Foi ocupando espaços em luta pela democracia que arquitetos e urbanistas de todo o Brasil colocaram em prática, logo na abertura do 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos (21º CBA), o slogan proposto para o evento, que segue até sábado (12/10), em Porto Alegre (RS). O Auditório Araújo Viana, no coração do bairro Bom Fim, foi palco de uma cerimônia emocionante que começou com apresentação da Orquestra Sinfônica Villa-Lobos, seguiu com homenagens a grandes nomes da arquitetura brasileira e terminou com palestra da professora da USP e coordenadora do BR Cidades, a inspiradora Ermínia Maricato.
O arquiteto e urbanista Clóvis Ilgenfritz, ex-presidente da FNA e do Saergs, foi o agraciado da noite ao receber o prêmio máximo concedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB): o Colar de Ouro. A honraria foi entregue pelo presidente do IAB, Nivaldo Andrade, e pelo presidente da FNA, Cicero Alvarez, aos filhos do profissional, que não pode integrar a cerimônia. “É uma honra participar desse momento ímpar em que se reconhece a trajetória de um profissional que tanto fez pela profissão, pela população e pelas cidades brasileiras”, pontuou Cícero Alvarez ao lembrar da participação de Ilgenfritz desde a ATME até a Lei da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (Athis).
Em nome do pai, o arquiteto e presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann, fez agradecimento aos colegas, em especial aos dirigentes da FNA, do Saergs e IAB, que estiveram ao lado de Clovis nos anos de luta incansável pela implementação de assistência técnica no país. “Ele também agradece a todos os colegas que estão sonhando juntos a assistência técnica para transformar em realidade esse projeto. Quando todos sonham juntos fica sempre mais fácil de realizar”, disse.
Além das inúmeras citações em reverência ao arquiteto recém falecido Demetre Anastassakis, o IAB também prestou homenagem à arquiteta e urbanista Briane Bicca, que da seu nome ao 21 CBA. Seu esposo, o também arquiteto Paulo Bicca, recebeu a escultura ao lado dos filhos das mãos do presidente do IAB/RS, Rafael Passos. “Estar aqui é um misto de alegria, por essa homenagem, e tristeza por não ter mais Briane entre nós. Mas que prevaleça a primeira”, disse.
Ao alternarem-se na tribuna durante a abertura do congresso, lideranças ressaltaram as dificuldades da conjunta política e lembraram dos revezes que a profissão vem sofrendo no Brasil. Emocionado, Passos lembrou dos caminhos que se fecham para a democracia e convocou os colegas a envolverem-se no “fazer política”. “Somos arquitetos e urbanistas, mas antes somos seres políticos. Como dizia nosso homenageado Clóvis Ilgenfritz, quem não faz a política, sofre a política dos demais”. Presente na mesa de abertura do congresso, o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, lembrou que assistência técnica em habitação é um direito do cidadão assim como saúde e educação. “A habitação popular não pode ser reduzida à simples construção em massa de moradias. É um bem maior, que passa pela escolha de local adequado, que deve ser dotado de transporte, escola e saúde”.
Representando o governador Eduardo Leite, o secretário de Obras e Habitação do Estado, José Luiz Stédile, informou que o governo está realizando um Censo das Habitações irregulares no Rio Grande do Sul. Segundo ele, nas cem maiores cidades gaúchas há 3.850 loteamentos irregulares, um trabalho que não visa retirar as famílias que habitam esses locais. “Se o governo não oferece condições melhores e dignas não podemos mexer”, garantiu, defendendo a realização de mutirões de regularização que congreguem profissionais, poder público e as famílias em busca de dignidade. Ao encerrar a solenidade e declarar aberto do 21º CBA, Nivaldo Andrade lembrou dos ataques que a profissão vem sofrendo, incluindo o ensino de Arquitetura e Urbanismo. “A ordem é desqualificar o ensino superior, asfixiando as universidades. Nosso papel é criar cidades mais democráticas”, conclamou.
Crédito: Carolina Jardine