A tecnologia transformou os setores da construção, mas seus impactos devem aumentar ainda mais nas próximas décadas, principalmente sobre os trabalhadores e trabalhadoras. Mais do que novos materiais, as ferramentas digitais surgem para revolucionar as relações e o modo como hoje se trabalha. O assunto foi o tema central da primeira tarde de debates do ICM Festival Mundial da Juventude, evento internacional de jovens ligados à Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM). O encontro reúne cerca de 100 profissionais de 40 países na cidade de Didim, na Turquia.
Representando a delegação brasileira e a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), a arquiteta e urbanista Iara Beatriz Falcade Pereira (Diretora Geral do SINDARQ-PR) participou do painel “Tecnologia nos setores da ICM: Explorando o futuro digital”, que também contou com Blessing Nhende (Zimbábue), Osei Puku, (Gana) e Ramon Linger (Holanda).
Única arquiteta e urbanista presente no encontro, mas que trabalha como bioconstrutora, Iara falou sobre a digitalização da arquitetura no Brasil e os novos desafios da profissão tanto no âmbito das cidades quanto do campo. Durante sua fala, apresentou a FNA e ainda detalhou o projeto Solare, iniciativa da federação de fomento ao conhecimento para viabilizar a democratização da tecnologia dos Softwares Livres como ferramentas atuais da categoria como classe trabalhadora. “Os debates foram extremamente ricos. Tivemos diversas perguntas provocadoras que nos fizeram refletir sobre os ganhos e impactos das questões tecnológicas no nosso dia a dia”.
Ao tratar de tecnologia, o encontro também debateu o impacto da Inteligência Artificial e a urgente atenção que precisa ser dada à saúde mental dos profissionais. Com um viés realista de quem sabe que esse é um caminho sem volta, os representantes internacionais fizeram uma leitura crítica da situação e de seus reflexos no médio e longo prazo. “A tecnologia precisa ser vista como uma ferramenta para diminuir as horas de trabalho do profissional e não para aumentar”, argumentou, extraído conclusões de um dia de trabalho fervilhante.
No geral, argumenta Iara, as pessoas do ramo da construção têm um certo receio de aderir à tecnologia devido a um certo sentimento de substituição, muitas vezes alicerçado na ação de aplicativos que fazem projetos e outras disputas de mercado. “Vimos um público jovem aqui, que não tem medo da tecnologia, mas que sabe que ela é ferramenta e posiciono que ela precisa ser vista com ressalvas principalmente em tempos de crise climática, social e política”.
Iara ainda lembrou que a extração de matéria prima para a indústria de tecnologia mundial segue ocorrendo no Hemisfério Sul enquanto as conquistas tecnológicas e agregação de valor vêm do Hemisfério Norte. “Precisamos tratar sobre isso porque é algo que tem impacto sobre os nossos territórios do sul global, e principalmente os territórios tradicionais e originários”, alertou.
O evento contou com a presença do presidente geral da YOL-IS, Ramazan Agar, que conduziu homenagem a lideranças da Ucrânia e Palestina. O encontro segue até sexta-feira.
Fotos: FNA