Construir Cidades para Todes: como a arquitetura auxilia na segurança da população LGBTQIA+?

O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Uma estimativa do Grupo Gay da Bahia (GGB) indica que um LGBTQIA+ morre a cada 20 horas no Brasil. Apesar de ser crime, a homofobia se estabelece como reflexo da falta de políticas públicas eficazes contra o preconceito. Mas a quem cabe o dever de estancar essa ferida? Como as cidades e os arquitetos e urbanistas, como agentes de cidadania, podem proteger essa população? É o que a Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) pretende responder ao longo de junho, mês que marca as ações pelo movimento do orgulho LGBTQIA+. Por meio do especial “Construir Cidades para Todes”, a FNA contará a história de profissionais que atuam em busca de municípios inclusivos e de uma arquitetura mais plural.

O arquiteto e urbanista e criador da página Cidade Queer, Gabriel Pedrotti, explica que “o direito à cidade para pessoas LGBTQIA+ ainda é muito cerceado, principalmente na questão de não conseguirmos acessar alguns lugares por questões de segurança”. A batalha de inserção e proteção da comunidade dentro dos espaços públicos é um desafio do desenvolvimento urbano. A secretária de Educação, Cultura e Comunicação Sindical e coordenadora do Grupo de Trabalho de Equidade e Interseccionalidade da FNA, Fernanda Lanzarin, explica que é urgente “pensar em um urbanismo mais inclusivo. Projetar espaços mais abertos e acolhedores e que possibilitem a convivência da população local com diferentes tipos de vivências e corpos. Precisamos ampliar os acessos a todos os cantos e promover uma ocupação diversa nas cidades”.

O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e idealizador do projeto de pesquisa Arquitetura Bicha, Clevio Rabelo, destaca também que áreas importantes da Arquitetura, como grandes projetos e desenvolvimento territorial, ainda precisam da presença de profissionais LGBTs. “Se você diz que existe bicha na decoração, está tudo bem. Agora, dizer que essas pessoas estão na Arquitetura, não é aceito. E a sensação é de que a gente está querendo invadir essa Arquitetura com ‘a’ maiúsculo”. O profissional ainda salienta a necessidade de construir cidades mais plurais feita por arquitetos e arquitetas plurais. “Afinal, as cidades nunca foram um lugar seguro para as pessoas LGBTQIA+, pois não são elas que as constroem”, acrescenta a arquiteta e urbanista, que já atuou no programa Minha Casa Minha Vida, Anne Ranyelle Gonçalves.

O 1º Diagnóstico “Gênero da Arquitetura e no Urbanismo”, realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil) em 2019 e 2020, mostra que 28,05% dos arquitetos homens se consideram LGBTQIA+. Nas mulheres, o número atinge 12%. Os profissionais transgêneros e não-binários são 0,92%. De acordo com o relatório, os percentuais, entretanto, provavelmente sejam maiores aos levantados, considerando que muitas pessoas preferem não revelar sua orientação sexual ou transexualidade. O objetivo do estudo, que aborda outras questões de gênero como a disparidade entre homens e mulheres, é abrir um debate ainda recente nesse  campo de atuação e que possa qualificar a pauta e abrir portas para um aprofundamento do diálogo e ações futuras nessa esfera.

Escutar a população LGBTQIA+ e fazer com que a própria comunidade tenha poder de decisão sobre a cidade também são ferramentas essenciais. “Não só dentro da categoria da arquitetura, mas precisamos de representatividade no poder público, no legislativo e no executivo dos municípios também, que são os órgãos que podem aprovar projetos e fazer as ideias acontecerem. Precisamos ter profissionais e a população LGBTQIA+ presentes na maior quantidade de locais possíveis”, destaca Fernanda.  

Se você se interessou pelo tema, comece a repensar suas atitudes agora. Marque na agenda e programe-se para escutar esses arquitetos e arquitetas que têm muito a dizer. Os perfis do especial “Construir Cidades para Todes” entram toda terça-feira, até o final do mês de junho, e pretendem dar visibilidade a projetos que desenvolvem cidades preocupadas e atuantes pela população LGBTQIA+.

Confira a agenda:

7 de junho – Clevio Rabelo
14 de junho – Anne Ranyelle Gonçalves
21 de junho – Gabriel Pedrotti

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