Balanço UIARio2021: FNA leva para o mundo suas bandeiras permanentes de luta

A presidente da FNA, Eleonora Mascia, concedeu entrevista na manhã desta sexta-feira (23) à Rádio Arquitetura, onde falou sobre a participação da organização no 27° Congresso Mundial de Arquitetos – UIARio2021, na condição de uma das promotoras do evento global que se encerrou ontem. A FNA teve uma presença expressiva no evento que foi realizado desde março, a partir das Semanas Abertas, onde todos os interessados puderam acessar o conteúdo das lives e debates realizados pelo seu canal do Youtube.
Ao lado de entidades que compõem o Colegiado de Entidades e Arquitetura e Urbanismo (CEAU), a FNA promoveu diversas lives ao longo dos meses, e culminou num conteúdo exclusivo de quatro grandes debates neste mês de encerramento do Congresso, cujas atividades foram realizadas de 18 a 21 de julho e também puderam ser acessadas pelo canal do Youtube da Federação. Agora, toda a programação veiculada está acessível no repositório da plataforma oficial do congresso, onde permanecerá pelo período de dois anos.
Para Eleonora Mascia, o UIARio2021 conseguiu superar aquela que era uma das principais dificuldades impostas pela pandemia: reunir gente do mundo todo, proposta central do evento que deixou de ser realizado em 2020 em função da crise sanitária. “O tema do congresso (Todos os Mundos, um Só Mundo. Arquitetura 2021), decidido em 2017 em Seul, se encaixou exatamente com o momento em que estamos passando, especialmente no que se refere à vida das pessoas, no morar, no trabalhar e no viver nas cidades”, disse.
Eleonora elencou os temas dos debates produzidos pela FNA, todos muito voltados à própria atuação sindical da federação, como a live da mesa Mundo do Trabalho: Transformações no Espaço das Relações Contemporâneas, que abriu a sua participação no Congresso no dia 18/7. “Trouxemos convidados não só da arquitetura, mas especialistas que estudam a sociologia do mundo do trabalho. Foi um debate extremamente rico e amplo que reuniu, inclusive, profissionais de Portugal, onde está se criando um movimento de luta pelos direitos trabalhistas a partir de uma base ampliada, não só formada por arquitetos, mas pessoas de áreas afins”, pontuou.
Os mais de 85 mil participantes do Congresso puderam ainda conhecer um pouco da realidade da Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS) no Brasil e seus gargalos, uma bandeira permanente da FNA que foi abordada em todas as etapas do UIARio2021, de março a julho. “Realizamos uma ampla abordagem sobre a ATIHS, inclusive do ponto de vista do poder público. Tivemos a participação de nomes de gestores que têm uma longa vivência neste tema, a exemplo do arquiteto e urbanista e prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues, e do arquiteto e urbanista Flávio Tavares, em sua atuação na prefeitura de Conde (PB), assim como a participação de Inês Magalhães, ex-secretária Nacional de Habitação do antigo Ministério das Cidades, hoje, Ministério do Desenvolvimento Regional. Juntos, discutimos meios de tornar possível a implantação da assistência técnica a partir do poder público, como uma política pública permanente aplicada ao território”, afirmou.
De acordo com Eleonora, a pandemia acentuou problemas já existentes e deixou clara a carência das famílias brasileiras no que se refere à habitação digna. “Estamos diante de uma situação de extrema desigualdade, onde muitos estão sem casa e sem acesso à saneamento. E vale também registrar que nossa preocupação se estende também aos equipamentos públicos. As escolas, por exemplo, muitas sequer têm banheiro e estrutura adequada para receber seus alunos neste segundo semestre. Isso tudo precisa de um olhar diferenciado dos gestores público e, também, é papel de arquitetos e urbanistas que atuam em órgãos públicos”, destacou.
A presidente da FNA destacou ainda a produção do documentário inédito sobre a lei máxima que rege a política urbana no país: 20 anos do Estatuto da Cidade: utopia ou luta!, filme que trouxe depoimentos de pessoas que atuaram na articulação para a formação e criação do Estatuto da Cidade, em 2001. “Trata-se de uma lei de grande importância, pois é nosso principal pilar no que se refere à gestão urbana”, considerou. Em relação a esse tema, outra live que constou no congresso foi a que abordou a Cidade do Futuro, um debate que pontou os desafios da cidade que se planeja agora para se viver no futuro, mesmo diante de desafios como a correlação de forças entre as cidades a desregulamentação de leis e a simplificação de regras de gestão dessas cidades. “Soma-se a isso o desafio de fazer com que a revisão de Planos Diretores, que definem a estrutura urbana dos municípios, não acorram durante a pandemia.” Segundo ela, Planos Diretores precisam acontecer de forma participativa com a sociedade e é descabida a proposta de que pautas como essas avancem sob o pretexto da impossibilidade de participação presencial. “As cidades do futuro estão acontecendo hoje, e o que decidirmos agora vai impactar lá na frente”, afirmou a presidente da FNA.

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