Olhar brasileiro na cidade luz

Leticia Szczesny/ Imprensa FNA

Às vezes, para realizar sonhos pessoais ou viver aquilo que se almeja profissionalmente, é preciso arriscar, fazer as malas e voar alto. Foi o que fez a arquiteta e urbanista Mylena Ziemann, 27 anos. Depois de algumas escalas, a parada final da jovem catarinense foi na charmosa e romântica cidade luz, Paris (FR). Há três anos morando na capital francesa, atualmente, ela faz Master Recherche, o que equivale ao mestrado no Brasil, em História da Arquitetura na Sorbonne Université – Universidade de Paris. Experiência que compartilha em seu perfil no Instagram (@myemparis) e em seu canal no YouTube para inspirar e encorajar jovens e adultos que desejam estudar fora de seu país de origem.

Formada em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Mylena desembarcou pela primeira vez na França em 2014 quando morou um ano em Lille, no norte do país, através do programa Ciência sem Fronteiras. Durante o período de intercâmbio, estudou na Escola Nacional Superior de Arquitetura e Paisagem de Lille. Em 2018, a jovem retornou ao país com um visto férias-trabalho. “Esse visto é válido por um ano, e eu tinha a intenção de fazer mestrado. Então, em setembro de 2019, comecei a estudar e continuei a trabalhar no escritório de interiores paralelamente”, explica. A arquiteta e urbanista conquistou o visto de estudante para morar no país em 2019.

A formação em Arquitetura na França se resume em três anos de licença, dois anos de master e mais um ano de uma formação necessária para assinar projetos, chamada HMNOP. “Existem as escolas nacionais superiores de arquitetura e também as escolas de design que formam arquitetos de interior, que não podem assinar projetos”, detalha. No caso do master, os estudantes têm a opção de cursar o Professionnel ou o Recherche. O primeiro, de acordo com Mylena, é uma especialização na área profissional que a pessoa deseja seguir. Já o segundo, o qual a jovem cursa, é voltado para a pesquisa. A média de preço para cursar a licença é de € 300/ano e para o master é de € 500/ano em escolas de arquitetura.

Crédito: Mylena Ziemann

Apesar de estar há mais de 9 mil quilômetros de sua cidade natal, São Bento do Sul (SC), a jovem segue, de certa forma, perto dela. Isso porque, em sua dissertação, Mylena está analisando a evolução da arquitetura da cidade. “Ela foi fundada como colônia agrícola europeia, principalmente por imigrantes alemães e poloneses. Sofreu uma descaracterização na Era Vargas e a partir de 1970 foi iniciada uma campanha de “regermanização”, seguindo o que vinha acontecendo em outras cidades que foram colônias europeias também”, afirma.

É com História da Arquitetura, área que estuda atualmente, que Mylena mais se identifica. Esse, inclusive, é um dos assuntos que ela leva, através da lente de seu celular, a 8,9 mil pessoas que a seguem em sua conta no Instagram por meio de lives e vídeos. Um desses conteúdos é a série “Monumentos em Paris”. Inspirada no filme Julie & Julia, a jovem deu início ao projeto em 2019. “Eu já estava em Paris há um ano e ainda não conhecia nem metade do que gostaria. Mostrava a história de alguns monumentos e os passeios que eu fazia no Instagram e recebia um feedback positivo. Então, achei que a ideia de criar um quadro semanal com os monumentos de Paris seria interessante tanto para as pessoas que já assistiam quanto para mim. Assim, a cada semana, conheceríamos juntos um lugar e uma história diferente”, explica. Os vídeos são feitos em ordem cronológica, começando pela Idade Média, Renascimento e Neoclassicismo. No entanto, com a chegada da Covid-19, a série precisou ser pausada. “Infelizmente tive que parar no Ferro e Vidro por causa da pandemia, mas espero poder terminar a sequência logo”.

Além disso, Mylena utiliza a rede social para dar dicas a quem deseja estudar na França ou até mesmo em outro país europeu. Ela compartilha um pouco da sua rotina na cidade luz e leva, através de lives, seus seguidores para conhecer pontos turísticos como, por exemplo, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e a Catedral de Notre Dame, que é o seu favorito em Paris por conta da história, dimensão, resistência e imponência. “Toda vez que eu a visitava, ficava maravilhada e achava algum detalhe que não tinha visto antes. É uma das obras mais emocionantes que eu já visitei”, ressalta. A jovem também produz conteúdo para os perfis Brasileiras na França (@brasileirasnafrança), Um Rolê – Arte&Arquitetura (@_umrole) e faz bordados que são enviados tanto no Brasil quanto na Europa pela Clementina (@oiclementina). “Hoje em dia, tudo e todos estão na internet. É uma forma de ser visto, lembrado e também de compartilhar e desmistificar informação”.

Como chegar lá
Mas afinal, o que é preciso para estudar ou trabalhar na França? Segundo Mylena, o país é muito aberto para receber estrangeiros, principalmente nas universidades. Tanto que, nos últimos anos, os valores para estudantes estrangeiros cursarem master mudaram, mas a maioria das universidades, de acordo com ela, não acatou essa mudança. No entanto, mais importante do que ser “bem recebido” pelos franceses, é saber falar a língua deles. Por isso, se você pensa em ir estudar ou trabalhar lá, é importante priorizar o conhecimento da língua francesa. Além, é claro, de ter toda a documentação necessária, como o visto.

Outra dica importante da arquiteta e urbanista é ter força de vontade. “Ir atrás e pesquisar. Existe muita informação na internet. Quero continuar compartilhando as minhas experiências e de outras pessoas para facilitar o acesso a essas informações, que eu sei que muitas vezes são confusas”, declara. Para Mylena, é preciso acreditar que é possível. “Se a gente não acreditar e ir atrás dos nossos sonhos, quem vai?”.

O mercado de trabalho
Na França, Mylena trabalhou como Arquiteta de Interior Júnior em dois escritórios de arquitetura. Um de interiores com foco em projetos residenciais de luxo e o outro com atuação em projetos comerciais de grande escala na França/Europa e no mundo. Uma experiência, segundo ela, enriquecedora. “Ampliou meus conhecimentos sobre os modos de construção e sobre os materiais, que são diferentes do Brasil, de organização, de autorização de projetos e etc. E foi interessante ver que o ‘jeitinho’ também existe na França. Não é exclusivo do brasileiro, é do ser humano (risos)”, conta.

Do ponto de vista da arquiteta e urbanista, a profissão é mais valorizada e reconhecida na França do que no Brasil. “Na área do patrimônio, por exemplo, existem os Architectes de Bâtiments de France (Arquitetos dos Edifícios da França), que são os arquitetos do Estado responsáveis pelos monumentos históricos tombados ou em inventário. Nada pode ser feito sem autorização e supervisão deles”, exemplifica. No entanto, há algo em comum entre os dois países. Em ambos, de acordo com Mylena, Arquitetura e Urbanismo é uma profissão mais elitizada. “É muito comum aqui (na França) a classe média fazer o próprio projeto de reforma na casa, inclusive colocando a mão na massa mesmo. Eles compram os materiais e fazem eles mesmos, se possível”, relata.

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