A comunidade na tela: curtas-metragens do Projeto ArquiCine começam a ser apresentados

O Projeto Arquicine/Câmera Causa deu neste domingo (02/05) uma mostra da qualidade e da representatividade social das produções audiovisuais que vão estar presentes na tela do Congresso Mundial de Arquitetos – UIARio2021. Hoje foi dia apresentação dos primeiros curtas-metragens produzidos por estudantes e profissionais de arquitetura e urbanismo em conjunto com movimentos sociais de luta por moradia – foco dessa 15° atuação do Câmera Causa em parceria com a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e com a Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (FeNEA).

A apresentação dos trabalhos produzidos em um período que não ultrapassou uma semana foi feita de forma virtual – assim como todo o decorrer da oficina iniciada no dia 24/04 com os seis grupos inscritos. De lá para cá, os participantes foram munidos de informações teóricas e técnicas para retratar em vídeo feitos por celulares a realidade de comunidades de diversas partes do Brasil que lutam por moradia digna. A equipe do Câmera Causa, formada pelos cineastas Gustavo Spolidoro e Heitor Lucas Beal Sant’Anna, com o apoio de produção de Francisco Caselani, está à frente do projeto que conta com duas outras oficinas que terão suas apresentações em breve, ainda neste mês de maio. Neste domingo, foram apresentadas quatro produções audiovisuais produzidas por equipes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Outros dois curtas-metragens pertencentes a grupos desta primeira oficina serão veiculados nas próximas apresentações online.

O Assentamento 20 de Novembro, em Porto Alegre, abriu o projeto Câmera Causa, retratando a luta das famílias que buscam há 14 anos consolidar a ocupação localizada no 4° Distrito da capital gaúcha. ‘Assentamento 20 de Novembro – Resistência e Alegria’ utilizou o olhar das crianças sobre a rotina do assentamento, tendo como protagonistas as meninas Dandara (12) e Tainá (5), filhas da militante do MNLM Ceniriani Vargas da Silva, que está na luta da 20 de Novembro desde 2006. As dificuldades e os momentos mais marcantes se mesclaram a cena de uma carta, escrita por Dandara, na época com sete anos, no dia em que seria assinado contrato com a Caixa do projeto da 20 de Novembro. A cartinha escrita à mão dizia que ‘tinha participado de muitas reuniões para ter os papéis e ninguém mais tiraria a sua casa’.

De Santa Catarina, foi apresentado o projeto audiovisual sobre a ocupação Contestado e Vale das Palmeiras, na cidade de São José, região metropolitana de Florianópolis. O curta retratou a união de forças da comunidade para fazer valer a resistência diante da ameaça de despejos de famílias do Vale das Palmeiras. De acordo com Jefferson Maier, um dos integrantes do grupo, a comunidade da Contestado se organizou politicamente para fazer frente às ameaças iminentes contra as famílias do Vale das Palmeiras. A criação dessa rede de solidariedade entre grupos que lutam por uma mesma causa foi o foco da produção audiovisual do grupo, trazendo relatos de moradores sobre a situação precária em que se encontram, sobretudo em tempos de pandemia.
O terceiro vídeo exibido mostrou a realidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra Leste 1, de São Paulo, e sua luta pela construção/regularização de um conjunto de três empreendimentos que somam 700 unidades habitacionais, cuja organização ocorreu em 2014 quando houve a opção de compra do terreno e o início da organização da comunidade. Em 2016, segundo Bruno Cambuy, integrante do grupo, iniciou-se o projeto de autogestão, com a formação de mutirões e também a espera pelo contrato com o Minha Casa Entidades.

Por fim, o último vídeo mostrou as dificuldades vividas por famílias da Vila Cai Cai, em Porto Alegre, agravadas por um incêndio que em 8 de janeiro deste ano destruiu completamente sete barracos da comunidade. O curta sobre a Cai Cai relevou também a rede de solidariedade em torno das famílias atingidas, um trabalho realizado em conjunto com o coletivo Mãos e o escritório modelo de arquitetura e urbanismo Lugares. Segundo Aline Souza, estudante de Arquitetura e Urbanismo, foram organizados projetos de habitação para que as casas destruídas pudessem ser novamente levantadas.

As apresentações dos curtas foram acompanhadas pela equipe do Câmera Causa e por integrantes da diretoria da FNA e seus sindicatos. De acordo com a presidente da FNA, Eleonora Mascia, o projeto está tendo uma repercussão muito positiva junto a movimentos por moradia e deve ser estendido também a outras causas sociais. “A FNA é parceria de movimentos sociais e esse é mais um projeto que mostra o amadurecimento dessa relação que tem o arquiteto e urbanista como um agente nessa luta pela garantia de direitos’, disse. O secretário de Organização e Formação Sindical da FNA, Danilo Matoso, destacou que a iniciativa, além de empoderar e ampliar movimentos por moradia digna, tem o papel fundamental de fazer perpetuar na memória e na história a luta desses grupos, algo que muitas vezes acaba caindo no esquecimento por não estarem registradas de alguma forma.

Confira as próximas apresentações:

OFICINA 2

TERÇA-FEIRA  4/5

19h as 22h – alunos entregam vídeo final e sessão para equipes, professores e FNA com Debate;

QUARTA-FEIRA 5/5

18h as 22h – consultoria por grupos pra finalização total

 OFICINA 3

DOMINGO 23/05

9h às 13h – alunos entregam vídeo final e sessão para equipes, professores e FNA com debate
14h às 18h – consultoria por grupos para finalização total

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