Nascido dentro do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Mato Grosso do Sul (Sindarq/MS), o projeto Casa Eco Pantaneira foi uma das inspirações da mesa de encerramento do Seminário Nacional FNA de Arquitetura e Urbanismo, promovido em conjunto pela FNA. Apesar de virtual, o debate foi ambientado na região pantaneira e em suas dificuldades. A presidente do Sindarq/MS, Iva Carpes, abriu o debate apresentando o projeto, que teve início efetivo em 2023 e tem entre suas conquistas o convencimento do poder público sob o poder de transformação do arquiteto e urbanista na comunidade local. “Esta não é uma profissão para atender os ricos, mas a todos”, completou a arquiteta e urbanista e professora Andrea Naguissa Yuba, uma das idealizadoras da ação.
Composta por meio de parceria entre o Sindarq/MS e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), Ecoa (Organização Não-Governamental), Secretaria de Patrimônio da União (SPU), Prefeitura de Ladário e Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD), a Casa Eco Pantaneira é uma ação de Athis rural que criou projetos personalizados para comunidade ribeirinha de Baía Negra, em Ladário (MS). Com o apoio do Projeto Minha Casa Minha Vida, a perspectiva é que efetive-se melhorias em 15 habitações de forma individualizada e consciente.
Andrea Naguissa explicou que o foco são casas de mais qualidade, mais identidade e menor impacto ambiental. A ação integra 20 projetos de reforma 10 de reconstrução e também preocupa-se com a capacitação dos profissionais em Athis, uma demanda urgente na região.
Ela explicou que a ideia é evitar demolição e a expansão de área construída para reduzir o impacto ambiental e, ao mesmo tempo, qualificar as condições de habitação para as famílias da região. No trabalho, ela cita a apropriação de técnicas regionais de construção, preocupação com a redução da compactação de solo e uso de materiais naturais como a madeira e o bambu.
Na linha de frente da Casa Eco Pantaneira, a arquiteta e urbanista do Ano 2024, Bianca Tupikin, falou sobre a lida diária na comunidade, os desafios e conquistas obtidas em mutirão. “Tentamos focar no regionalismo e no que tinha de materiais disponíveis. E o mutirão foi essencial. As pessoas se juntaram para concluir a obra.”
Um dos momentos relevantes do debate foi a abertura feita pelo o vice-presidente da FNA, Maurilio Chiaretti. Com palavras fortes, ele criticou o desmonte dos sindicatos e explicitou o momento difícil pela própria plataforma do encontro sindical deste ano que, ao invés de presencial em uma capital do Brasil, ocorre em sistema virtual. Apesar das dificuldades, Chiaretti tem esperança em um tempo de reconstrução. “Para que possamos superar os danos causados pelo negacionismo e trabalhar pela organização dos trabalhadores”.
Fala importante também foi feita pela arquiteta e urbanista Bruna Bispo, do Instituto Pólis, que desenvolve trabalho junto a coletivo de energia solar. A profissional trilhou carreira ao lado de movimentos populares em ações de Athis. Segundo ela, o meio urbano e o meio rural não podem andar separados. “Os eventos extremos estão se tornando corriqueiros. Precisamos conectar essas duas dimensões se quisermos modificar nossos ambientes”, frisou, lembrando pesquisa recentemente divulgada que indica que 7 de cada 10 pessoas já sofreram efeito extremo associado a eventos climáticos.
Bruna disse que o trabalho do coletivo está focado em duas frentes. A primeira associada às mudanças climáticas e seus impactos na sociedade. A segunda refere-se à pobreza energética que limita parte das famílias à aquisição de bens e direitos. “36% das famílias usam metade ou mais da metade de sua receita em energia ou compra de gás”, informou. Conforme a profissional, os movimentos de luta pela moradia são essenciais para esse trabalho de eficiência energética.
Para conferir a mesa na íntegra acesse o YouTube da FNA: https://www.youtube.com/watch?v=IJEg9jCjbes.