Por Edinardo Lucas*
Esse pequeno texto tem como resultado uma necessária utopia. Após as eleições diretas (para os conselheiros) e indiretas (para presidente, vice e coordenações) do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e das suas unidades federativas, muito se falou de representação e futuras mudanças no regimento eleitoral – que, de fato, são necessárias. Mas a intenção aqui não é discuti-las e, sim, sonhar um pouco mais.
É pensar além, refletir sobre os conselhos profissionais. Essas autarquias funcionam para garantir segurança à população, na acepção mais ampla que possamos dar a essa palavra. Segurança contra possíveis acidentes, contra erros, irresponsabilidade profissional e até insegurança jurídica com possíveis contratos etc. De uma forma ou de outra, absorvendo uma responsabilidade que deveria ser do Estado.
As autarquias têm um modelo de gestão organizado e financiado diretamente pelos profissionais de determinada atividade. Os profissionais, por sua vez, se veem como donos – afinal, são eles que as financiam – destas estruturas. Essa visão obscurece o cenário e tira o foco da verdadeira função dos conselhos, que é garantir segurança na prestação de determinados serviços à população. Ações voltadas exclusivamente a garantir determinado nicho de mercado aos profissionais, ações corporativistas que deviam ser feitas por outras entidades, ações dos sindicatos começam a tomar a pauta dos conselhos. Aí chegamos onde estamos – dentro do nosso clube de arquitetos e urbanistas em uma franca batalha pela representação. Mas será que a sociedade que necessita ser amparada por morar mal em cidades carentes de planejamento urbano (construídas pelo próprio governo e também pelo mercado formal) se sente representada e acolhida nesses conselhos?
Nós, arquitetos e urbanistas, pouco conhecemos os anseios e necessidades da maior parte da população. Fazemos parte de um grupo muito pequeno com formação superior e salários razoáveis. Não representamos nem acolhemos a grande massa de trabalhadores brasileiros, ou alguém pensa que um indivíduo qualquer imagina que ao adentrar no CAU conseguirá respaldo para solução dos seus problemas. A análise e o julgamento do nosso exercício profissional é feito por representantes apenas da classe, ninguém que fale em nome da população. Somos os eleitos e excluímos quem não é.
Saímos do CREA com vontade de construir uma nova forma de organização e, para tanto, temos que começar a rascunhar um novo modelo que inclua, de fato, a sociedade. Enquanto a ligação entre o conselho e a sociedade não se estabelecer, não haverá a tão sonhada representatividade que garanta a proteção, segurança e construção de cidades mais humanas e para todos. Acredito que nós arquitetos devemos sair na frente e pautar uma mudança de modelo.
Mas, se conselho fosse bom…
*Professor UFG – Regional Goiás | FNA | CAU/GO