Entender a complexidade do patriarcado e da sobrecarga feminina imposta pela sociedade brasileira é o pontapé inicial para compreender os problemas das mulheres no mercado de trabalho. A ideia, defendida pela presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Distrito Federal (Arquitetos-DF), Luciana Jobim, trouxe o cerne do debate promovido pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) na noite desta quarta-feira (8/3). A live “8M: A trajetória feminina contra a discriminação de gênero na arquitetura e urbanismo” ainda reuniu a conselheira do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Santa Catarina (SASC) Vania Burigo e a diretora de Relações Sindicais e Institucionais do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de São Paulo (SASP), Marineia Lazzari. A mediação ficou por conta das diretoras da FNA Fernanda Lanzarin e Dânya Silva.
“As mulheres estão sobrecarregadas por cuidar dos filhos, da casa e do trabalho. Vemos isso até na licença maternidade, de quatro meses para a mulher e de 15 dias para o homem. Desde o início, toda a responsabilidade de criação está nas nossas mãos”, defendeu Luciana. Vania complementa a ideia, destacando que inúmeras profissionais deixam de se dedicar à profissão justamente pela falta de tempo na vida pessoal. “Eu acredito que os filhos são também encargos da sociedade. Durante minha trajetória profissional, sempre defendi que meu primeiro horário dentro de uma obra tinha que ser compatível com o horário da escola dos meus filhos”. As participantes destacaram a importância de políticas públicas voltadas às mulheres e de pensar as cidades, a legislação, a mobilidade e a educação como uma forma de rede de apoio. Não só no que se refere à maternidade, mas também à segurança de ir e vir e de se fazer presente nas diferentes áreas de atuação.
Incentivando a discussão, Marineia apontou a necessidade de também vermos arquitetas e urbanistas em diferentes locais de poder. “Precisamos estar nas universidades, na política, encabeçando entidades, presentes no legislativo. Só assim poderemos reestruturar a sociedade pensando nas necessidades das mulheres”. Vania e Luciana destacaram a forte presença feminina nos trabalhos voltados à Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS). “A maior parte das beneficiadas de moradias sociais são mulheres periféricas, mães de família. A forte presença de profissionais mulheres dentro da arquitetura social é justamente por compreender as necessidades uma da outra, mesmo que a realidade de classe ou de raça seja diferente”, ressalta Luciana.
O debate, promovido pelo GT de Equidade e Interseccionalidade, está disponível no Canal do YouTube da FNA. Até o final do mês de março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a entidade trará histórias de diferentes profissionais e suas dificuldades no ambiente de trabalho. O primeiro perfil, já publicado, é da arquiteta e urbanista Karol Almeida, responsável pelo Kopa Coletiva, empresa destinada a reformas e projetos dentro da periferia.