Um espaço bem projetado faz toda a diferença no aprendizado de crianças, principalmente em tempos de crise da educação. É pensando em qualificar ambientes destinados ao ensino que alguns profissionais dedicam-se a este segmento da arquitetura e urbanismo. Uma atribuição com metodologias específicas, além de elementos e funcionalidades que influenciam no desempenho de alunos e professores. Mundialmente, uma das referências sobre o assunto é o relatório Better Spaces for learning(Melhores Espaços para Aprender, em português), de 2017, desenvolvido pelo Royal Institute of British Architects (RIBA) com base em estudos e entrevistas nas escolas do Reino Unido. O estudo apontou que o impacto positivo e aumento da produtividade do ensino giram em torno de 15% quando os espaços são projetos de melhor forma.
De acordo com a professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Doris Kowaltowski, especialista em arquitetura escolar, a execução de obras como esta não depende necessariamente de um investimento alto de recursos mas sim da contratação de um bom profissional. “É preciso escolher alguém com capacidade de gerenciar o projeto. O ambiente precisa de mudanças, como conforto térmico, iluminação e acústica”, explica. Além destas modificações pontuais, existem questões como a escolha de móveis com rodas, para melhorar a dinâmica dos professores, e que, ao mesmo tempo, sejam confortáveis e bonitos para interesse da turma. Para Doris, autora do livro livro Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino, lançado em 2011, a aplicação do conceito na prática depende de especialização posterior à graduação, já que os profissionais não saem prontos da faculdade devido à falta multidisciplinaridade dos cursos de Arquitetura e Urbanismo.
Um dos projetos brasileiros de destaque no segmento é o da escola Beacon School, localizada no bairro Alto de Pinheiros, na cidade de São Paulo (SP), projetado pelos escritórios Base Urbana e Pessoa Arquitetos, e assinados pelos arquitetos e urbanista Catherine Otondo, Marina Grinover e Jorge Pessoa. O trabalho contempla 796 m² e o desafio de construir um ambiente escolar inovador em apenas 150 dias. Além do prazo curto, a obra foi realizada em 2015, ano em que a cidade de São Paulo vivia uma grande crise hídrica. “Todos os componentes foram pré-fabricados para fazer uma construção rápida e seca. A obra consumiu pouca água. Para nós, o projeto tem essa graça”, relembra Catharine.
Para a arquiteta, que tem forte atuação no segmento de arquitetura escolar, modificar esses ambientes é sempre um desafio. Entretanto, segundo ela, cada escola é uma escola, tem suas particularidades e demandas para serem atendidas. Por isso, é indispensável que o profissional que realize trabalhos com escola entenda a necessidade de despir-se de padrões pré-estabelecidos. Ao todo, a arquiteta e urbanista participou de cinco projetos do segmento e destaca a individualidade de cada um. Para ela, a metodologia pedagógica é um fator determinante para a “cara” do projeto.
“É sempre um desafio diferente, por isso é muito legal fazer escolas”, aponta. Mas, enfatiza, somente é possível atingir esse sucesso se a equipe de desenvolvimento estiver alinhada com a comunidade, ouvir suas demandas e entender a particularidade de cada ambiente.
Veja, abaixo, mais fotos do projeto da Beacon School: