Selo Verde nas construções avança lentamente no país

Na onda verde de consumo, as certificações sustentáveis dentro da construção civil estão ganhando espaço nos canteiros de obras. Dados da Green Building Council (GBC Brasil) colocam o Brasil na quinta posição mundial em número de certificações Leadership in Energy and Enviromental Design (LEED), certificado que atesta eficiência energética, hídrica e de emissão de gases estufas.

No ano passado, somente o LEED certificou 581 projetos em um universo de 1.172.624 registros de responsabilidade técnica (RRTS) emitidos, o que sinaliza que menos de 0,049% dos projetos nacionais estão dentro das regras estabelecidas pela certificação. Apesar disso, o Brasil está atrás apenas dos Estados Unidos, com 2.404 projetos certificados no ano de 2019; China, com 668; Canadá, com 453; e Índia, com 193. As certificações ambientais foram criadas com o objetivo de conduzir a construção civil a adquirir melhores práticas, como o uso racional de materiais, energia e água e minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. Para entrar no meio das construções sustentáveis e obter os selos, é preciso saber que todos os tipos de certificações exigem o critério de energia autossustentável.

Os desejos desses novos consumidores vêm ditando o fazer arquitetura. Segundo o vice-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), Ormy Hütner Júnior, a tendência é que as novas edificações sigam cada vez mais o modelo sustentável e, para isso, é necessário ter certificações que comprovem a autenticidade das informações. Assim, a exigência de profissionais especializados na área tende a crescer.  Segundo Hütner, uma dica para quem pretende iniciar no segmento é fazer uma especialização voltada a construções sustentáveis e eficiência energética, uma vez que a graduação não fornece o conhecimento necessário na área. Para o futuro, prevê o arquiteto e urbanista, essa não será uma especialidade, mas uma necessidade de todos os profissionais. Atualmente, indica ele, projetos verdes agregam mais do que consciência ambiental. Edificações construídas com boas práticas de recursos naturais também significam valor agregado às edificações certificadas, apesar de “a lógica” da sustentabilidade ser o grande retorno.

Uma premissa á clara: um bom projeto arquitetônico já deve ser naturalmente sustentável independentemente da certificação. Isso quer dizer que está ao alcance de todo profissional adotar uma lógica coerente, independentemente do pedido do cliente. Um exemplo é valorizar a iluminação natural de forma a maximizar recursos do ambiente ao redor. E fazer isso muitas vezes não requer grandes investimentos. Hutner Júnior conta que a partir de simulações lumínicas é possível analisar o nível de iluminância e verificar se determinados ambientes atendem minimamente a NBR 15.575 e assim, conseguem manter suas atividades sem a necessidade de iluminação artificial. A iluminação natural é responsável ainda por controlar o sistema circadiano e, assim, garantir sua presença em ambientes de longa permanência durante o dia é fundamental para a saúde de seus usuários.

Os painéis solares permitem a produção de energia renovável de forma mais limpa e barata.

Mas certificar uma obra com selo verde não é tão complexo quanto pode parecer. Existem empresas especializadas que prestam consultoria nessa área. Uma delas é a Petinelli – Soluções em Green Building.  Conforme explica a arquiteta e urbanista Sandra Pinheiro, que atua na Petinelli, a escolha do melhor selo depende da edificação e do objetivo do investidor. Além da LEED, existem outras duas principais certificações que são utilizadas no Brasil. A Aqua avalia 14 categorias separadas em base, boas práticas e melhores práticas. Para obter o selo, é necessário ter um perfil que contemple, ao menos, sete categorias no nível base, quatro no nível boas práticas e três no nível melhores práticas. Outro selo é o Casa Azul, criado pela Caixa com o objetivo de incentivar o uso racional de recursos naturais, redução de custos de manutenção e despesas dos usuários nos empreendimentos habitacionais. São 53 critérios divididos em seis categorias: qualidade urbana, conforto, eficiência energética, conservação de recursos naturais, gestão de água e práticas naturais.

Escritório Pioneiro

A demanda de projetos verdes pode ser uma sugestão do profissional de arquitetura e urbanismo, mas geralmente surge dos clientes. Além de consciência, pode ser uma questão de economia e até boa ferramenta de marketing. Um cliente que fez questão de certificar sua edificação foi o grupo De Paola e Panasolo Sociedade de Advogados, um dos primeiros escritórios de advocacia no Brasil a obter o Selo Verde. Segundo o advogado Alessandro de Panasolo, o escritório, que atua na área de Direito Ambiental, decidiu por certificar a obra por ter a sustentabilidade como um dos seus pilares e pelo ganho econômico que a instalação dos painéis de captação da luz solar trouxe. De acordo com Panasolo, o valor da conta de luz chegou a diminuir em 80%.

Painéis solares do escritório de advocacia De Paola e Panasolo

Conforme afirma Hünter, apesar do mercado crescente, ainda existem algumas dificuldades culturais, políticas e de mão de obra escassa na realização de projetos sustentáveis. Contudo, Sandra Pinheiro afirma que o mercado se adapta rapidamente às mudanças. Com o apoio de novas tecnologias e uso de softwares de simulações energéticas ou de iluminação, é provável que projetos com comprovação de desempenho ambiental e viabilidade econômica se tornem uma regra e não uma exceção.

Texto: Flávia Simões
Fotos: Romano Zanlorensi

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