderança e conhecer de perto todas as demandas”, pontua Gradim, que durante sua passagem pelo programa destaca que foram confeccionadas e entregues pela CODHAB cerca de 70 mil escrituras, todas referentes à regularização fundiária para a população de baixa renda.

Conselheiro federal do CAU/DF e integrante do Conselho Superior do IAB/DF, Gradim é convicto ao afirmar que arquitetos e urbanistas brasileiros já despertaram para a atuação fora dos chamados “grandes projetos”. Parte desse despertar, segundo ele, já ocorre dentro das próprias universidades, cujos coordenadores de cursos começam a agregar na grade de ensino a importância de novos focos na profissão. “Existe um vasto mercado de trabalho a ser explorado fora do eixo dos grandes projetos, especialmente o mercado popular de arquitetura. Precisamos fazer com que esse segmento seja enxergado”, destaca.

Apesar do crescimento do interesse profissional por este mercado, ainda engatinham as ações voltadas à arquitetura de caráter social. As grandes iniciativas em assistência técnica partem de entidades como o CAU, o IAB e a FNA, que juntas, conseguem agregar um número expressivo de pessoas para esta finalidade.  “De uma forma geral, vêm sendo realizadas muitas jornadas de Athis em parceria com escolas de Arquitetura e Urbanismo e, a partir disso, muitos alunos já começam a definir o seu futuro campo de atuação. São pessoas que enxergam a possibilidade de trabalhar na sua própria cidade de origem, resolvendo as demandas e levando soluções para a sua própria comunidade. Algo muito difícil de ocorrer no passado”, afirma Gradim.

 

Foto: Carolina Jardine

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