A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) é uma entidade que tem como seu principal pilar a luta pelo direito à cidade. Com isso, demonstramos total apoio a iniciativas relacionadas ao combate da pobreza energética nos grandes centros urbanos e para além destes. Nosso dever consiste em motivar arquitetos(as) e urbanistas a ter diálogos realistas sobre a democratização de energia de qualidade junto à população.
O Instituto Pólis organizou na última quarta-feira (30/10) o Jantar Solar, evento que reuniu movimentos de moradia e organizações da sociedade civil (OCS) para debater e pensar a importância da transição energética justa no Brasil. O momento detalhou a experiência que o instituto expressa na formação de coletivos solares na Zona Leste de São Paulo. Andréa dos Santos, presidente da Federação, esteve presente.
A iniciativa busca detalhar as ações quanto ao uso alternativo da energia solar na geração de energia elétrica pelas microusinas e empreendimentos habitacionais construídos em autogestão com a participação do Movimento Sem Terra (MST) Leste 1.
A criação do Coletivo de Energia Solar se propõe a construir uma tecnologia social para a criação de coletivos que contribuam com o olhar popular sobre transição energética justa, de modo a levar energia sustentável, de qualidade e baixo custo aos beneficiados, a fim de reduzir os gastos dos moradores.
O projeto, fomentado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), é realizado por meio de oficinas participativas, processos de autogestão habitacional, cursos de capacitação e oficinas participativas, enquanto organização coletiva feita com mutirões e integrantes de movimentos de luta por moradia baseada nos princípios da participação, ajuda mútua, saber popular, solidariedade e justiça social.
O coletivo iniciado em 2023 no Conjunto Habitacional Paulo Freire dá autonomia aos moradores que fazem a gestão e administração da energia elétrica consumida pelas áreas comuns do local, também fomenta a educação infantil em torno de questões envolvendo mudanças climáticas.
Segundo o diretor executivo do Instituto, Rodrigo Iacovini, “o Pólis entendeu que os movimentos de moradia por já trabalharem no planejamento, na concepção e na implementação de seus empreendimentos habitacionais, já tem uma expertise em como trabalhar a autogestão na geração de energia solar”.
A instituição busca expandir o tema da energia solar para os moradores de comunidades contempladas pelos coletivos de energia solar, enquanto principais beneficiários do projeto. Os coletivos são fomentados de modo a planejar a captação de recursos para implementar placas e microusinas para geração de energia a partir de placas fotovoltaicas, motivando a administração, compra, instalação e manutenção do equipamento, podendo prestar serviços.
O Coletivo vem de satisfazer uma necessidade básica e com isso combater a pobreza energética desses moradores, bem como gerar renda extra e redistribuir riqueza. Ou seja, é um exemplo de justiça climática que enfrenta as desigualdades.
Uma das formas de reverter tais desigualdades é através da geração de energia descentralizada pelas próprias comunidades, feita de maneira autogestionária, a fim de democratizar a infraestrutura urbana e trazendo resultados positivos para o direito à cidade.
“O direito à cidade é a constituição coletiva dessa cidade. A gente constrói a cidade quando produzindo em autogestão, ou quando estão indo trabalhar, ou quando a gente está indo na escola. Todos nós construímos a cidade no nosso cotidiano. E se a gente constrói a cidade no cotidiano, a gente deveria ter direito também a dizer como a cidade deve ser, o que a gente deseja para a cidade e como ela pode ser melhor para a gente”, conclui o diretor executivo.
A Federação segue apoiando e trazendo oportunidades de partilhar o conhecimento nas mais diversas áreas da arquitetura e urbanismo a fim de impulsionar a transformação nos modos de fazer e pensar a profissão e seus conceitos, criando oportunidade para o fortalecimento do campo de atuação profissional, atuando pelo trabalho, pela arquitetura e urbanismo e pela sociedade.
Fotos: Rodrigo Iacovini