Ex-atleta, arquiteto e construtor de sonhos

O espírito esportivo, característico dos atletas, e a afinidade com o design são traços de personalidade que ajudaram o arquiteto e urbanista Edgard Gouveia Junior a delinear sua trajetória profissional de forma entrelaçada com o seu ideal de vida. Especialista em Jogos Cooperativos pela Universidade Monte Serrat, São Paulo, ele usa os conhecimentos adquiridos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo para entender realidades distintas e lidar, de forma artística, humana e técnica, com a complexidade. Consultor e palestrante internacional nas áreas de protagonismo juvenil e games cooperativos, é professor da pós-graduação da Universidade Monte Serrat, de São Paulo, no curso Desenvolvendo Comum-unidades. Também dá aulas em Florianópolis, Brasília e Rio de Janeiro. Hoje, ele desenha processos humanos por meio de games e relacionamentos. 

 

Já faz mais de 20 anos que Edgar dedica-se a projetos sociais. Natural de Santos, região metropolitana do estado de São Paulo, conta que desde menino sempre gostou de desenhar. Após ser jogador profissional de voleibol durante sete anos, dos 16 aos 23, largou o esporte para cursar Arquitetura e Urbanismo na FAU Santos. Antes disso, fez curso técnico em Edificações. Foi durante a faculdade que teve o primeiro contato com o movimento estudantil, por meio da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura (FeNEA). Esta vivência foi determinante para delinear o rumo da vida profissional e pessoal de Edgard.

 

Nessa época, começou a participar dos EREAs e ENEAs – Encontros Regionais e Nacionais de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo e teve contato com jovens do Norte e Nordeste, principalmente do Pará e do Ceará. Foi quando Edgard deparou-se com uma realidade distinta da que até então conhecia. “Eles já traziam essa discussão das cidades que desenhamos e designamos”, recorda o arquiteto. A partir de então, passou a integrar a organização destes eventos.

 

“Foi uma geração que influenciou a América Latina”, considera Edgard, que ingressou na faculdade no final da década de 80. Isto porque, neste período, as oficinas e workshops começaram a ser realizados nas favelas, fora dos campus universitários. Já no segundo ano de faculdade, começou a ter contato com tecnologia intuitiva e bio-arquitetura no Instituto Tibá, no Rio de Janeiro. “Me encantei com a proposta de telhados-verdes. Minha relação com o social e o ambiental ficou mais forte a partir deste momento”, recorda. Logo depois de formado, em 1993, foi para o Rio de Janeiro trabalhar como pesquisador do Instituto Tibá.

 

Em 1996, voltou à sua cidade de origem e integrou o projeto Reviver, de revitalização do Museu de Pesca, em Santos. Foi quando, coordenando estudantes de Arquitetura e Urbanismo, se deu conta que era possível fazer muito com pouco. O grupo de jovens bolou técnicas de reorganização e, ao mesmo tempo, propôs intervenções arquitetônicas inovadoras, garantindo a preservação das características do edifício. O projeto mostrou que, com o estímulo e a participação da comunidade local, é possível transformar.

 

Instituto Elos

 

Em 2000, Edgard foi um dos fundadores do Instituto Elos, uma ONG sem fins lucrativos focada em desenhar e realizar estratégias para construir coletivamente um mundo melhor, projeto no qual atuou por nove anos. O projeto Guerreiros Sem Armas, iniciativa que reúne jovens de todo o mundo e lideranças em suas comunidades para o trabalho de empoderamento e desenvolvimento de habilidades empreendedoras, é um dos principais programas do Instituto Elos. Por meio do jogo Oasis, ferramenta mobilização cidadã para a realização de sonhos coletivos, o projeto se utiliza da tecnologia para organizar gincanas e reunir pessoas.

 

“Foi a minha principal escola”, afirma Edgard referindo-se ao game Oasis. Segundo o entusiasta, o segredo para construir espaços com mais qualidade de vida é olhar a abundância onde há escassez e valorizar o sonho como o melhor impulso para a mudança. Composto por jogadores e comunidade, o Oasis propõe regras que permitem a vitória de todos, sem exceção. O desafio pode ser construir uma creche, uma praça ou um centro cultural, não importa. A grande sacada é a filosofia desta convocação para tornar um sonho realidade. “Nós chamamos para brincar, e não para trabalhar”, destaca Edgard.


Play The Call

 

Mas o arquiteto e urbanista sentiu necessidade de ampliar os horizontes e mergulhar em um projeto que tivesse um poder de transformação mais global e em um curto espaço de tempo. Porém, para isso, era necessário desenvolver uma ferramenta. Em novembro de 2009, em busca de um start, Edgard partiu para uma volta ao mundo que durou até maio de 2012. Ele recorda exatamente aonde estava quando finalmente teve a luz que precisava para iniciar o novo projeto, o Play The Call – game “proibido” para maiores de 18 anos.

 

Era setembro de 2010 e Edgard estava visitando o templo Ta Prohm, em Camboja – o local é formado por árvores que cresceram a partir de ruínas. “Veio a inspiração completa de como começaria o jogo”, lembra Edgard. Em escala global, a ferramenta usa a Internet para mobilizar principalmente crianças e jovens de 8 a 18 anos. “Usar superpoderes para mobilizar o maior número de pessoas para fazer um mundo melhor”, resume o idealizador. O objetivo é, também, atingir o público adulto – familiares, vizinhos, amigos e até desconhecidos.

 

Entre os desafios, pode estar plantar uma floresta inteira ou apenas transformar o seu bairro. Baseado na ideia de que fazer junto é mais divertido e que esse é o jeito mais fácil para salvar o mundo, a missão principal do Play The Call é criar uma ação em conjunto com o mundo inteiro. “Meu objetivo é mobilizar e salvar a bioesfera. Eu quero que as próximas gerações possam ver uma baleia azul e nadar em um rio limpo”, projeta Edgard. Para chegar lá, a meta do arquiteto e urbanista é mobilizar 2 bilhões de pessoas até 2019.

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