Ele ainda era garoto quando, desafiado por um amigo, resolveu captar algumas imagens da cidade de São Paulo para a produção de um vídeo em Super 8. A tarefa fez Nabil Bonduki, na época com 15 anos, descobrir nas edificações da capital paulista a inspiração da poesia de Mário de Andrade e um caminho profissional a seguir. Era o que faltava para contrariar a vontade do pai de ver o filho engenheiro e lançar-se na Arquitetura para uma carreira entrelaçada entre a política, a vida acadêmica e a consagração como escritor.
Confiante de que ainda há muito a fazer em se tratando de política pública no Brasil, Bonduki se mantém sempre firme neste propósito. Com participação na elaboração de projetos que escreveram a história da habitação no Brasil, o vereador da cidade de São Paulo está em pleno segundo mandato e garante que sua experiência como gestor ajuda a carreira de professor e vice-versa. “Aproveito a experiência de urbanista para atuar na Câmara em ações como o Plano Diretor da cidade de São Paulo”, pontua.
A carreira de Bonduki foi forjada na Escola de Belas Artes de São Paulo, onde deu início aos estudos sobre habitação e periferia com foco em sociologia urbana. “Naquela época, havia um grupo que achava que ia mudar o mundo fazendo projeto e outro que achava que ia mudar o mundo fazendo política. Eu queria discutir a política e estudar as cidades do ponto de vista social e econômico. O que me diferenciou foi trabalhar com a periferia. Comecei a pensar a intervenção do arquiteto de uma forma diferente”, relembra ele durante entrevista no lounge do hotel Holiday Inn em Cuiabá (MT), onde participou do 38º Ensa.
Após a formatura, Bonduki tornou-se professor e recebeu um dos grandes desafios de sua carreira: criar o Laboratório da Habitação. Inovador, o projeto buscava exatamente entender os bairros periféricos e intervir neles de forma prática e criativa. Tais projetos eram vistos como alternativa às ações praticadas pela COHAB e pelo BNH.
Protagonismo que não fez sombra à atuação sindical. Em paralelo ao trabalho acadêmico, Bonduki foi eleito presidente do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP) para gestão 1987/89. Na mesma época, começou a atuar no Partido dos Trabalhadores (PT) com assessoria para elaboração de planos de governo. Em 1988, com a eleição de Luiza Erundina, foi nomeado superintendente de Habitação Popular, encarregado da montagem de programas alternativos e da interlocução com os movimentos sociais. Foi nessa época que deu início a programas inovadores como o Mutirão com Autogestão, a Urbanização de Favela e a Habitação em Centro. No governo Lula, coordenou a equipe técnica que trabalhou no Plano Nacional de Habitação. Também ajudou a desenvolver o Projeto Moradia, base do programa de governo que gerou o Ministério das Cidades.
Escrevendo a História
Estudioso dos assuntos relacionados à habitação popular no Brasil, Bonduki lançou, no final deste ano, uma obra em três volumes intitulada Os Pioneiros da Habitação Social. A série reúne um trabalho de pesquisa de 17 anos. Apresentando documentação inédita e uma análise original, é a mais ampla e completa publicação sobre habitação social já realizada no país.
A obra foi alvo de sua tese de dourado realizada na Universidade de São Carlos, onde também leciona, e de pesquisas iniciadas ainda durante o mestrado. O volume 2 conta com apoio da arquiteta Ana Paula Koury e o 3 reúne 11 projetos significativos analisados em profundidade pela equipe de pesquisadores coordenada por Bonduki.
Aos 59 anos, o arquiteto paulistano planeja novas viagens ao lado da esposa Isabel. Do casamento de mais de 30 anos, o arquiteto teve dois filhos (Manuel e Inês) e uma neta. A caçula formou-se arquiteta e trabalha com fotografia. Ao lado do pai, assinou a edição de imagem da trilogia e, inclusive, algumas fotos aéreas que ilustram a obra.
Plano Diretor de São Paulo
O novo Plano Diretor de São Paulo teve contribuição significativa do arquiteto paulista. Fruto de um processo de muita participação, o texto teve Bonduki como relator na Câmara de Vereadores. “Fizemos um amplo processo de participação. Foram 45 audiências públicas entre outubro e dezembro de 2013. Em março de 2014, a Câmara aprovou o substitutivo e, em abril, colocamos o texto em votação. Foram nove meses de muito trabalho”, pontuou.
O projeto foi sancionado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 31 de julho de 2014. Segundo Bonduki, o novo Plano Diretor torna autoaplicáveis instrumentos do Estatuto das Cidades. Entre as ações, está a adoção do coeficiente 1 para a cidade inteira, o Imposto progressivo e a liquidação compulsória de prédios ociosos.
Confira as reportagens publicadas anteriormente:
>>> Apresentação da campanha O Arquiteto faz e também faz