Pesquisa, trabalho e inspiração ao lado do mestre

Se pesquisar a obra e vida de Oscar Niemeyer já é algo de grande importância para quem almeja ser arquiteto e urbanista, estudar e ter tido a oportunidade de trabalhar diretamente com ele é uma conquista e um privilégio sem preço e sem medida. Pois foi justamente o que aconteceu com o arquiteto e urbanista Danilo Matoso Macedo que, tão logo foi aprovado em concurso da Câmara dos Deputados, em 2004, recebeu a incumbência de fazer a manutenção ou reforma de estruturas importantes para Brasília.

“As alterações no Palácio do Congresso eram tarefas para as quais, até então, o escritório de Oscar Niemeyer era contratado, mas isso naturalmente teria sua limitação. Era necessário estabelecer parâmetros mais objetivos de preservação e expansão do conjunto”, lembra Danilo. O trabalho se desenvolveu em parceria, em uma espécie de co-autoria. Niemeyer propunha os croquis primários, desenvolvidos pela equipe de Danilo. “Foi um período em que se reestruturava a coordenação de arquitetura, optamos por dar foco em acessibilidade, sustentabilidade e preservação do patrimônio edificado, e coube-me este último tema”, conta.

O primeiro grande trabalho que Danilo desenvolveu na Câmara foi a reforma dos apartamentos funcionais dos deputados federais. O projeto teve início em 2004, mas foi concluído somente em 2012. “Refazer uma superquadra, mantendo o projeto da cidade, é uma oportunidade que pouquíssimas pessoas têm”, lembra. O arquiteto também trabalha com a estrutura urbanística da cidade em áreas importantes, como a Praça dos Três Poderes.

O interesse pela obra de Niemeyer e a arquitetura moderna começou nos idos anos de 1992, quando ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minhas Gerais (UFMG). “Havia uma conexão entre Belo Horizonte (MG) e Brasília. Em primeiro lugar, as duas cidades foram planejadas, só que BH há mais tempo. Então, me dava um certo alento ver que as cidades planejadas também envelheciam, não ficavam com cara nova, pasteurizada, como eu tinha visto em Brasília. Em segundo lugar, a parceria de Niemeyer e Juscelino Kubitschek começou em Minas Gerais”, argumenta

Em foto de 1995, aprendendo com o ‘arquiteto, e não o mito’

As obras de Niemeyer também foram referência quando Danilo ganhou a bolsa de iniciação científica. Ao ingressar no mestrado em Arquitetura Moderna, fez um trabalho de recuperação da documentação das obras do arquiteto em MG. Era um trabalho inédito, conta ele. “Redesenhei tudo. Olhei em detalhes as obras concretas, tentando aprender com o Niemeyer arquiteto, não o mito”, diz. O trabalho contemplou de 20 a 30 obras projetadas para cidades como Ouro Preto, Cataguazes, Diamantina e Belo Horizonte.

Do estudo surgiu a oportunidade de tornar-se escritor, com a publicação da sua tese no centenário de Niemeyer, em 2007, e professor universitário, ofício que exerceu antes de ser aprovado no concurso da Câmara dos Deputados. A atuação no setor público foi sugestão do seu pai. A oportunidade de trabalhar com patrimônio público federal trazia não apenas estabilidade e melhores condições financeiras, mas uma posição profissional para ele ímpar. “A área técnica na Câmara é muito antiga e respeitada. Ser arquiteto no poder público me dá a oportunidade de lidar com temas que nem todo mundo pode lidar”, pontua. Paralelamente ao trabalho na Câmara, o arquiteto mantém escritório particular com quatro sócios, já tendo sido premiados em diversos concursos de projetos.

A paixão pela arquitetura, pelo patrimônio público e o trabalho exercido na Câmara dos Deputados também o aproximaram da política e da militância sindical. “Já na época do doutorado, entre 2013 e 2017, pesquisando sobre o Brasil Colônia, comecei a me dar conta que a gente não é índio, não é selvagem, mas uma civilização, que tem sua cultura própria.” A pesquisa do arquiteto então envolvia um exaustivo levantamento dos impressos de arquitetura no Brasil Colônia. “Me dei conta então que a arquitetura – num sentido amplo – poderia ser uma ferramenta para fazer alguma coisa pelas pessoas, pelas cidades, pelo patrimônio. É um legado material às futuras gerações, uma manifestação concreta do pensamento”, conta.

No escritório de Copacabana, Niemeyer e Danilo conversam sobre o projeto em andamento, em foto de 2009. Na mesa, está a publicação de mestrado de Danilo sobre as obras do mestre, em Minas

Danilo participou, então, da criação da Frente Ampla de Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia, e se engajou em diversos movimentos sociais. Atualmente, é coordenador do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Distrito Federal (Arquitetos DF) e sua luta está em defender os arquitetos e urbanistas do desmonte realizado pela atual administração do Governo do Distrito Federal (GDF).

 

Fotos: Arquivo Pessoal / Danilo Matoso

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