Aplicativos avançam e são foco do sindicalismo contemporâneo

O avanço vertiginoso das plataformas e aplicativos traz ao mundo do trabalho novos e gigantescos desafios e exige transformações urgentes do sindicalismo. A necessidade de abrir uma ofensiva contra a precarização que se agrava foi tema do primeiro dia do Encontro de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas (ERSA) Sul. O evento, promovido pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) em Porto Alegre (RS), na sede do Sindicato dos Arquitetos do Estado do RS (Saergs), contou com lideranças de diferentes regiões do Brasil em um modelo híbrido.

Segundo a presidente da FNA, Eleonora Mascia, há uma grande preocupação com uma certa “naturalização da precarização das relações trabalhistas” que se estabeleceu nesse sistema de plataformização, modelo de contratação de trabalhadores em diferentes categorias, inclusive na área de arquitetura e urbanismo. “Como entidades sindicais, precisamos aprofundar o debate sobre as relações de trabalho sem direitos e garantias, que trazem uma sobrecarga de trabalho, com aumento do adoecimento físico e emocional”, ponderou. O ERSA Sul segue neste sábado (9/4) com debate sobre o projeto Trabalhadores Articulados em Benefício da Arquitetura (T.A.B.A) e troca de experiências entre os sindicatos da região Sul.

Representando a CUT no evento, Claudir Nespolo acredita que a ação em plataformas irá avançar nas diferentes profissões e que o movimento sindical deve se adaptar a essa nova realidade. “O grande empregador do século 21 é a plataforma. Esse é o desafio do movimento sindical contemporâneo”, observa. O dirigente alerta ainda que o trabalho em casa cria uma falsa noção de liberdade que, na verdade, “resulta em um problema de superexploração similar ao trabalho escravo”.

Nespolo ressaltou ainda que as eleições de 2022 abrem a possibilidade de resgate da pauta trabalhista suprimida desde 2016. “Nossa obrigação é apresentar uma pauta e conversar com os trabalhadores, trazer de volta esse movimento e avançar na luta”.

A necessidade de mobilização imediata foi reforçada na fala do economista do Dieese Ricardo Franzoi ao expor dados que confirmam a precarização do mercado de trabalho no Brasil. Levantamento divulgado pelo Dieese indica que, em 2016, havia 37 milhões de trabalhadores com carteira assinada e 32 milhões de trabalhadores sem. Apesar das promessas de fomento à formalização feitas para fundamentar a Reforma Trabalhista, a situação em 2021 foi oposta. Dados recentes indicam 34 milhões de profissionais com carteira contra 38 milhões na informalidade. “Esse ‘novo normal’ exigirá anos para ser recuperado”, lamentou.

Durante a reunião, o contador e consultor da FNA Valtuir Silveira apresentou plano de trabalho do Curso de Formação Sindical, que também conta com o ex-presidente da FNA Cicero Alvarez e o arquiteto e urbanista Bruno Mello. As oficinas de formação propostas pela FNA visam capacitar os dirigentes quanto à administração, gestão financeira e contábil dos sindicatos, num conjunto de atividades perpassadas pela formação política.

Cada módulo enfocará um tema, incluindo orientações para a manutenção da atuação sindical. Segundo o secretário de Formação Sindical da FNA, Danilo Matoso, as atividades formativas devem ter uma regularidade compatível com o cenário de renovação das diretorias dos sindicatos, “trazendo também a contribuição do acúmulo de trajetórias e experiências anteriores”.

A sessão contou ainda com o depoimento da ex-presidente do Saergs, Maria Teresa Sousa. Durante sua gestão à frente do Saergs, diferentes projetos foram executados com apoio do CAU, viabilizando a própria ação política do sindicato.

44 anos de Casa Amarela
A abertura do ERSA Sul foi marcada por confraternização e reverência à ação sindical no Sul do Brasil. Ao lado da presidente Eleonora Mascia, o presidente do SAERGS, Evandro Babu Medeiros, lembrou que o dia 8 de abril também marca 44 anos da vinda do sindicato gaúcho para a atual sede localizada na Rua José Bonifácio, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS). A história de lutas dos sindicatos foi relatada com emoção e fotos pelos arquitetos e urbanistas Newton Burmeister e Bruno Mello – autor do [livro comemorativo de 40 anos da FNA], com diversos documentos, depoimentos e narrativas. Emocionado, Burmeister – que é ex-presidente e integrante do Conselho Consultivo da FNA – se disse confiante de que as novas gerações darão continuidade a um trabalho focado no interesse público e na composição de cidades mais inclusivas, democráticas e de uma arquitetura para todos.

Foto: Carolina Jardine

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