Uma trajetória de luta pela moradia digna no Serviço Público

Autor: Bruna Karpinski, Assessoria de Comunicação da FNA

A afinidade com a área de habitação popular e o interesse pelo desenvolvimento urbano, aliados à participação sindical, atuação em entidades ligadas à profissão e movimentos sociais, fez com que a arquiteta e urbanista Eleonora Lisboa Mascia, 39 anos, trilhasse uma trajetória profissional diferenciada no serviço público. “Escolhi esse caminho porque me identifico com esta luta pela moradia digna, pelas políticas públicas, na organização e mobilização social”, relata. Em março de 2014, ela assumiu a Gerência Nacional de Entidades Urbanas (GEHUR) da Caixa Econômica Federal, vinculada à vice-presidência de Habitação (VIHAB), em Brasília. “Tenho consciência de que o momento que vivo hoje é muito importante. Tenho oportunidade de trabalhar com o movimento popular de todo Brasil, conhecer a diversidade na forma de pensar e conceber”, relata.

O setor foi criado em 2007 por uma reivindicação dos movimentos populares que atuam na luta pela moradia desde a década de 80. Eleonora conta que, juntamente com a Gerência Nacional de Habitação Rural (GEHAR), a GEHUR desenvolve um trabalho voltado para as entidades sem fins lucrativos que atuam na habitação. São cooperativas, associações, sindicatos de trabalhadores e organizações voltadas para a questão habitacional. “Com o apoio do poder público e de assessorias técnicas qualificadas, tem apresentado um trabalho enorme na mobilização social e na produção auto-gestionária da moradia”, relata.

Eleonora destaca que o trabalho com as entidades urbanas e rurais cresceu muito a partir do Programa Minha Casa Minha Vida 2 e a expectativa é que seja ampliado a partir de 2015. “De todos os projetos, sem dúvida, a implementação do Programa Minha Casa, Minha Vida, onde avançamos não apenas na escala de contratação, mas especialmente no desenvolvimento dos atores envolvidos com habitação no Brasil, foi o que me deu mais satisfação. Saímos de um período em que muito pouco era investido em habitação”, avalia.

Sua vivência profissional permite medir de perto esta mudança. “Hoje se realiza no crédito imobiliário em 10 dias úteis o que se realizava em um ano inteiro em 2002, e com grande parte voltada para as faixas de menor renda, onde está concentrado o déficit habitacional. É uma diferença muito grande, porque isso envolve conhecer mais da questão fundiária, desenvolver projetos melhores, com materiais de melhor qualidade, trabalhar o acompanhamento da qualidade no pós-ocupação, apoiar e desenvolver quem atua nas diversas etapas”, descreve. Para Eleonora, estas evoluções impactam diretamente na formação de uma base sólida para avançar na integração das políticas sociais, tendo a moradia como porta de entrada ao mundo dos direitos.

O ingresso e a atuação na Caixa Econômica Federal

A arquiteta e urbanista apaixonada por habitação popular avalia que hoje trabalha em uma Caixa “completamente diferente” da que conheceu há quase 15 anos, quando em abril de 2000, foi chamada após realizar o primeiro concurso externo para engenheiros e arquitetos da área de desenvolvimento urbano. Ela recorda que viveu o período de preparação da Caixa para a privatização, processo que foi revertido com a luta das entidades sindicais e do movimento popular.

“Acredito muito nos novos desafios. Estamos avançando nas políticas urbanas, temos um movimento forte pela cidade, Cidade para Todos. A crise da mobilidade, que gerou as jornadas de junho de 2013, e a crise da água em São Paulo/SP demonstram que é preciso pensar a arquitetura e o urbanismo com inclusão social. Nunca vivemos um período democrático tão longo no Brasil, aliado a um ciclo de desenvolvimento, por isso temos a oportunidade de avançar, fazer as reformas necessárias, inclusive a Reforma Urbana”, avalia. Para a arquiteta e urbanita, é a Reforma Urbana que vai garantir a cidade includente, solidária e que se desenvolve para todos.

Vida acadêmica

Formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1999, Eleonora fez especialização Lato Sensu em Recuperação de Áreas Degradadas. Nascida em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, logo depois de formada foi viver em Salvador, na Bahia, onde desenvolveu suas primeiras atividades profissionais. Chegando lá, trabalhou em escritórios onde teve a oportunidade de conhecer trabalhos importantes na arquitetura de prédios e espaços públicos, especialmente do arquiteto Assis Reis, referência na arquitetura moderna baiana. Atualmente mora e trabalha em Brasília, mas mantém sua morada no Nordeste.

Após assumir na Caixa em Brasília, em 2007, foi cedida ao Governo da Bahia, onde atuou na Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e na Casa Civil com os projetos de urbanização de áreas precárias do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Em 2011, assumiu a Superintendência de Habitação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. “Este período foi muito rico, pois foi possível fazer toda discussão da Política de Habitação e do Plano Estadual de Habitação e Regularização Fundiária do Estado da Bahia”, acrescenta.

Além do planejamento, Eleonora pode atuar na implementação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) naquele estado. Ela recorda que a Bahia foi o estado que mais entregou unidades nas faixas de menor renda, enfrentando o déficit histórico e desenvolvendo toda cadeia produtiva relacionada à produção habitacional. Em 2012, Eleonora concluiu Mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), defendendo a dissertação “Habitação para além da metrópole: a descentralização do Programa Minha Casa, Minha Vida na Bahia” (2009-2010).

Trajetória ligada à habitação popular

Em 15 anos de mercado, Eleonora sempre atuou no Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas da Bahia (SINARQ/BA) e no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Eleonora foi presidente da Associação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos da Caixa (ANEAC) de 2005 a 2007 e conselheira no Conselho Nacional das Cidades pela ANEAC, no segmento Entidades Profissionais, Acadêmicas e de Pesquisa, no período de 2006 a 2008.

A profissional avalia que a formação em Arquitetura e Urbanismo sempre foi muito importante em sua trajetória profissional. “Ainda na faculdade fui buscar informações sobre o histórico da habitação popular e de que forma o arquiteto e urbanista atua não apenas no projeto da unidade, mas em toda concepção de projeto, legalização, regularização fundiária, proposta de parcelamento e inserção urbanística”, recorda.

Satisfeita em atuar no poder público e em uma instituição diretamente relacionada às políticas urbanas como a Caixa, ela celebra a chance de acompanhar de perto questões que movem a sua vida profissional. “Me abriu muitas oportunidades de desenvolvimento, capacitação na área e compartilhamento do que aprendi, com todos que nos relacionamos”, relata.

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