Uma programação diversificada com exibições de vídeos, premiações e palestras marcou o evento organizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU Brasil) em celebração ao Dia do Arquiteto e Urbanista 2022. O encontro foi realizado na tarde desta quinta-feira (15/12), no Auditório do Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro (RJ). A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) foi representada na solenidade pela atual presidente, Eleonora Mascia, que esteve presente na mesa de abertura, e pela presidente recém eleita, Andréa dos Santos.
Nadia Somekh, presidente do CAU Brasil, agradeceu pelo acolhimento da equipe do Museu que recebeu a cerimônia, e destacou que neste ano a comemoração foi original e diferente dos anos anteriores. “Estamos muito contentes também de estarmos aqui neste ícone de arquitetura que congrega a intervenção contemporânea e o patrimônio histórico”, destacou.
Em um rápido balanço da gestão, Nadia mencionou que o CAU Brasil passou 10 anos se consolidando. “Na nossa gestão a gente quis mudar e inovar. Fui eleita conselheira federal e junto com os meus colegas fizemos uma proposta de gestão inovadora na questão de ampliar o trabalho dos arquitetos. Foi realizada uma pesquisa em 2015 e 85% das edificações eram feitas sem arquitetos e engenheiros. Repetimos a pesquisa ano passado e passamos para 82%, ou seja, podemos dizer que 80% das construções são feitas sem a gente, sem projetos”.
Ainda segundo ela, temos hoje mais de 25 milhões de moradias precárias e perigosas para a saúde pública no país. “A Lei ATHIS é um acesso de como a população tem direito a melhoria a sua casa. Isso é algo que nos dá uma missão. Missão para mudar e inovar. Os conselheiros são voluntários e isso nos permite uma satisfação imensurável saber que podemos melhorar a vida da população brasileira nesse país. É um dia de celebração. Somos profissionais de projeto. Projeto de esperança e de melhorar nosso país com a nossa profissão”, ressaltou.
Athis 2022
Após a mesa de abertura aconteceu um momento com premiações durante a cerimônia. O CAU Brasil divulgou os Projetos Vencedores do Edital de ATHIS 2022 que destinou até R$ 1.500.000,00 para inciativas com foco em prevenção e mitigação de riscos e ações que visem a recuperação de áreas degradadas por desastres ambientais ocorridos no território brasileiro nos últimos 5 anos, entre 2018 e 2022. O edital de patrocínio foi uma ação do Programa Mais Arquitetos, campanha nacional por moradia digna com valorização profissional realizada pelo CAU Brasil desde 2021.
Após a exibição do vídeo dos projetos selecionados foi assinado o termo de fomento entre o CAU Brasil e representantes do projeto “Entre o parque e a favela” (Mesquita, Rio de Janeiro), um dos contemplados pelo Edital.
CAU Educa
O CAU Brasil também divulgou o Caderno CAU Educa, uma publicação desenvolvida pela Comissão de Política Urbana e Ambiental (CPUA), com o objetivo de promover entre crianças do Ensino Fundamental a construção de uma consciência urbana e ambiental.
A conselheira federal, Joselia da Silva Alves, explicou que o projeto promove a construção de uma consciência urbana e ambiental entre crianças por meio de um concurso público nacional que selecionou as melhores propostas, executadas ou não, de ações de valorização da arquitetura e urbanismo. “Não se trata de formar arquitetos e urbanistas e sim formar cidadãos e levar propostas de referência e educação”, mencionou.
Comenda de Honra ao Mérito da Arquitetura e Urbanismo João Filgueiras Lima – Lelé
Criada em 2017, é a principal honraria concedida pelo CAU Brasil e tem como propósito o reconhecimento de um profissional de arquitetura e urbanismo nacional ou estrangeiro radicado no Brasil que tenha prestado serviços relevantes para a população brasileira durante os exercícios das suas atribuições profissionais e/ou quando investidos de representações institucionais da profissão.
Até hoje, a Comenda de Honra ao Mérito da Arquitetura e Urbanismo João Filgueiras Lima – Lelé só havia sido concedida a um profissional, o ex-presidente do CAU Brasil, o arquiteto e urbanista, Haroldo Pinheiro. Neste ano, em decisão durante plenária, os conselheiros do CAU Brasil confirmaram a homenagem a um profissional que esteve à frente da arquitetura brasileira, Sérgio Ferraz Magalhães. Durante o evento, Nadia agradeceu o plenário do Conselho pelo reconhecimento prestado ao arquiteto e urbanista Sérgio Ferraz Magalhães.
Sérgio afirmou sua surpresa e emoção em receber a homenagem e questionou como o Conselho conseguiu aprovar em plenário a homenagem e conseguiu manter o segredo. “Fico muito emocionado em receber a Comenda que tem como patrono o nosso extraordinário arquiteto, colega, mestre: Lelé. Eu recebo muito orgulhoso essa distinção e recebo por todos que promoveram o Congresso Mundial de Arquitetos que teve início lá em 2013 quando estava no IAB. Não vou nomear todos, mas que possam se sentir contemplados com este prêmio”.
Elizabeth de Portzamparc e a Nova Arquitetura
Ainda nas comemorações do Dia do Arquiteto e da Arquiteta e Urbanista 2022, os profissionais presentes ao Museu de Arte do Rio (MAR) foram brindados com uma apresentação de uma das mulheres de maior destaque no cenário internacional da Arquitetura e Urbanismo. Elizabeth de Portzamparc, arquiteta e urbanista brasileira radicada na França, é autora de obras emblemáticas no Brasil, na França e na China.
A arquiteta e urbanista construiu desde bairros inteiros, passando por centros de ciência, museus, até uma monumental torre de 262 metros de altura em Taiwan. Na solenidade promovida pela CAU Brasil e pelo CAU/RJ, ela apresentou projetos revolucionários e os conceitos que embasam a sua “Nova Arquitetura”.
“A escala urbana foi a minha primeira paixão. Esse desejo de agir na sociedade e no mundo, de ser um agente de transformação”, afirmou a uma plateia de mais de 200 arquitetos e urbanistas e estudantes presentes à solenidade realizada no Rio de Janeiro.
Na França, fundou e dirigiu o Ateliê de Urbanismo Participativo da cidade de Antony. “Eu decidi que meu trabalho seria criar costuras, desfazer as visões funcionalistas”, disse. “A qualidade de uma cidade depende da diversidade dos seus espaços urbanos”.
Elizabeth apresentou os dez pontos principais de sua “Nova Arquitetura”, uma prática capaz de responder aos desafios da contemporaneidade e do futuro. “Mas e por que Nova Arquitetura? Eu não sabia como chamá-la. Ecossistêmica? Regenerativa? Autopoética?”, disse Elizabeth. “Todo esse trabalho foi focado na urgência ambiental, visando o longo prazo e produzindo economia circular local”. Segundo ela, essas soluções são aplicadas em todos os seus projetos.
Na torre Taichung Intelligence Operation Center, em Taiwan, é aplicado o conceito de Torre de 4ª Geração: prédios com espaços interiores conectados com a cidade através de ruas interiores e praças. O prédio está sendo construído após um concurso de projeto vencido pelo escritório de Elizabeth em parceria com o escritório Ricky Liu & Associates, de Taiwan.
Seu projeto para um Conjunto Residencial em Versalhes traz o conceito dos bairros verticais, com uma “densidade aprazível”. “Objetivos são favorecer interações entre atividades e pessoas e romper as barreiras entre animação urbana do solo e os espaços verticais”, disse. Para isso, o projeto reúne moradias de categorias mistas, com muitas áreas externas privativas, locais de vida comunitária, jardins e hortas comunitárias.
Na sua proposta para o concurso público da Marina da Glória, Elizabeth queria integrar totalmente o Parque do Flamengo com a construção de um centro cultural e um mirante para a Baía de Guanabara. “A ideia seria criar um lugar sem barreiras visuais ou físicas. A edificação prolonga o parque e o parque não atravessa a edificação”, disse.
A utilização de materiais locais é um dos conceitos principais do Hotel ‘Living in the Leaves’, em Huizhou, na China. “Utilizamos só materiais locais, como madeira e pedra, além de técnicas locais de trançados de vime”, disse Elizabeth. O projeto venceu o concurso arquitetônico ‘Ancient Tree Civilization and Residence Future’, promovido pelo Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA).
Na Biblioteca “Humatéque”, na cidade de Aubervilliers (França), Elizabeth teve a oportunidade de projetar tudo aquilo que falta nas bibliotecas clássicas. “Coloquei uma diversidade de espaços interiores, com um projeto flexível e sustentável que já inclui suas futuras extensões”, explicou.
O arquiteto e ubanista Sergio Magalhães, convidado para mediar o debate com Elizabeth de Portzamparc, afirmou que esses trabalhos mostram uma dimensão muito instigante do trabalho do arquiteto e urbanista. “Uma dimensão onírica, podemos assim dizer”, comentou. “Elizabeth conquistou sua autonomia profissional com uma produção espetacular.” A presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, agradeceu a apresentação e ressaltou a importância desses conceitos. “Tudo o que você nos traz cabe em 15 dias de aulas. Cada projeto deveria ser dissecado”, disse. “Você é uma arquiteta e urbanista cosmopolita.”
Fonte: CAU Brasil