As vigas de aço de um elevado gigantesco que começou a ser demolido no rio desapareceram dentro de um depósito, apesar de pesarem toneladas. Elas foram produzidas com uma liga especial para durar séculos e valem milhões. A descoberta o roubo foi feita pelo repórter André Trigueiro
Será uma das maiores demolições da história do Brasil. Até 2016, os mais de cinco quilômetros do Elevado da Perimetral, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, vão desaparecer do mapa. O projeto de revitalização da área prevê a construção de túneis subterrâneos por onde vão passar quatro mil veículos por hora.
Construído na década de 70, o Elevado da Perimetral consumiu 26 mil toneladas de aço, quantidade suficiente para fabricar, por exemplo, 50 mil carros populares.
E não é um aço comum: as mil vigas que dão sustentação ao elevado foram especialmente fabricadas para resistir à corrosão. É um material extremamente resistente, feito para durar séculos, conhecido como aço corten, um produto nobre da siderurgia, que alguns especialistas se recusam a chamar de sucata.
A mistura de aço, nióbio e cromo foi feita para durar no mínimo 400 anos, apesar da maresia e da carga pesada de veículos. Já se passaram 35 anos, e as estruturas ainda parecem novas.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio, há um tesouro escondido nos futuros escombros da Perimetral. “Se nós levarmos em consideração que aquele material, com 10% da vida útil, vale 45% do seu valor quando novo, nós teríamos um valor de R$ 400 milhões”, ressalta Jacques Sherique.
O local indicado pela prefeitura para abrigar as primeiras seis vigas retiradas da Perimetral só tem lixo e entulho. Fernando Dias viu chegar, mas não viu sair. “Peça daquela não pode sumir. Foi alguém que levou para algum lugar porque são muito grandes as peças”, afirma o carreteiro.
Na terça-feira (8), no fim da noite, a prefeitura enviou a seguinte nota: 18 vigas de 40 metros de comprimento e 60 centímetros de largura, cada um com peso de 20 toneladas, foram retiradas de três rampas do Elevado da Perimetral, desde janeiro. Dessas 18, 12 foram reutilizadas.
Ainda segundo a nota, as restantes eram armazenadas no terreno visitado pela reportagem do Bom Dia Brasil. E que, só na terça, ao acompanhar a equipe, foi constatado o furto das vigas.
A nota termina informando que a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro deu início a uma investigação para recuperar o material e punir os responsáveis.
A companhia municipal que administra o projeto pretende vender o aço em leilões ainda sem data marcada. Parte do aço poderá também ser usada em obras da prefeitura.