O Espaço Cultural da Comunidade de Remanescentes do Quilombo Toca Santa Cruz comemora um ano em 2024 após muita luta e ações de fortalecimento comunitário. O espaço, localizado no município de Paulo Lopes (SC), situado a cerca de 40km da capital catarinense Florianópolis, é composto por 62 famílias organizadas em quatro núcleos familiares.
O projeto é uma iniciativa do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Santa Catarina (SASC) que, fomentada em 2021 por meio de patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), é voltado à Assistência Técnica em Habitação de interesse Social (ATHIS) e explica o papel da arquitetura nos movimentos sociais.
O espaço coletivo criado representa o resgate e valorização da cultura, da história e das tradições de comunidades quilombolas. Erguido a muitas mãos, é o resultado da contribuição do Movimento Negro Unificado (MNU), Laboratório de Urbanismo (LABURB/UFSC) e Laboratório de Projetos da Universidade Federal de Santa Catarina (LabProj/UFSC).
Segundo Daniela Accorinte Lopes, conselheira fiscal titular do SASC, o projeto surgiu da proximidade com o curso de Arquitetura e o Movimento Negro Unificado de Santa Catarina. “Durante o projeto de extensão da universidade, foram realizados projetos de moradia junto ao Movimento, nos quais fui envolvida como profissional, assim como o Sindicato enquanto instituição para isso: tanto para a publicação sobre o processo de construção de moradias quanto para a construção da escola, o que me foi muito gratificante.” A publicação, chamada ATHIS na prática: O caso da Toca Santa Cruz, pode ser lida na íntegra clicando aqui.
Projetos como o realizado na comunidade redefinem o papel da arquitetura, ampliando as criações da comunidade quilombola ao longo do tempo, conectando história e cultura. A habitação social, assim, assume a função de garantir direitos, que refletem em mudanças no presente e no futuro que segue sendo construído.
“As mudanças são visíveis, principalmente quanto à construção das casas. Muitas das casas foram construídas para descendentes, para a nova geração que havia saído do quilombo, que foram para cidade e muitos deles acabaram retornando para viver lá a partir das construções das moradias”, adiciona Daniela.
Para Andréa dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), “garantir o direito à moradia e a ocupação do território é também garantir a autonomia dessas comunidades, o reconhecimento, a consolidação e a maior visibilidade das comunidades quilombolas”.
De acordo com a conselheira do Sindicato catarinense, a nova geração, muito ativa politicamente, foi uma das condições que criaram a necessidade de construção da escola para educação quilombola.
Muitas das moradoras que lá vivem são pedagogas, professoras e a própria presença dessa infraestrutura motivou o acontecimento de vários eventos culturais, cursos e realizações de projetos sociais de cinema, entre outras manifestações culturais, sendo um marco na habitação social do município, como reforça Daniela:
“A habitação social se insere da seguinte forma: somente a terra não era suficiente para segurar as novas gerações, os mais jovens estavam se mudando e se expandindo para a cidade. Então, a habitação fez com que fosse possível residir lá. A moradia acabou trazendo a possibilidade de luta pelos outros direitos, a possibilidade de socialização e também da própria educação quilombola.”
Foto: Ana Cartana/SASC