Fazer arquitetura além da própria bolha social

Lucas Rozzoline se considera um sujeito comum. No entanto, seu currículo revela o contrário. Aos 35 anos, ele é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), estudou na Università Sapienza de Roma, na Itália, é mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e, também ocupa a cadeira da presidência do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE). Em março passado, o arquiteto também assumiu o cargo de coordenador adjunto do Fórum dos Presidentes do CAU Brasil. As suas diferentes experiências, seja na área acadêmica, seja nas entidades em que participou, são fruto de sua inquietude. Nascido no dia 4 de dezembro, mesma data que se celebra o dia de Iansã, Rozzoline se identifica profundamente com a Orixá dos ventos e das tempestades. A característica em comum é, justamente, o desejo de estar sempre em movimento. 

Natural da periferia de Salvador (BA), o arquiteto e urbanista se mudou para Fortaleza (CE) quando ainda era criança. Filho de pedagogos e teólogos, ele sempre se manteve conectado com as questões de humanidade e melhorias de vida. Isso, de certa forma, o ajudou a escolher o curso de Arquitetura e Urbanismo em 2004. Dois anos depois, com 19 anos, movido pelo desejo de viver novas experiências, Rozzoline foi estudar na Europa. Entre as aulas, ele trabalhava como garçom para conseguir se manter no país italiano. “Essa convivência me fez aprender muito sobre negociação, empatia, gestão de pessoas e, principalmente, a ser criativo na resolução de problemas”, conta. Entre 2011 e 2012, frequentou a Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla e, após esse período, com 25 anos de idade, decidiu retornar ao Brasil para concluir a graduação.

Apesar do período no exterior, foi na capital cearense que ele estruturou toda a sua carreira na Arquitetura. A primeira experiência após a formatura foi na Prefeitura de Fortaleza (CE), dentro da Coordenadoria de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC). Em 2015, abriu o próprio escritório onde começou a trabalhar com projetos relacionados à cultura, edifícios residenciais, comerciais e institucionais. “Eu tenho um pé muito forte no Patrimônio devido a minha formação italiana, mas, hoje, eu me sustento trabalhando em obras. Gosto de me envolver do projeto até a entrega final”, declara. 

Entre uma construção e outra, Rozzoline também dedica grande parte do seu tempo ao CAU/CE. Sua história com a entidade começou devido às repetidas dúvidas em torno da profissão. “Até que um dia um dos funcionários brincou dizendo que eu deveria me candidatar. Eu respondi, ironicamente, que ia concorrer”. A brincadeira se tornou algo sério. Em 2018, o arquiteto montou uma chapa para concorrer às eleições do Conselho, que, pela primeira vez, teve duas chapas disputando o pleito. No primeiro ano, ele foi conselheiro, no segundo, coordenador da Comissão de Ética, depois, vice-presidente e, em 2021, assumiu a presidência da entidade. “Os meus colegas queriam muito, mas eu tinha um pouco de medo de me candidatar por ser muito jovem”, confessa. 

O primeiro ano foi muito desafiador. Parte devido à pandemia de Covid-19, mas também aos impasses da própria categoria. De acordo com o arquiteto, existe no Ceará uma ‘guerra fria’ entre gerações de arquitetos antigos e novos quando o assunto é se adaptar às necessidades de promover inclusão e diversidade dentro da profissão. De certa forma, ele se tornou um dos representantes dessa ruptura. “É importante manter o diálogo e o respeito, mas precisamos ser firmes em defender uma sociedade mais justa e inclusiva para todos”, pondera.

Rozzoline assumiu a presidência do CAU/CE no segundo – e pior – ano da pandemia. Ele considera, entretanto, que mesmo com os desafios da distância, a gestão atual sempre esteve preocupada em promover equidade e debater questões sociais. É a primeira vez, em dez anos de Conselho, que a entidade colocou uma mulher no cargo de conselheira federal, a arquiteta urbanista Claudia Sales – sendo, também, a primeira mulher negra a ocupar o cargo em todo o país. “Não investir em igualdade é sabotar o capital humano, a segurança e a sociedade”, afirma. Mesmo reconhecendo os inúmeros privilégios que lhe é garantido – “sou homem, hétero e branco” -, ele busca ler o mundo para além da sua bolha social. “Eu estudo e procuro entender muito sobre diversas coisas, me colocar em diferentes posições e ver o mundo na perspectiva dos outros. Isso me ajuda muito a ser o profissional que eu sou”. 

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